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Iansã (Oyá)

Também conhecida como Oyá, Iansã é uma orixá guerreira muito associada aos ventos, às tempestades e aos rituais funerários.

Representação gráfica de Iansã, a orixá dos ventos, das tempestades e dos rituais funerários.
Iansã é a orixá dos ventos, das tempestades e dos rituais funerários.
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Iansã (Oyá) é uma orixá guerreira muito associada aos ventos, às tempestades e aos rituais funerários, e casada com Xangô.

Iansã é associada ao rito funerário Axexê e guia os espíritos dos mortos para o Órum. Sua história envolve mitos sobre sua relação com Ogum e Xangô. Ela é a mãe de nove filhos e é sincretizada com Santa Bárbara.

Características de Iansã incluem audácia, força feminina, e ela é a deusa da resolução. Suas cores são branco, vermelho ou rosa e seus símbolos incluem espada, erexin (rabo de cavalo) e elementos como ventos e tempestades.

Iansã é cultuada no candomblé, na umbanda e em outras religiões de matriz africana. A diferença entre as formas de culto reside nas interpretações dessas religiões sobre os orixás. No entanto, em todas as tradições Iansã é reverenciada como a representação da força feminina, da liberdade e da capacidade de ser tanto brisa como tempestade.

Para compreender Iansã de uma forma mais completa, fomos conversar com Mãe Lindete de Oyá, iniciada no culto aos orixás há 41 anos. Ela é Ìyálórìṣà do ilê Àṣẹ Ọya Onilawo na Cidade Ocidental-GO e filha do Àṣẹ Òpó Àfonjá, Rio de Janeiro.

Leia também: Iemanjá — a orixá conhecida como a mãe de todos os orixás

Tópicos deste artigo

Resumo sobre Iansã

  • Iansã é uma orixá guerreira muito associada aos ventos, às tempestades e aos rituais funerários.
  • O cultoa Iansã nasceu no Rio Níger, localizado na Nigéria.
  • Algumas histórias ligadas a Iansã estão relacionadas a Ogum e a Xangô, seu grande amor.
  • Teve nove filhos.
  • Iansã foi sincretizada com a santa católica Santa Bárbara.
  • Iansã é uma orixá guerreira muito relacionada à força feminina.
  • As cores de Iansã são o branco, o vermelho ou o rosa.
  • Seus símbolos são a espada, o erexin, os chifres de búfalo e a borboleta.
  • Seus elementos são os ventos, o raio e as tempestades.
  • Seus domínios são a força de vontade e a força feminina, além da passagem para o mundo dos mortos.
  • As filhas de Iansã são alegres, falantes e, por vezes, temperamentais.
  • Entre suas oferendas preferidas está o acarajé.
  • Na semana, o dia de Iansã é quarta-feira, junto com Xangô. Por ter sido associada com Santa Bárbara, é celebrada anualmente no dia 4 de dezembro.

Quem é Iansã (Oyá)?

Iansã (Oyá) é a orixá dos ventos, tempestades e dos rituais funerários. Para compreender melhor essa orixá, conversamos com Mãe Lindete de Oyá, iniciada no culto aos orixás há 41 anos. Ela é Ìyálórìṣà do ilê Àṣẹ Ọya Onilawo na Cidade Ocidental-GO e filha do Àṣẹ Òpó Àfonjá, Rio de Janeiro.

Mãe Lindete de Oyá nos contou que Iansã é um deusa guerreira, destemida e obstinada. Ela, em alguns momentos, age intensa como uma búfala, em outros, delicada como uma borboleta.

Iansã teve o orixá Xangô como grande amor e com ele se casou. Iansã também tem histórias que contam a sua relação com os mortos e com o rito funerário do Axexê, que é a cerimônia fúnebre realizada no candomblé. A depender da tradição da casa, esse rito pode ganhar outros nomes.

O Axexê é feito quando um filho de santo (praticante da religião) morre, para que seu espírito retorne ao Orum (mundo metafísico onde estão os orixás). A orixá responsável por acompanhar os espíritos nessa passagem é Iansã.

Uma das versões da história que estabelece a relação de Iansã com o rito funerário do Axexê conta:

Um dia, a morte levou o pai de Oyá, deixando-a muito triste / A jovem pensou em um jeito de homenagear seu pai / Reuniu seus instrumentos / enrolou-os em um pano / Preparou suas comidas preferidas / Dançou e cantou por sete dias, / espalhando por toda parte, com seu vento, o seu canto, / fazendo com que se reunissem no local todos os caçadores da Terra / Na sétima noite, acompanhada dos caçadores, / Oyá embrenhou-se na mata / e depositou ao pé de uma árvore sagrada / os pertences de seu pai / Olodumaré, que tudo via, / emocionou-se com o gesto de Oyá / e deu-lhe o poder de ser a guia dos mortos no caminho do Òrum / Desde então todo aquele que morre / tem seu espírito levado por Oyá / Antes, porém, deve ser homenageado por seus entes queridos / numa festa com comidas, cantos e danças / Nasceu assim o funerário ritual do Axexê

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História de Iansã

Segundo Mãe Lindete de Oyá, o culto a Iansã surgiu de um rio na Nigéria, antigamente conhecido como Rio Oyá, mas que agora recebe o nome de Rio Níger. Algumas histórias de Oyá contam da sua relação com seus maridos e da sua influência sobre os fenômenos naturais.

Rio Níger, rio localizado na Nigéria que está ligado à origem do culto a Iansã.
O Rio Níger, localizado na Nigéria, é o rio ligado à origem do culto a Iansã.

Uma versão dos mitos de Iansã conta que ela morava com Ogum, orixá ferreiro e guerreiro. Ele havia forjado duas espadas para o casal, uma dividiria os inimigos em nove partes e a outra, as inimigas em sete partes. Ogum ensinou Iansã a forjar e usar as armas de guerra. Mas, lhe dava pouca atenção, era muito focado no trabalho.

Um dia, um homem elegante, chamado Xangô, foi à forja de Ogum fazer um pedido de produção de armas. Iansã despertou a atenção de Xangô.

Xangô, de tão apaixonado que ficou, chamou Iansã de Oyá Oriri, que significa “Oyá tão linda que não se pode tirar os olhos dela”. Enquanto Ogum estava concentrado no trabalho, Iansã uniu-se a Xangô e fugiu.

Ogum, quando descobriu, ficou furioso, mas ninguém encontrava o casal. Até que Ogum, que também é caçador, pegou suas armas, sua indumentária e foi atrás dos dois. Ogum encontrou Iansã e eles lutaram.

Na luta, Ogum e Iansã se acertaram com as espadas especiais, forjadas por Ogum, e partiram-se em 7 e 9 partes, respectivamente. Assim, Ogum foi derrotado pela arte da guerra que ele havia ensinado a Iansã e aprendeu que homem nenhum pode segurar o vento, por mais poderoso que seja.

Mãe Lindete de Oyá ainda nos conta que um dos significados de Iansã é “mãe do entardecer”. Esse nome teria sido dado por Xangô para homenagear a beleza de Iansã, ele a considerava radiante como o pôr do sol.

Iansã também é conhecida pela história dos seus nove filhos. Essa história conta o seguinte:

Oyá desejava ter filhos
Mas não conseguia

Oyá foi se consultar com um babalaô (sacerdote africano)
Ele mandou que ela servisse um carneiro
com búzios e muitas roupas coloridas

 

Oyá fez o sacrifício que o babalaô pediu
Depois, ela teve nove filhos
Quando ela passava, as pessoas diziam:
Lá vai Iansã, a mãe dos nove filhos.

 

Oyá não podia ter filhos
Mas teve nove

Depois de sacrificar um carneiro
Em sinal de respeito,
Por ter seu pedido realizado
Iansã, a mãe dos nove, nunca mais comeu carneiro

Sincretismo de Iansã com Santa Bárbara

Pessoas carregando uma imagem de Santa Bárbara, a santa católica associada a Iansã (Oyá).
Santa Bárbara é a santa católica associada a Iansã (Oyá). [1]

A Mãe Lindete de Oyá nos disse que o sincretismo começou com a chegada dos negros escravizados aqui no Brasil. Os africanos não podiam praticar a própria religião, por serem obrigados a aceitar o cristianismo pelos europeus.

Então, os povos africanos precisaram misturar as imagens dos Orixás com a dos santos católicos. Nesse contexto, Santa Bárbara, morta pelo pai por professar sua fé, tem muitas características que lembram Iansã. Em relação a isso, Mãe Lindete de Oyá diz o seguinte:

Santa Bárbara é a santa a quem rezamos para diminuir as tempestades, assim como fazemos com Iansã no candomblé. A meu ver, as duas têm uma espada em suas mãos por lutarem pelo que acreditam, por serem obstinadas e acreditarem em sua fé, e morreram acreditando e lutando por seus ideais, exemplo de mulher de força.

Acesse também: Exu — o orixá que foi associado ao santo católico Santo Antônio

Características de Iansã

Conforme nos conta Mãe Lindete de Oyá, Iansã é audaciosa, guerreira e fiel. Por ser obstinada e lutadora, também é conhecida como orixá da resolução, pois não há problema que ela não seja capaz de resolver. A seguir, conheça suas principais características.

  • Cores de Iansã

As cores de Iansã são o branco, o vermelho ou o rosa, observadas principalmente nas roupas. No candomblé Keto, as missangas utilizadas no colar de contas são de cor terracota (marrom avermelhado).

  • Símbolos de Iansã

Borboleta em festa de Santa Bárbara em alusão a um dos símbolos de Iansã (Oyá).
A borboleta é um dos símbolos de Iansã. [2]

Ela carrega uma espada em uma mão e um erexin na outra. Erexin é um rabo de cavalo, responsável por fazer a ligação entre o mundo dos vivos e dos mortos. Amém destes, ela também tem como símbolo os chifres de búfalo e a borboleta, por ser associada a transformação.

  • Elementos de Iansã

Seus elementos são os ventos, os raios e as tempestades.

  • Domínios de Iansã

Seus domínios são a força de vontade e a força feminina, além da passagem para o mundo dos mortos. Iansã é também conhecida como a Deusa dos Nove Céus.

Características das filhas de Iansã

Mãe Lindete de Oyá, sacerdote do candomblé e uma das filhas de Iansã (Oyá)
Iniciada no culto aos orixás há 41 anos, Mãe Lindete de Oyá é sacerdorte e uma das filhas de Iansã (Oyá).
(Crédito: Acervo / Mãe Lindete de Oyá)

De acordo com Mãe Lindete de Oyá, as filhas de Iansã são:

Poderosas, com temperamento audacioso, autoritárias, bem-humoradas, impossível de passar despercebidas. São falantes, alegres, amigas, fiéis e obstinadas em seu propósito, embora percam o foco rápido. Iansã é a orixá da providência, guerreira, fiel, desbravadora e protetora.

Oferendas a Iansã

Prato colorido com um acarajé, a oferenda preferida de Iansã (Oyá).
O acarajé é a oferenda preferida de Iansã.

De acordo com Mãe Lindete de Oyá, a oferenda preferida de Iansã é o acarajé. Mas também podem ser oferecidos o acaçá (prato feito com milho branco) e o abará (bolo de feijão com camarão).

Veja também: Oxóssi (Odé) — o orixá que recebe como oferendas carnes de caça, grãos e frutas em geral

Saudação de Iansã

A saudação de Iansã é a seguinte:

Eparey Oyá mesan orun Oyá ô
(Eu saúdo a deusa dos nove orun/céus).

Oração a Iansã

Mãe Lindete de Oyá nos fala que, no candomblé, as orações são chamadas de rezas ou de adura. De acordo com ela, uma reza feita a Iansã é a seguinte:

Pe enyin a bo Oyá e,
Pe enyin a bo Oyá
Oyá kara won lo
Pe eyin a bo Oyá e iyalode

Traduzido para o português, fica:

Chamamos para cultuar Oyá
Que a senhora leve embora os raios de tudo de ruim
Chamamos voz a primeira-dama da sociedade
Epareyyy

Iansã no candomblé e na umbanda

Iansã é cultuada no candomblé, na umbanda, no batuque do Rio Grande do Sul, entre outras religiões de matriz africana. A diferença mais marcante entre as formas de cultuar Iansã entre candomblé e umbanda reside na própria interpretação dessas religiões a cerca dos orixás.

Na umbanda, os orixás são vistos como energias (manifestações) de um Deus supremo. Já o candomblé possui uma perspectiva mais ancestral, ligada às histórias vindas da África: os orixás são mais pessoais, alguns até vieram para a Terra, mas sem perder o caráter divino.

Apesar disso, em todas as religiões, Iansã representa o arquétipo das mulheres fortes, livres e guerreiras. Assim como ela pode ser brisa, também pode ser tempestade. É uma companheira que ajuda a vencer guerras e que sustenta a família (comunidade) nos períodos mais complicados. Entretanto, não tolera ser desrespeitada.

Dia de Iansã

  • Na semana: o dia de Iansã, durante a semana, é a quarta-feira, junto de Xangô.
  • No ano: o dia consagrado a Iansã, adotado devido ao sincretismo, é o dia de Santa Bárbara, dia 4 de dezembro.

Créditos de imagem

[1] ThalesAntonio / Shutterstock

[2] ThalesAntonio / Shutterstock

Fontes

BENISTE, José. Òrun Àiyé. Rio de Janeiro. 2008. Betrand Brasil.

Entrevista realizada com a Mãe Lindete de Oyá, Ìyálórìṣà do ilê Àṣẹ Ọya Onilawo na Cidade Ocidental-GO e filha do Àṣẹ Òpó Àfonjá, Rio de Janeiro.

PRANDI, Reginaldo. Mitologia dos Orixás. São Paulo. 2001. Companhia da Letras

VERGER FATUMBI, Pierre. Orixás. Salvador. 1997. Tradução: Maria Aparecida de Nóbrega.

Escritor do artigo
Escrito por: Tiago Vechi Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

VECHI, Tiago. "Iansã (Oyá)"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/religiao/iansa.htm. Acesso em 18 de dezembro de 2024.

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