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Manoel de Barros

Manoel de Barros foi um famoso poeta mato-grossense. Seus versos são marcados pelo lirismo das coisas simples. É autor de livros como Gramática expositiva do chão.

Escultura do poeta Manoel de Barros sentado em um sofá, em uma praça na cidade de Campo Grande.
Escultura em homenagem ao poeta Manoel de Barros. [1]
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Manoel de Barros foi um poeta mato-grossense, nascido em 19 de dezembro de 1916, na cidade de Cuiabá. Após receber uma fazenda do pai, como herança, se tornou fazendeiro no Pantanal. Mas, antes, morou no Rio de Janeiro, onde fez faculdade de Direito. A fama como escritor chegou tarde, nos anos 1980.

O autor morreu em 13 de novembro de 2014, em Campo Grande. E deixou livros apreciados tanto pelo leitor comum quanto pela crítica acadêmica. Em vida, o poeta também recebeu prêmios literários, como o Jabuti. Suas obras apresentam neologismos, fragmentação e traços autobiográficos.

Leia também: Lygia Fagundes Telles — outra premiada escritora brasileira

Tópicos deste artigo

Resumo sobre Manoel de Barros

  • O escritor brasileiro Manoel de Barros nasceu em 1916 e morreu em 2014.

  • O poeta, formado em Direito, também era fazendeiro no Pantanal.

  • Sua poesia apresenta elementos regionais, neologismos e traços autobiográficos.

  • Manoel de Barros é autor de obras como O livro das ignorãças e Memórias inventadas.

Biografia de Manoel de Barros

O escritor brasileiro Manoel de Barros nasceu em 19 de dezembro de 1916, em Cuiabá, no estado do Mato Grosso. Meses depois, sua família se mudou para uma fazenda no Pantanal. O poeta tinha cinco anos de idade quando começou a ser alfabetizado pela sua tia Rosa. E, em 1925, ingressou em um internato na cidade de Campo Grande.

Em seguida, estudou em um colégio interno no Rio de Janeiro. Já em 1934, se matriculou no curso de Direito, nessa mesma cidade. No ano seguinte, ele se filiou ao Partido Comunista Brasileiro. Dois anos depois, em 1937, o autor publicou seu primeiro livro — Poemas concebidos sem pecado.

Aproximadamente em 1941, exerceu a função de advogado no Sindicato dos Pescadores do Rio de Janeiro. Entre 1943 e 1945, conheceu os Estados Unidos, Bolívia, Peru, Itália, França e Portugal. De volta ao Brasil, deixou o Partido Comunista, em 1945, e se casou com Stella dos Santos Cruz por volta de 1946.

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Ao herdar uma fazenda do pai, em 1958, se mudou com a esposa e os filhos para o Pantanal. Como fazendeiro, seu tempo para a escrita foi reduzido, mas o poeta não desistiu de seus livros. Assim, em 1969, ganhou o prêmio da Fundação Cultural do Distrito Federal. Já em 1982, recebeu o APCA, prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte.

No ano de 1990, levou os prêmios Jabuti e Jacaré de Prata. O prêmio Alphonsus de Guimaraens foi recebido pelo poeta em 1996, pela obra O livro das ignorãças. E, no ano seguinte, o Prêmio Nestlé pela obra Livro sobre nada. Pelo conjunto da obra, recebeu o Prêmio Nacional de Literatura, em 1998.

Dois anos depois, ganhou os prêmios Cecília Meireles, Pen Clube do Brasil e Odylo Costa Filho. Outro Jabuti foi para as mãos do poeta em 2002. Mais um APCA, em 2005. Outro Prêmio Nestlé em 2006, agora pelo livro Poemas rupestres. Em 2012, foi agraciado com o prêmio Casa da América Latina, em Lisboa. Ele morreu em 13 de novembro de 2014, em Campo Grande.

Veja também: Principais diferenças entre poesia, poema e prosa

Características da obra de Manoel de Barros

As obras de Manoel de Barros apresentam estes elementos:

Mas o que chama a atenção em sua poesia, além das inúmeras palavras inventadas, é a construção inusual dos enunciados. Daí o poeta obtém grande efeito poético, que causa estranheza e fascinação, como é possível observar nestes versos de sua obra Livro sobre nada: “O pai morava no fim de um lugar” ou “Meu avô abastecia o abandono”.

Principais obras de Manoel de Barros

Capa do livro Gramática expositiva do chão, de Manoel de Barros.
Capa do livro Gramática expositiva do chão, de Manoel de Barros, publicado pela editora Companhia das Letras. [2]
  • Poemas concebidos sem pecado (1937)

  • Face imóvel (1942)

  • Poesia (1956)

  • Compêndio para uso dos pássaros (1960)

  • Gramática expositiva do chão (1966)

  • Matéria de poesia (1974)

  • Arranjos para assobio (1980)

  • Livro de pré-coisas (1985)

  • O guardador das águas (1989)

  • Concerto a céu aberto para solos de aves (1993)

  • O livro das ignorãças (1993)

  • Livro sobre nada (1996)

  • Retrato do artista quando coisa (1998)

  • Ensaios fotográficos (2000)

  • Exercícios de ser criança (2000)

  • O fazedor de amanhecer (2001)

  • Tratado geral das grandezas do ínfimo (2001)

  • Águas (2001)

  • Para encontrar o azul eu uso pássaros (2003)

  • Cantigas para um passarinho à toa (2003)

  • Poemas rupestres (2004)

  • Memórias inventadas I (2005)

  • Memórias inventadas II (2006)

  • Memórias inventadas III (2007)

  • Menino do mato (2010)

  • Escritos em verbal de ave (2011)

  • Portas de Pedro Viana (2013)

Saiba mais: Cinco poemas de amor do escritor Vinicius de Moraes

Poemas de Manoel de Barros

Vamos ler, a seguir, um trecho da obra Livro sobre nada:

As coisas tinham para nós uma desutilidade poética.
Nos fundos do quintal era muito riquíssimo o nosso
dessaber.
A gente inventou um truque pra fabricar brinquedos
com palavras.
O truque era só virar bocó.
Como dizer: Eu pendurei um bem-te-vi no sol...
O que disse Bugrinha: Por dentro de nossa casa
passava um rio inventado.
O que nosso avô falou: O olho do gafanhoto é sem
princípios.
Mano Preto perguntava: Será que fizeram o beija-flor
diminuído só para ele voar parado?
As distâncias somavam a gente para menos.
O pai campeava campeava.
A mãe fazia velas.
Meu irmão cangava sapos.
Bugrinha batia com uma vara no corpo do sapo e ele
virava uma pedra.
Fazia de conta?
Ela era acrescentada de garças concluídas.

Essa narrativa em verso apresenta também caráter lírico, pois gera ambiguidade e estranheza, devido ao uso de palavras como “desutilidade” e “dessaber”. E porque traz enunciados conotativos como: “Eu pendurei um bem-te-vi no sol...”, “Por dentro de nossa casa passava um rio inventado”, “O olho do gafanhoto é sem princípios” e “As distâncias somavam a gente para menos”.

Do mesmo livro é o fragmento abaixo, que traz construções poéticas como: “não tinha entidade pessoal, só coisal”, “desbrincou de nós”, “Só o obscuro nos cintila” e “boquiabriu-se”:

À mesa o doutor perorou: Vocês é que são felizes
porque moram neste Empíreo.
Meu pai cuspiu o empíreo de lado.
O doutor falava bobagens conspícuas.
Mano Preto aproveitou: Grilo é um ser imprestável
para o silêncio.
Mano Preto não tinha entidade pessoal, só coisal.
(Seria um defeito de Deus?)
A gente falava bobagens de à brinca, mas o doutor
falava de à vera.
O pai desbrincou de nós:
Só o obscuro nos cintila.
Bugrinha boquiabriu-se.

Frases de Manoel de Barros

A seguir, vamos ler algumas frases de Manoel de Barros, retiradas de sua obra O livro das ignorãças:

  • “Desaprender oito horas por dia ensina os princípios.”

  • “Ao lado de um pardal o dia dorme antes.”

  • “Se a criança muda a função de um verbo, ele delira.”

  • “Um girassol se apropriou de Deus: foi em Van Gogh.”

  • “Hoje eu desenho o cheiro das árvores.”

  • “As coisas não querem mais ser vistas por pessoas razoáveis.”

Créditos das imagens

[1] Flavio Andre / MTur Destinos / Wikimedia Commons

[2] Companhia das Letras (reprodução)

Fontes

BARROS, Manoel de. Livro sobre nada. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2016.

BARROS. O livro das ignorãças. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2016.

DUARTE JÚNIOR, Valdecir. O (des)espaço na poética de Manoel de Barros. 2016. 123 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Universidade Federal da Grande Dourados, Dourados, 2016.

FUNDAÇÃO Manoel de Barros. O poeta: cronologia. Disponível em: https://www.fmb.org.br/o-poeta.

MORAES, Camila. Morre Manoel de Barros, poeta do assombro e da descoberta. El País, São Paulo, 13 nov. 2014.

SILVA, Fernanda Martins da. História e Literatura: interpretações sobre a poética de Manoel de Barros. Coletâneas do Nosso Tempo, Rondonópolis, v. 7, n. 7, p. 51-66, 2008.

Por Warley Souza
Professor de Literatura

Escritor do artigo
Escrito por: Warley Souza Professor de Português e Literatura, com licenciatura e mestrado em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SOUZA, Warley. "Manoel de Barros"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/manoel-de-barros.htm. Acesso em 21 de novembro de 2024.

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