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Nanã é um importante orixá feminino relacionado com a origem do homem na Terra. O seu domínio se relaciona com as águas paradas, os pântanos e a terra úmida. Do ponto de vista divino, sua relação com o barro, mistura de água e terra, coloca essa divindade nos domínios existentes entre a vida e a morte. Isso porque a água é o elemento que se liga à vida e a terra, à morte. É daí que compreendemos o seu trânsito entre essas duas poderosas realidades.
O mito de Nanã apareceu quando Olorum encarregou Oxalá da missão de fazer o modelo que daria forma ao homem. Entre tantas alternativas, o orixá encarregado tentou fazer uso do vento, da madeira, da pedra, do fogo, do azeite e até do vinho. Contudo, apesar de tanto esforço, ele percebia que nenhum material era maleável o suficiente para que ele executasse a tarefa. Foi quando Nanã retirou uma porção de barro do fundo do lago em que morava.
Utilizando aquele material, Oxalá conseguiu finalmente dar forma ao homem. Logo em seguida, Olorum pegou o modelo e com um sopro lhe concedeu força vital para realizar tarefas. Depois disso, os outros orixás se encarregaram de ajudar o homem a povoar as terras do mundo. Sendo feito de um elemento que pertence à Nanã, os homens têm que morrer. Afinal de contas, ela cobra de volta aquilo que um dia ofereceu para que o homem viesse a existir.
Ligada ao princípio e ao fim da existência, Nanã é costumeiramente reverenciada com cânticos que rogam pela extensão da vida e o adiamento da morte. Em alguns rituais, Nanã é evocada pelas mulheres que apresentam dificuldade para engravidar. Quando tem o seu pedido atendido, essas mães costumam acrescentar o nome da deusa no nome de seus filhos. Esse seria um gesto de gratidão que também reforça o poder de vida ligado a esse importante orixá.
Os cultos de adoração à Nanã estão cercados de todo um cuidado. Os envolvidos devem estar livres de qualquer tipo de prática que seja vista como impura. Não raro, os participantes ficam um tempo sem praticar sexo ou consumir drogas. Em seu culto observamos que o ibiri (espécie de vassoura produzida a partir das folhas da palmeira) é o objeto que solenemente indica a sua presença. De forma comparativa, podemos ver que Nanã ocupa um espaço simbólico semelhante ao que a lendária Grande-Mãe ocupa em outras religiões existentes.
Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola