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Wu Lien-teh

Wu Lien-teh foi um médico sino-malaio que ficou internacionalmente conhecido por ter combatido com sucesso uma epidemia de peste pneumônica na Manchúria, em 1910 e 1911.

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 Wu Lien-teh foi um médico sino-malaio que conquistou reconhecimento por ter combatido um surto epidêmico de peste pneumônica que atingiu a Manchúria, na China, no começo do século XX. Atribui-se a ele também o feito de ter criado uma máscara com filtros que é considerada a precursora da PFF2, uma das melhores máscaras existentes atualmente.

Acesse também: Oswaldo Cruz, um dos sanitaristas mais importantes da história do Brasil

Tópicos deste artigo

Juventude

Wu Lien-teh nasceu no dia 10 de março de 1879, em Penang, na Malásia. Seu nome de nascimento era Ngoh Lean Tuck (ele mudou para o nome Wu Lian-teh em 1908), sendo filho de pais de descendência chinesa. Sobre a sua família, sabe-se que seu pai trabalhava na função de ourives e que ele havia emigrado de Taishan, enquanto sua mãe era malaia, mas descendente de chineses.

Wu Lien-teh foi o médico chinês responsável por combater o surto de peste pneumônica que atingiu a China no começo do século XX.[1]
Wu Lien-teh foi o médico chinês responsável por combater o surto de peste pneumônica que atingiu a China no começo do século XX.[1]

Sabe-se pouco sobre a juventude de Wu Lien-teh, mas, entre as informações conhecidas, estão o fato de que ele estudou em um colégio local em Penang e que, ao finalizar seus estudos básicos, conseguiu uma bolsa para ingressar no curso de Medicina pela Universidade de Cambridge. Wu Lien-teh foi o primeiro aluno sino-malaio a estudar em Cambridge e graduou-se como um dos melhores alunos do curso.

Depois de estudar em Cambridge, Wu Lien-teh ainda fez cursos de pós-graduação em diversos locais da Europa. Em Liverpool, por exemplo, ele estudou bacteriologia durante um ano e, em Paris, ele pesquisou doenças como malária e tétano.

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Carreira médica

Depois de finalizar os seus estudos na Europa, Wu Lien-teh retornou para a Malásia, dando início a sua carreira de médico. Lá ele começou trabalhando para o Instituto de Pesquisa Médica de Kuala Lumpur, dedicando-se ao estudo de beribéri. Wu Lien-teh também se engajou em campanhas contra o consumo de ópio, droga muito comum entre chineses.

Em 1907, uma comitiva chinesa enviada para a Malásia pela dinastia Qing realizou um convite para que ele trabalhasse no Colégio Médico do Exército Imperial. Esse colégio ficava localizado em Tianjin. Ele e sua esposa, Ruth Shu-chiung Huang, mudaram-se para a China, e lá Wu Lien-teh assumiu o cargo de vice-diretor do colégio mencionado.

Atuação na peste da Manchúria

No final de 1910, começaram a surgir as primeiras notícias de uma peste que estava se disseminando em Harbin, uma cidade localizada na Manchúria. Fala-se que as primeiras vítimas dessa doença tenham sido pessoas de regiões próximas à fronteira com a Rússia. Wu Lien-teh foi nomeado para ir à região investigar a epidemia.

Chegando lá, Wu Lien-teh encontrou uma grande quantidade de mortos, mas, para identificar qual doença atingia a área, ele precisava realizar uma autópsia, mas a prática não era aceita na cultura chinesa. Assim, foi necessário obter um corpo de uma estrangeira que havia morrido vítima da doença para que ele pudesse investigar o que acontecia em Harbin.

A autópsia de Wu Lien-teh levou-o à conclusão de que a epidemia que atingia a Manchúria era peste pneumônica. A partir daí, o médico aconselhou as autoridades chinesas a tomarem medidas rígidas para combater a doença, pois ela era transmitida pelo ar e por fluidos do corpo humano. As medidas sugeridas por Wu para combater a doença foram|1|:

  • restringir o deslocamento de pessoas;

  • hospitalizar os doentes;

  • desinfectar as residências;

  • proibir as pessoas de manterem contato.

O doutor Wu Lien-teh também propôs a cremação de corpos, pois havia uma grande quantidade de mortos não enterrados. Ele também temia que, depois do inverno, o calor poderia contribuir para um novo surto da doença. A cremação de corpos era vista como um ato extremamente sacrílego para a cultura chinesa, mas a emergência sanitária forçou o governo chinês a autorizar o ato.

Além disso, outra ação de Wu Lien-teh foi considerada essencial no combate ao surto de peste pneumônica. Ele recomendou que as autoridades incentivassem a população a fazer o uso de máscaras e, para isso, ele próprio elaborou uma máscara com diversas camadas de algodão e gazes.

A máscara criada por Wu Lien-teh em 1911 serviu como precursora para a criação da máscara PFF2 anos depois.
A máscara criada por Wu Lien-teh em 1911 serviu como precursora para a criação da máscara PFF2 anos depois.

As várias camadas de algodão e gazes atuavam como filtros, protegendo as pessoas e impedindo que os doentes transmitissem a doença pela respiração. Fala-se que, por meio da ação de Wu, cerca de 60 mil máscaras tenham sido produzidas e distribuídas para a população anos depois, quando um segundo surto epidêmico de peste pneumônica se iniciou em 1920|2|.

A máscara criada por Wu Lien-teh é considerada a precursora do atual modelo PFF2” — conhecido assim no Brasil, mas chamado de N95 nos Estados Unidos —, que é a máscara que tem sido apontada por alguns como a mais eficaz para a proteção das pessoas na pandemia do coronavírus.

As ações de combate à peste pneumônica de 1910/1911 que foram sugeridas por Wu Lien-teh deram resultado e, depois de quatro meses, não se registraram mais casos da doença na China. Essa epidemia que atingiu a região ficou conhecida como peste da Manchúria, e o sucesso da atuação sanitária da China foi debatido internacionalmente em uma conferência que reuniu grandes nomes da medicina.

Acesse também: Grandes epidemias da história

Últimos anos

Depois da atuação na peste da Manchúria, Wu Lien-teh se tornou um dos médicos mais respeitados da China e ganhou renome internacional. Ele continuou atuando na prevenção de epidemias e, anos depois, assumiu o Serviço de Prevenção no Norte da Manchúria. Wu também atuou na Associação Médica Nacional, presidindo-a entre 1916 e 1920.

Em 1930, Wu Lien-teh ainda foi nomeado para assumir o Serviço Nacional de Quarentena. A continuidade do trabalho de Wu Lien-teh como médico e sanitarista na China foi afetada pelo conflito travado contra o Japão. A invasão japonesa que deu início à Segunda Guerra Sino-Japonesa forçou Wu Lien-teh a deixar a China e ir para a Malásia.

Durante a Segunda Guerra Mundial, membros da resistência malaia e tropas japoneses desconfiaram da lealdade de Wu Lien-teh, mas ele se salvou nas duas ocasiões. Ao longo de sua vida, ele seguiu estudando e produzindo conteúdo científico. Ele passou seus últimos momentos em sua terra natal e morreu no dia 21 de janeiro de 1960, vítima de um derrame cerebral.

Notas

|1| Dr Wu Lien-teh: modernising post-1911 China's public health service. Para acessar, clique aqui [em inglês].

|2| Plague Masks: The Visual Emergence of Anti-Epidemic Personal Protection Equipment. Para acessar, clique aqui [em inglês].

Créditos da imagem:

[1] Commons

 

Por Daniel Neves Silva
Professor de História

Escritor do artigo
Escrito por: Daniel Neves Silva Formado em História pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) e especialista em História e Narrativas Audiovisuais pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Atua como professor de História desde 2010.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SILVA, Daniel Neves. "Wu Lien-teh"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/biografia/wu-lien-teh.htm. Acesso em 19 de março de 2024.

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