Infecção polimicrobiana: entenda o diagnóstico do Papa Francisco
Infecção polimicrobiana: entenda o diagnóstico do Papa Francisco
Médicos explicam as causas e consequências da infecção que acomete o Pontífice
Em 18/02/2025 15h19
, atualizado em 10/03/2025 13h40
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O resultado dos exames do Papa Francisco foi divulgado nesta segunda-feira, 17 de fevereiro, pelo Vaticano. O Pontífice está internado desde a manhã da última sexta-feira, 14 de fevereiro, no Hospital Policlínico Gemelli, em Roma, por um quadro de bronquite.
Os exames revelaram que Francisco apresenta uma infecção polimicrobiana das vias respiratórias, que exigiu a aplicação de um novo tratamento. Os resultados indicam que o quadro clínico é complexo e exige internação hospitalar adequada.
Segundo a Santa Sé, o Papa tem recomendações médicas de repouso absoluto e não há previsão de alta hospitalar. Devido à internação ele teve que cancelar diversos compromissos e, pela primeira vez, não conduziu a oração dominical Angelus, que aconteceu no dia 16 de fevereiro.
Vanessa Lentini (esquerda) e Heloina Claret De Castro (direita) médicas infectologistas
Crédito da imagem: acervo pessoal
A infecção polimicrobiana é uma infecção causada por mais de um microrganismo, que pode ser um fungo, vírus ou bactéria. A médica infectologista do Hospital Santa Marcelina, Vanessa Lentini, conta que esse tipo de infecção é uma forma de coinfecção, na qual o paciente, que já apresenta uma contaminação prévia, avança para outra.
“Sobre o diagnóstico do Papa Francisco, seria uma coinfecção, por exemplo, o paciente inicia com um quadro de infecção viral e posteriormente desenvolve um quadro bacteriano”
Vanessa Lentini
O diagnóstico é feito por exames laboratoriais, como a cultura, teste de antígeno, ou pela identificação do DNA e RNA de vírus, bactérias e fungos. O médico infectologista do Hospital Albert Einstein, Luis Fernando Aranha, explica que, a partir de novas tecnologias que identificam o material genético dos agentes infecciosos, tem sido mais comum o reconhecimento de infecções.
Esse tipo de contaminação não tem apenas uma causa única, quando já existe um quadro de inflamação inicial o organismo fica mais suscetível a uma nova infecção. Acontece muitas vezes de pacientes que já apresentam uma infecção viral desenvolverem outras infecções causadas por outros agentes, o mais comum, nessa situação, é ser seguida por uma infecção bacteriana.
Por mais que a sequência de infecções viral e bacteriana seja mais comum, também acontece de uma inflamação causada por vírus ser seguida de contaminação fúngica. Esse quadro foi muito comum durante a pandemia de Covid-19, em que o paciente dava entrada com a infecção viral e acabava, com tempo de internação, contraindo uma contaminação fúngica, comenta a médica Heloina Claret De Castro, infectologista cooperada da Unimed Goiânia.
Heloina ainda explica que é possível ter um quadro de infecção polimicrobiana com apenas bactérias como agentes. Esse tipo de coinfecção é mais comum ser encontrado em complicações envolvendo o intestino, “é um lugar onde tem bactérias aeróbias misturadas com bactérias anaeróbias. Quando vai tratar tem que usar antibióticos que cobrem os dois espéctros”, explica ela.
O doutor Luis Fernando, também comenta que o tratamento desse tipo de infecção é mais difícil, não necessariamente mais grave. É preciso que sejam adicionados diferentes tipos de medicamentos, cada medicação tem função de combater um agente diferente.
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Infecção polimicrobiana nas vias respiratórias
Dyanne Dalcomune (esquerda) e Elie Fiss (direita) médicos pneumologistas
Crédito da imágem: acervo pessoal
Inicialmente internado com bronquite, o quadro do Papa Francisco desenvolveu para uma pneumonia com múltiplos agentes. A médica pneumologista e professora do curso de medicina da Universidade Vila Velha, Dyanne Dalcomune, conta que, nesse caso, a infecção atrapalha o funcionamento dos pulmões, dificultando a troca de oxigenação.
Dyanne explica que, ao não realizar a troca de oxigenação de forma satisfatória, o nível de oxigenação no sangue diminui, o que leva a problemas em outros órgãos, uma vez que é necessário oxigênio suficiente para o funcionamento de todos órgãos. A progressão para um caso grave pode ser tão complicada a ponto de levar o paciente à morte.
O fato de Francisco ser idoso aumenta significativamente o fator de risco de seu atual estado de saúde, o médico Elie Fiss, pneumologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, comenta que a idade do paciente é um fator que influencia diretamente na complexidade do caso. Segundo o médico, idosos, crianças e pacientes com doenças crônicas, especialmente pulmonares, são mais suscetíveis a infecções múltiplas, por apresentarem a imunidade já comprometida.