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Oxóssi (Odé)

Oxóssi é um orixá caçador muito associado à fartura, às florestas e às estratégias. Também conhecido como Odé, Oxóssi é associado a São Jorge e São Sebastião.

Estátua de Oxóssi segurando um arco e flecha.
Oxóssi é um caçador que também protege a sua comunidade.
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Oxóssi é o orixá da caça, das florestas e da fartura. Também é conhecido como o guerreiro de uma flecha só por conta da precisão de suas estratégias de caça. Suas histórias trazem lições sobre o trabalho, a família, o compartilhamento e as estratégias de vida. Com um caráter protetor e esperto, Oxóssi traz consigo o arquétipo do homem provedor e cuidadoso.

Oxóssi e suas representações tiveram um papel fundamental na história da diáspora dos povos africanos para o Brasil e outras nações da América. Ele é sincretizado com dois santos católicos a depender da região, pode ser São Jorge (Bahia) ou São Sebastião (Rio de Janeiro).

Seu símbolo é o ofá, um arco e flecha; sua saudação é Okê Arô, que faz referência a sua linhagem nobre no povo de Ketu, localizado onde hoje é a Nigéria. Não à toa, seus filhos costumam ter o comportamento altivo, elegante e mantêm a cabeça aberta para novas ideias, sem abrir mão de seus planos pessoais.

Leia também: Xangô — o orixá dos raios e da justiça

Tópicos deste artigo

Resumo sobre Oxóssi

  • Oxóssi, também conhecido como Odé, é o orixá da caça, da estratégia e das matas.

  • Suas funções são associadas à proteção, à sobrevivência e aos provimentos.

  • Suas histórias estão associadas à caça, uma delas conta sobre o que ele fez com a pessoa que roubava seus alimentos, e a surpresa que teve quando descobriu quem era.

  • É sincretizado com dois santos no Brasil: São Sebastião e São Jorge.

  • Suas cores são o verde e o azul.

  • Seus filhos são conhecidos por sua elegância e por seu comportamento em relacionamentos.

  • Como oferenda, Oxóssi gosta de carnes de caça, grãos e frutas em geral.

Quem é Oxóssi?

Oxóssi é um orixá conhecido também como Odé, e está relacionado à caça, à estratégia e às matas. Tem muitas funções associadas a proteção, sobrevivência e provimentos. Para compreender mais sobre essa divindade africana, conversamos com pai Rodney de Oxóssi, babalorixá, antropólogo e doutor em Ciências Sociais.

Sobre a identidade de Oxóssi, ele nos conta que, apesar de estar relacionado à caça e ao sustento, Oxóssi é também o orixá da estratégia, tendo papel fundamental na reconstrução do povo do negro no Brasil. Ele explica o motivo:

Ele trazia a realeza do povo de Ketu, dos Iorubás. Boa parte das pessoas que vieram escravizadas, vieram dessa região. É Oxóssi que tem a função de unir as pessoas em uma família simbólica que permitiu que essas pessoas negras sobrevivessem a todo aquele processo violento da escravidão.

Pai Rodney destaca as qualidades necessárias para se fazer uma boa caça e diz que tais aspectos também estão ligados à identidade de Oxóssi:

As pessoas sempre veem do ponto de vista superficial. Orixá da caça, a caça remete à alimentação; mas esquecem que também é uma estratégia que requer calma, cuidado, paciência, especialmente porque estamos falando de sobrevivência. A alimentação é fundamental para que nos possamos sobreviver. Para além da alimentação, você também tem necessidade de organizar a comunidade, de ter a família, de ter o apoio.

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Influência de Oxóssi na cultura africana

O sacerdote nos conta que, por meio dos arquétipos de Oxóssi, o povo negro pensou estratégias de sobrevivência que incluíam a luta e a necessidade de forjar armas a fim de ajudar a vencer aquele sistema genocida da escravidão. Foi Oxóssi quem ajudou o candomblé a ser pensado como uma reprodução das extensas famílias africanas, como uma estratégia de sobrevivência e de união que permitiu o povo negro chegar até onde chegou.

Há um ditado conhecido em alguns terreiros que também ajuda a entender essa relação de Oxóssi com a união e a fartura, ele diz: “Oxóssi ensina que fartura é ter com quem compartilhar”.

Veja também: Quem é a mãe dos orixás?

Características de Oxóssi

  • Cores de Oxóssi: são o verde, por conta de sua associação com as matas, e o azul-claro, que, segundo o pai Rodney, é uma mistura do azul de Ogum com o verde e o branco de Ossain.

  • Símbolos de Oxóssi: o principal símbolo de Oxóssi é seu o, um arco e flecha utilizado por caçadores.

Arco e flecha dourado, símbolo de Oxóssi.
O ofá é o principal símbolo de Oxóssi.
  • Elementos de Oxóssi: a floresta, os animais silvestres e a caça.

  • Domínios de Oxóssi: a estratégia, a paciência, a fartura e a precisão.

  • Saudação de Oxóssi: a mais conhecida a é Okê Arô, que significa “o grande da família Arô”. Okê é uma palavra que remete à montanha (ou superioridade) e Arô é uma família nobre do povo Ketu, ao qual Oxóssi teria pertencido. Entre outras saudações, também está o Arolé. Arô, aqui, tem o mesmo significado, e pode vir de “casa” ou “terra”. Segundo pai Rodney, essa saudação lembra a criação de um território de retorno para os africanos e seus descendentes.

  • Dia de Oxóssi: na semana, é a quinta-feira; no ano, é o 20 de janeiro.

Oxóssi no sincretismo religioso

O sincretismo foi um processo de ressignificação imposto aos povos africanos no Brasil. Na época da escravidão, cultuar deuses negros, africanos e não cristãos era proibido, então fez-se uma substituição simbólica dos orixás pelos santos católicos. O processo de ressignificação se fez muito presente na diáspora dos povos negros.

De acordo com Rodney, o sincretismo é uma via de mão dupla: o catolicismo europeu influenciou as religiões de matriz africana, e as tradições africanas também moldaram o catolicismo brasileiro. A Igreja Católica, na época, teria oprimido as religiões vindas da África, mas o povo negro utilizou-se do sincretismo como estratégia de sobrevivência.

Oxóssi é sincretizado com dois santos no Brasil: na Bahia é São Jorge, e no Rio de Janeiro é São Sebastião.

Oxóssi e São Jorge

O sincretismo com São Jorge acontece pela relação entre “matar o dragão” e a atividade de caça. A figura do cavaleiro também está relacionada a Oxóssi. Alguns dizem que o agueré (dança de Oxóssi) simula uma cavalgada.

Estatueta de São Jorge, santo católico associado a Oxóssi.
Oxóssi está associado a São Jorge. A dança de Oxóssi simularia uma cavalgada.[1]

Oxóssi e São Sebastião

Em relação a São Sebastião, Rodney afirma que Oxóssi não foi sincretizado com o próprio santo, mas com a flecha que o matou. Portanto, a flecha é o elemento da caça que fez São Sebastião ser relacionado a Oxóssi.

Na concepção pessoal do babalorixá, ainda existe outro aspecto. São Sebastião é um santo muito sensual. Sua pouca vestimenta, o corpo à mostra, é algo típico de Oxóssi, bem como da africanidade. Nas suas palavras: “A sensualidade é parte do que define Oxóssi”.

São Sebastião em pintura do século XVI.
Oxóssi está relacionado com as flechas que mataram São Sebastião.

Oxóssi e religiosidade indígena

Segundo Rodney, há relações e trocas estabelecidas entre Oxóssi e os povos indígenas, como a própria atividade da caça, hábito presente na cultura indígena. Os versos de uma canção típica ilustram essa relação:

“Caboclo roxo da pele morena

Ele é Oxóssi, caçador lá na jurema”

O termo “caboclo” se refere a povos indígenas dentro da sua religião.

Características dos filhos de Oxóssi

Homem negro sorrindo, vestido como um filho de Oxóssi.
Pai Rodney de Oxóssi. Os filhos de Oxóssi têm fama de elegantes. (Créditos da imagem: Assessoria/Pai Rodney)

Todo orixá é um arquétipo, Oxóssi é o arquétipo do caçador, daquele que tem habilidade, um corpo esguio, que anda com leveza, que consegue passar pela floresta sem fazer barulho, que consegue ter estratégias para enganar a sua presa.

Sobre as características dos filhos de Oxóssi, pai Rodney começa dizendo que eles costumam ser muito atentos a determinadas coisas, mas, em contrapartida, são muito distraídos para outras. O sacerdote também fala da fama e elegância que os filhos de Oxóssi têm. São pessoas com o caminhar altivo e que têm a mente aberta.

Rodney confirma este último aspecto enquanto filho de Oxóssi, dizendo que não se choca com nada. Aponta, ainda, que questões relativas a foco, objetivo, estratégia são muito presentes nos filhos de Oxóssi. Também destaca que Oxóssi e seus filhos têm a habilidade de se adaptar a diferentes situações. Nesse sentido, ele cita a capacidade de Oxóssi andar na mata fazendo o barulho de mil pessoas mas também a de caminhar por ela sem emitir um som sequer.

Pai Rodney também fala de como os filhos de Oxóssi são conhecidos no amor:

Dizem que, no amor, o coração do caçador é a flecha que voa com o vento, então Oxossi não se prenderia a amores. Embora tenha tido um grande amor na sua vida, que foi Oxum. Mas ele seria o coração mais solto, mais livre. E aí as pessoas dizem, na verdade, que Oxóssi não tem coração porque não se prende às pessoas. E dizem que o caçador, quando dá as costas, não olha para trás, e as pessoas de Oxóssi têm isso. Elas amam muito intensamente, mas esquecem com facilidade.

Oferendas a Oxóssi

Pai Rodney nos conta que Oxóssi gosta de tudo que vem da caça, de todo tipo de carne. No terreiro, frutas são muito oferecidas a Oxóssi, e os sacrifícios para ele são dos bichos de caça (desde que permitidos por lei). Existe um ritual que começa na floresta, e lá se solta fogos (quando autorizado).

Representação de Oxóssi como um caçador no Parque da Catacumba, Rio de Janeiro.
Oxóssi aprecia todo tipo de carne, pois é um caçador.[2]

Pai Rodney conta que essa tradição é muito comum nos terreiros e nas igrejas católicas da Bahia. O objetivo de soltar fogos é porque, com os barulhos, as caças fogem e, assim, Oxóssi vem comer as comidas preparadas no terreiro, que, na maioria das vezes, são feitas com animais de criação, como galos, bodes, cabritos, entre outros.

Oxóssi também aprecia muito todas as frutas e o milho. O sacerdote relembra que as oferendas dadas aos orixás também seguem uma lógica. Ele cita o batuque (religião afro-gaúcha), que serve churrasco a alguns orixás, entre eles, Oxóssi e Ogum.

A comida principal de Oxóssi é o axoxô, um prato de milho enfeitado com coco. Ele aprecia grãos de forma geral, como feijão-fradinho. Ele também come uma versão do nosso sarapatel.

Saiba mais: Qual a diferença entre candomblé e umbanda?

Histórias de Oxóssi

As histórias dos orixás são conhecidas como itãs — narrativas mantidas pela cultura oral africana por milhares de anos. Entretanto, hoje em dia, há diversos livros que compilam essas histórias. Alguns deles são iniciativas das próprias pessoas da religião e outros são trabalhos antropológicos.

Pai Rodney nos conta uma das histórias de Oxóssi que consta no livro Deuses de dois mundos. O sacerdote afirma que não sabe se essa história passou por alterações do compilador, mas que, mesmo assim, a aprova. Veja também:

A caça preferida de Oxóssi era a codorna. Mas por que o Orixá da caça gostaria de caçar um animal tão pequeno? Justamente por ser pequeno, rápido e difícil de caçar é que Oxóssi admira a atividade. Ainda mais ele sendo conhecido como o caçador de uma flecha só, dá pra se imaginar a proeza que é acertar e matar uma codorna utilizando uma só flecha, exige muita habilidade.

Então a codorna não é o alimento preferido de Oxóssi, mas, sim, a caça. Quem acerta uma codorna também acertará grandes animais. Um dia, as codornas caçadas por Oxóssi começaram a desaparecer. Então Oxóssi se irritou com os roubos e lançou a sua flecha, determinado a seguinte ordem: “Que essa flecha atinja o coração de quem está roubando as minhas codornas”.

Quando Oxóssi chegou em casa, encontrou a própria mãe com a sua flecha atravessada no peito. Pego de surpresa, sofreu.

A interpretação dos itãs ajuda a enfrentar os desafios que a vida apresenta. Pai Rodney conta que esse itã mostra que não se deve atirar uma flecha sem responsabilidade, sem propósito, é preciso ter um alvo, senão podemos causar uma tragédia. É preciso ter cuidado com a flecha que lançamos, com as palavras que dizemos, com a única oportunidade que temos para acertar a fim de não transformamos a oportunidade em uma grande tragédia.

Oração a Oxóssi

Muitas das “orações” das religiões de matriz africana são cantadas. Uma dessas cantigas entoadas a Oxóssi, e que o pai Rodney ensina, é:

Omo Alaketu re

Faraimará

Araketu re faraimará”

Tradução:

“Filhos do rei de Ketu

Abraçai-vos

Povo de Ketu, uni-vos”
 

Créditos das imagens

[1]Joa Souza/ Shutterstock

[2]Wikimedia Commons

Escritor do artigo
Escrito por: Tiago Vechi Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

VECHI, Tiago. "Oxóssi (Odé)"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/religiao/oxossi.htm. Acesso em 26 de dezembro de 2024.

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