A Guerra do Paraguai foi reflexo da consolidação das nações da Bacia Platina (Argentina, Uruguai, Brasil e Paraguai) e resultou em enorme destruição e grande saldo de mortos. Conflito de maior duração e proporção de toda a história da América do Sul, a Guerra do Paraguai foi um grande divisor de águas para todos os países envolvidos.
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Causas da Guerra do Paraguai
Diferentemente do que se pensava décadas atrás, as causas da Guerra do Paraguai não se relacionavam ao imperialismo da Inglaterra, pois estudos recentes, realizados a partir de comprovação documental, mostraram que esse conflito foi resultado do processo de formação e consolidação das nações da Bacia Platina.
Esse trecho citado baseia-se em novos estudos que atualmente são considerados a última palavra na historiografia da Guerra do Paraguai. Para mais informações sobre as causas da Guerra do Paraguai e as questões relacionadas a essa historiografia, leia: Causas da Guerra do Paraguai.
Videoaula sobre a Guerra do Paraguai
Principais acontecimentos da guerra
Os primeiros atos de agressão relacionados ao início da Guerra do Paraguai foram o aprisionamento de uma embarcação brasileira (Marquês de Olinda), que navegava pelo rio Paraguai em direção a Cuiabá, e a invasão do Mato Grosso (atual Mato Grosso do Sul), ocorrida em 26 de dezembro de 1864. O ataque paraguaio ao Brasil foi uma represália à invasão do território uruguaio, conduzida pelo governo brasileiro em favor dos colorados e contra os blancos (aliados de Solano López).
A ocupação paraguaia no Mato Grosso foi conduzida por 7.700 soldados, que derrotaram facilmente as fracas forças de defesa dessa região (875 militares do Exército e 3 mil membros da Guarda Nacional). Esse território continuou sob posse paraguaia até meados de 1868, principalmente devido à dificuldade de acesso ao Mato Grosso. Naquela época, o único caminho para essa província consistia na navegação dos rios da Bacia Platina.
Em seguida, as forças de Solano López foram encaminhadas em direção ao Rio Grande do Sul e ao Uruguai. Solano enviou milhares de soldados para o Uruguai com o objetivo de socorrer os blancos na guerra contra o Brasil e os colorados. Para isso, solicitou passagem por Corrientes para Mitre, presidente argentino.
Mitre, que era aliado dos colorados na Guerra Civil Uruguaia, negou o direito de passagem às tropas paraguaias. Como consequência, Solano López declarou guerra à Argentina e invadiu Corrientes. Essa declaração de guerra ocasionou o surgimento da Tríplice Aliança, formada por Brasil e Argentina, juntamente com colorados uruguaios, para lutar contra os paraguaios. Essa aliança foi formalizada em 1º de maio de 1865.
A ofensiva paraguaia no Rio Grande do Sul e em Corrientes foi um grande fracasso. As tropas paraguaias conquistaram a inimizade das populações locais por causa dos saques realizados e foram cercadas por tropas adversárias, sendo forçadas à rendição ou retirada. A partir dessas derrotas, que ocorreram na segunda metade de 1865, o Paraguai assumiu uma posição defensiva na guerra.
Coube aos membros da Tríplice Aliança organizar os ataques contra as forças paraguaias, posicionadas defensivamente no sul do país. Para o Brasil, a guerra representava um verdadeiro pesadelo logístico, uma vez que acontecia em uma região de difícil acesso, distante dos grandes centros brasileiros.
Um confronto extremamente importante para os rumos da guerra aconteceu em junho de 1865: a Batalha Naval de Riachuelo. Nessa batalha, a Marinha brasileira alcançou uma vitória importantíssima, destruiu parte considerável da frota naval paraguaia e garantiu o controle das águas platinas para a Tríplice Aliança, isolando o Paraguai e impedindo-o de receber provisões essenciais para a continuidade da guerra.
Além da derrota em Riachuelo, as derrotas nas campanhas no Rio Grande do Sul e em Corrientes mantiveram o Paraguai em uma posição defensiva. Apesar dessa fragilidade paraguaia, a longa duração da guerra (finalizada em 1870) explica-se pelos seguintes fatores:
- Desentendimentos no comando dos exércitos da Tríplice Aliança atrasaram as ações militares. O comando das tropas era função de Bartolomé Mitre, mas problemas de convívio com o Marquês de Tamandaré atrapalhavam o gerenciamento das tropas e a tomada de decisões.
- A geografia do território paraguaio, repleta de pântanos, impedia as movimentações militares e o melhor posicionamento da artilharia durante as batalhas.
- O pouco conhecimento desse território, resultado de anos de isolamento do Paraguai, dificultava as ações militares, uma vez que as lideranças militares tomavam ações mais conservadoras motivadas pelo desconhecimento do mapa desse país.
- Maior disponibilidade de tropas para os exércitos paraguaios e moral mais elevado por terem sido convencidos por Solano López de que a guerra era um conflito em defesa da independência paraguaia.
Outros destaques podem ser feitos dessa fase defensiva do Paraguai na guerra, tais como as duas batalhas em Tuiuti, travadas em 1866 e 1867, ambas com vitória da Tríplice Aliança. Uma grande derrota brasileira ocorreu na Batalha de Curupaiti, quando muitos soldados brasileiros morreram (os números variam entre 4 mil e 9 mil mortos).
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Desfecho da Guerra do Paraguai
A fase final da guerra foi marcada pelo esgotamento do Paraguai e pelas sucessivas derrotas, com destaque para a capitulação da fortaleza de Humaitá em 1868 e a invasão e o saque de Assunção em 1º de janeiro de 1869. Depois da conquista de Assunção, a guerra transformou-se em uma caçada a Solano López — que foi considerado traidor da pátria pelo governo provisório paraguaio a partir de 1869. Nesse período (1868-1869), os exércitos brasileiros foram liderados por Caxias, o maior nome do exército brasileiro.
A partir de finais de 1869, a liderança dos exércitos brasileiros foi assumida por Conde d’Eu, já que Caxias era contrário à continuação do conflito. A caçada a Solano encerrou-se na batalha de Cerro Corá, em março de 1870, quando soldados brasileiros mataram o ex-ditador paraguaio. Finalizava-se assim a Guerra do Paraguai.
Consequências da Guerra do Paraguai
A Guerra do Paraguai gerou consequências, em diferentes graus, para todas as nações envolvidas. No caso da Argentina, a guerra resultou na consolidação do território argentino e na derrota definitiva dos federalistas de Entre Ríos e Corrientes. Apesar disso, o presidente Mitre não conseguiu eleger seu candidato nas eleições de 1868.
No caso uruguaio, o país saiu também consolidado, com a superação definitiva das disputas políticas entre blancos e colorados. No entanto, o presidente uruguaio, Venancio Flores, foi assassinado em Montevidéu, em 1868.
Para o Brasil, a guerra gerou forte impacto na economia, uma vez que os gastos do Brasil foram 11 vezes o orçamento anual do país em 1864. Além disso, o governo brasileiro saiu bastante endividado, sobretudo com bancos ingleses, em decorrência dos empréstimos feitos para financiar o conflito. A guerra também fortaleceu o exército como instituição e marcou o início da decadência da monarquia.
O Paraguai foi a nação mais prejudicada na guerra, afinal, grande parte das batalhas aconteceu em território paraguaio, o que lhe causou grande destruição material. A nação ainda foi obrigada a abrir mão dos litígios territoriais que travava com Brasil e Argentina. O país só não perdeu mais territórios para a Argentina porque o governo brasileiro tratou de defender a soberania do território paraguaio como forma de evitar o maior fortalecimento dos argentinos.
Em relação à quantidade de mortos, o saldo foi o seguinte:
- Uruguai: 3.120 mortos;
- Argentina: 18 mil mortos;
- Brasil: 50 mil mortos.
O caso paraguaio é mais complexo por causa da imprecisão nas estatísticas dos censos realizados no país após o conflito. Ao longo dos anos, diferentes estudos foram feitos sobre a quantidade de mortos na guerra, cujas estatísticas variaram, de acordo com os diferentes pesquisadores, entre 25 mil e 300 mil mortos. A estimativa mais aceita apontou a morte de, aproximadamente, 150 mil paraguaios na Guerra do Paraguai.
Notas
|1| DORATIOTO, Francisco. Maldita Guerra: nova história da Guerra do Paraguai. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p. 93-96.
Créditos da imagem
[1] Boris15 e Shutterstock
Por Daniel Neves
Professor de História