PUBLICIDADE
Auto da barca do inferno é um texto dramático do escritor português Gil Vicente. Nessa obra teatral, pecadores se veem obrigados a embarcar na barca do inferno, apesar de terem a falsa convicção de que merecem um lugar no céu. O diabo é o condutor dessa barca, enquanto um anjo está encarregado da barca da glória.
A obra foi escrita no início do século XVI e está inserida no movimento artístico denominado humanismo. Assim, traz elementos medievais, isto é, associados à religião católica. Mas também valoriza o aspecto humano de seus personagens, em um drama de caráter satírico.
Leia também: Marília de Dirceu — uma obra portuguesa ambientada no final do século XVIII
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre Auto da barca do inferno
- 2 - Análise da obra Auto da barca do inferno
- 3 - Contexto histórico de Auto da barca do inferno
- 4 - Vida de Gil Vicente
Resumo sobre Auto da barca do inferno
-
O português Gil Vicente nasceu no ano de 1465 e faleceu em 1536.
-
Auto da barca do inferno é a peça teatral mais famosa desse autor.
-
Ela foi escrita no início do século XVI, no contexto do Renascimento.
-
O drama, de caráter humanista, apresenta traços medievais e sátira social.
-
Nessa obra, um anjo e o diabo conduzem barcas para o céu e para o inferno.
-
O tolo Joane é o único personagem que consegue um lugar na barca da glória.
Análise da obra Auto da barca do inferno
→ Personagens da obra Auto da barca do inferno
-
Diabo
-
Companheiro
-
Fidalgo
-
Anjo
-
Onzeneiro
-
Joane
-
Sapateiro
-
Frade
-
Brísida
-
Judeu
-
Corregedor
-
Procurador
-
Enforcado
-
Cavaleiro
-
Outro cavaleiro
→ Tempo da obra Auto da barca do inferno
A obra não indica o tempo em que transcorre a ação. No entanto, pelas características dos personagens, é possível afirmar que ela mostra o contexto da época de sua criação, ou seja, início do século XVI.
→ Espaço da obra Auto da barca do inferno
Margem de um rio, onde estão atracadas duas barcas.
→ Enredo da obra Auto da barca do inferno
Um fidalgo chega ao rio, e o diabo o chama para subir em sua barca. O fidalgo quer saber para onde ela vai. O diabo responde que vai para “a ilha perdida”, para o inferno. O pecador resiste, e o diabo insiste para que ele embarque logo. Mas o fidalgo quer navegar na barca do anjo, que vai para o paraíso.
Tenta convencer a divindade de que, por ser um fidalgo, a barca do paraíso (ou da glória) é a apropriada para ele. Ao que o anjo contesta: “Não se embarca tirania neste batel divinal”. Joga na cara do fidalgo que ele desprezou “os pequenos”. Diante dessa realidade, o condenado lamenta e diz que, enquanto viveu, não pensou que existia inferno.
Afirma que tem uma “dama querida” que quer se matar por ele. O diabo então revela que a dama mentia. O fidalgo acaba aceitando seu destino e entra na barca. Então, aparece o onzeneiro (avarento) e também se nega a entrar na barca do inferno, quer viajar na do paraíso. Mas o anjo impede a sua entrada.
O onzeneiro manifesta o desejo de voltar ao mundo para buscar dinheiro e ver se assim o anjo lhe dá passagem. O diabo perde a paciência e faz com que ele entre na barca do inferno. Surge então Joane o Parvo, o qual vai até o diabo e, ao saber que a barca vai para o inferno, o destrata e se dirige ao anjo, que deixa o tolo entrar na barca da glória, já que ele não é malicioso e possui simplicidade.
Chega o sapateiro que enganou muita gente em vida. Ele tenta argumentar com o diabo, diz que ouviu missas. Vai até a barca da glória, mas o anjo o manda de volta ao diabo. Aparece então um frade de mãos dadas com uma moça, a qual é sua amante. Quando o frade pergunta ao diabo para onde vai a barca, o demônio responde que é para “aquele fogo ardente que não temestes vivendo”.
O frade fica confuso, pois acreditava que o hábito o protegia da condenação infernal. Por fim, acaba entrando na barca do inferno. Assim, a próxima condenada é uma alcoviteira chamada Brísida Vaz, que está crente de que vai para o paraíso, apesar de ter mentido e enganado.
Ela decide buscar a compaixão do anjo, mas ele nega sua entrada também. Após o embarque de Brísida Vaz na barca do inferno, aparece um judeu, que oferece dinheiro ao diabo para levar com eles um bode. Consegue embarcar de graça, mas na parte de trás da barca.
Chega um corregedor, que fica admirado com o fato de um homem de sua posição ir para o inferno. Porém, em vida, ele foi injusto e aceitou suborno. Antes de o corregedor embarcar, aparece um procurador, que também se nega a ir para o inferno. Os dois então se dirigem à barca da glória e tentam, em vão, convencer o anjo de que merecem ir para o paraíso.
O próximo a aparecer é um homem que foi enforcado, e ele também embarca na barca do inferno. Por fim, aparecem quatro cavaleiros que foram assassinados pelos mouros durante a guerra santa. Eles têm a certeza de que vão para o céu, mas o diabo os chama para sua barca. Porém, segundo o anjo, são “mártires da Madre Igreja” e por isso merecem a “paz eternal”|1|. Então, eles são recebidos na barca da glória.
→ Características da obra Auto da barca do inferno
A peça teatral Auto da barca do inferno não é dividida em cenas, apresenta apenas um ato e é escrita em versos. É a obra mais famosa de Gil Vicente e está inserida no humanismo, um movimento intelectual e artístico que apresenta elementos de transição entre a Idade Média e o Renascimento.
Esse drama vicentino é uma sátira social e, portanto, faz críticas à sociedade da época. Possui temática religiosa e moralizante, de forma a condenar os vícios e exaltar as virtudes humanas. Possui caráter popular, utiliza linguagem chula e apresenta personagens comuns.
Veja também: O primo Basílio — uma obra realista que faz críticas à sociedade burguesa da época
Contexto histórico de Auto da barca do inferno
A peça teatral Auto da barca do inferno foi escrita durante o reinado de D. Manuel I, iniciado em 1495. Portanto, está inserida no contexto histórico do Renascimento, apesar de Portugal ainda sofrer forte influência católica. Desse modo, a obra de Gil Vicente ainda contém traços medievais, mas também valoriza o aspecto humano.
Vida de Gil Vicente
Gil Vicente nasceu aproximadamente em 1465, na cidade portuguesa de Guimarães. Mais tarde, ao que tudo indica, atuou como ourives. Nunca estudou em uma universidade, mas sabia latim, espanhol, francês e italiano. Era um protegido da monarquia portuguesa, o que contribuiu para o seu sucesso como dramaturgo. O escritor faleceu no ano de 1536, em Évora.
Nota
|1| VICENTE, Gil. Auto da barca do inferno. Rio de Janeiro: BestBolso, 2011.
Crédito de imagem
[1] Ateliê Editorial (reprodução)
Por Warley Souza
Professor de Literatura