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Durante um bom tempo, o Brasil esteve economicamente subordinado aos interesses da Inglaterra. Sumariamente, essa relação de dependência se manifestava na grande demanda pelos produtos britânicos e na frequente busca por empréstimos que estabilizassem as finanças. Contudo, essa situação passou a se modificar na medida em que os altos lucros obtidos com a exportação de café permitiram a redução dessa demanda pelos produtos britânicos.
Outro fator de grande importância esteve ligado ao processo de expansão do capitalismo europeu, que permitiu ao Brasil negociar produtos industrializados com outras nações, como França, Alemanha e Estados Unidos. Mediante essa concorrência, os ingleses começaram a aumentar as pressões para que o governo brasileiro desse fim ao regime escravocrata. Por meio dessa ação, acobertada por um discurso humanitário, os ingleses pretendiam ampliar os lucros junto ao Brasil.
As elites brasileiras se negavam a ceder ao interesse britânico e, com isso, a relação entre os dois países foi se tornando cada vez mais delicada. Para tentar garantir seus objetivos, os ingleses criaram uma lei (Bill Aberdeen) que previa a reclusão de qualquer navio negreiro em mares atlânticos. Logo em seguida, a Inglaterra conseguiu que o tráfico para o Brasil fosse proibido com a aprovação da Lei Eusébio de Queirós, em 1850.
Apesar da importância da última medida, o território brasileiro ainda preservava a sua população de escravos e retardava o fim deste regime de trabalho. Com isso, a Inglaterra começou a nutrir uma série de indisposições políticas que viriam a representar a insatisfação britânica frente à morosidade do governo brasileiro. Entre esses atritos, a Questão Christie ficou sendo a que melhor representou esse desarranjo de interesses entre Brasil e Inglaterra.
No ano de 1861, o diplomata britânico William Dougal Christie reclamou sobre o desrespeito do Estado brasileiro a uma lei de 1831 que determinava a libertação de todos os negros que chegassem ao Brasil. No ano seguinte, sem obter resposta satisfatória, o navio britânico Prince of Wales naufragou no Rio Grande do Sul e teve a sua mercadoria tomada por terceiros.
Aproveitando do incidente, Christie exigiu que o governo imperial brasileiro indenizasse a Inglaterra pelo prejuízo e que um oficial inglês acompanhasse toda a investigação do caso. Em 1862, quando o caso do navio ainda era discutido, um grupo de oficiais da marinha inglesa foi preso por cometer uma estrondosa arruaça no Rio de Janeiro.
Mediante o novo incidente, apesar da soltura imediata dos oficiais, William Christie exigiu que a indenização das cargas fosse paga, os oficiais brasileiros envolvidos na detenção fossem exonerados e que houvesse a realização de um pedido de desculpas oficial do Governo Imperial Brasileiro. Não aceitado tais imposições, o diplomata inglês exigiu que embarcações inglesas apreendessem cinco navios brasileiros que estavam ancorados na Baia de Guanabara.
Visando solucionar o caso, Dom Pedro II convocou o rei da Bélgica, Leopoldo I, para arbitrar a questão e devolveu o dinheiro referente ao roubo das cargas. Com isso, o monarca belga decidiu em favor dos brasileiros e determinou que o tal pedido de desculpas fosse dado pelos ingleses. Sem obter resposta da Inglaterra, o Brasil acabou rompendo relações com a Coroa Britânica. O problema só chegou ao fim em 1865, quando os ingleses reconheceram seu comportamento intransigente.
Por Rainer Sousa
Graduado em História