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Passeata dos Cem Mil

A Passeata dos Cem Mil foi uma manifestação que reuniu estudantes, artistas, intelectuais, religiosos e trabalhadores em oposição à repressão da Ditadura Militar Brasileira.

Chico Buarque durante a Passeata dos Cem Mil, em 1968.
Chico Buarque durante a Passeata dos Cem Mil, em 1968.
Crédito da Imagem: Commons
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A Passeata dos Cem Mil foi uma manifestação pacífica que reuniu estudantes, artistas, intelectuais, religiosos e trabalhadores em oposição à repressão da Ditadura Militar Brasileira, em 26 de junho de 1968, no Rio de Janeiro. Ocorrendo em um contexto de polarização ideológica global e marcada pelo assassinato do estudante Edson Luís, a passeata simbolizou a luta pela democracia em meio a um regime autoritário.

Apesar de seu impacto e ampla adesão, o evento foi seguido por maior repressão, culminando no AI-5, que intensificou a censura e a violência estatal. A passeata integrou um amplo cenário de oposição ao regime, que incluiu movimentos estudantis, greves operárias, ações culturais e a atuação de setores progressistas da Igreja Católica em defesa dos direitos civis e políticos.

Leia também: Marcha da Família com Deus pela Liberdade — a manifestação em favor da intervenção militar

Tópicos deste artigo

Resumo sobre a Passeata dos Cem Mil

  • A Passeata dos Cem Mil foi uma manifestação pacífica que ocorreu em 26 de junho de 1968, no Rio de Janeiro, contra a repressão da Ditadura Militar.
  • Reuniu cerca de cem mil pessoas no centro do Rio de Janeiro, destacando-se por seu caráter pacífico, pela diversidade de participantes e por reivindicações que pediam o fim da repressão militar e o respeito aos direitos civis e políticos.
  • Apesar de seu impacto simbólico, a passeata não obteve conquistas imediatas, sendo seguida pelo aumento da repressão que culminou no AI-5, intensificando a censura e a violência estatal durante os anos mais duros da ditadura.
  • Os principais movimentos contra a Ditadura Militar incluíram o movimento estudantil liderado pela UNE, greves operárias, ações de grupos de esquerda armada, mobilizações culturais e a atuação de setores progressistas da Igreja Católica em defesa dos direitos humanos.

O que foi a Passeata dos Cem Mil?

A Passeata dos Cem Mil foi um dos maiores e mais significativos atos de resistência contra o regime militar brasileiro, ocorrendo em 26 de junho de 1968, no Rio de Janeiro.

Reunindo cerca de cem mil pessoas, o evento foi um marco histórico pela amplitude de sua participação e por sua capacidade de unir diversos segmentos sociais em torno de uma pauta comum: a luta contra a repressão, a censura e as arbitrariedades do governo militar. Organizada por estudantes, artistas, intelectuais, religiosos e trabalhadores, a passeata se destacou pelo caráter pacífico e pela simbologia de um povo que exigia democracia e justiça social.

Esse movimento foi precedido por uma série de tensões políticas e sociais que culminaram na insatisfação popular diante das práticas autoritárias do regime. A mobilização se deu em resposta ao assassinato do estudante Edson Luís de Lima Souto, morto pela polícia militar em março de 1968, durante um protesto no Rio de Janeiro. Esse episódio causou comoção nacional e serviu como catalisador para uma articulação mais ampla de resistência.

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Contexto histórico da Passeata dos Cem Mil

A década de 1960 foi marcada por intensa agitação política e social no Brasil e no mundo. No plano internacional, a Guerra Fria polarizava o globo em dois grandes blocos ideológicos: o capitalista, liderado pelos Estados Unidos, e o socialista, comandado pela União Soviética. Essa divisão repercutiu diretamente na América Latina, onde regimes autoritários ganharam força com o apoio dos Estados Unidos, que buscavam conter o avanço do socialismo na região.

O Brasil, desde o Golpe Militar de 1964, vivia sob um governo que restringia liberdades civis, perseguia opositores e suprimia direitos fundamentais. Internamente, a sociedade brasileira estava dividida. Enquanto uma parcela apoiava o regime militar, acreditando que ele traria estabilidade e crescimento econômico, outra parte se organizava para resistir às medidas autoritárias.

Os movimentos estudantis, em especial, desempenharam um papel central na articulação da oposição ao regime. A UNE, fundada em 1937, tornou-se um dos principais veículos de organização dessa resistência, lutando não apenas por reformas educacionais como também pela defesa da democracia e dos direitos individuais e coletivos fundamentais.

O assassinato de Edson Luís foi o estopim para uma série de manifestações e protestos contra o regime militar. No entanto, a resposta das autoridades foi ainda mais violenta, o que aumentou a indignação popular. O clima de repressão crescente e insatisfação generalizada culminou na organização da Passeata dos Cem Mil, que conseguiu reunir um número impressionante de pessoas em um ato pacífico, mas contundente, contra o governo militar​.

Leia também: Anos de chumbo — o aumento da censura e da repressão aos opositores durante a ditadura

Como foi a Passeata dos Cem Mil?

A Passeata dos Cem Mil começou a ser organizada em meio a um cenário de crescente tensão. No dia 26 de junho de 1968, as ruas do centro do Rio de Janeiro foram tomadas por manifestantes de diversas origens e classes sociais. A mobilização contou com a participação de estudantes, artistas, intelectuais, religiosos e trabalhadores, unidos pela causa da liberdade e da democracia. Foi um evento marcado pela disciplina e pelo caráter pacífico, algo notável em um contexto de repressão tão severa.

Os manifestantes caminharam portando faixas e cartazes que expressavam seu descontentamento com a ditadura e suas exigências por liberdade política e justiça social. Entre as palavras de ordem estavam frases como “Abaixo a ditadura” e “Pela democracia”. Além disso, a passeata contou com discursos emocionantes de líderes estudantis e religiosos, que deram voz às demandas populares. Um aspecto relevante foi a presença de religiosos, como o arcebispo Dom Hélder Câmara, que reforçou o caráter ecumênico e plural do movimento.

A presença maciça de artistas e intelectuais também foi um elemento marcante. Cantores, dramaturgos e escritores estiveram na linha de frente, dando visibilidade e legitimidade à passeata. Essa participação destacou a importância da cultura como ferramenta de resistência e de engajamento político. Fotografias da época, como as de José Inácio Parente, eternizaram momentos emblemáticos da manifestação, revelando a diversidade de pessoas e grupos que compunham o movimento​.

O que ocorreu após a Passeata dos Cem Mil?

Apesar do sucesso imediato em mobilizar a sociedade e demonstrar o descontentamento popular, os efeitos da Passeata dos Cem Mil foram limitados em termos práticos. O regime militar não apenas ignorou as demandas dos manifestantes como também intensificou sua repressão. O evento provocou uma reação negativa por parte dos setores mais radicais do governo, que viam na manifestação um desafio direto à sua autoridade.

Em dezembro de 1968, apenas seis meses após a passeata, o governo promulgou o Ato Institucional nº 5 (AI-5), que marcou o início do período mais repressivo da ditadura. Com o AI-5, o governo militar ampliou seus poderes, fechou o Congresso Nacional, institucionalizou a censura e suprimiu ainda mais os direitos civis. Esse período ficou conhecido como os “anos de chumbo”, caracterizados por perseguição sistemática a opositores, prisões arbitrárias, torturas e desaparecimentos.

Embora tenha resultado em maior repressão, a Passeata dos Cem Mil deixou um legado importante. Ela simbolizou a resistência ao autoritarismo e inspirou outros movimentos de oposição. Além disso, a passeata demonstrou a força da mobilização popular e a capacidade de articulação de diversos setores da sociedade, elementos que seriam fundamentais para a redemocratização do Brasil na década seguinte.

Famosos na Passeata dos Cem Mil

Diversas figuras de destaque participaram da Passeata dos Cem Mil, conferindo maior visibilidade e impacto ao evento. Entre os artistas e intelectuais presentes, destacaram-se nomes como o do dramaturgo Augusto Boal e o da cantora Nara Leão, que usaram sua influência para apoiar o movimento. Intelectuais renomados também estiveram presentes, reforçando a legitimidade das reivindicações e ampliando a repercussão nacional e internacional do evento.

A participação de religiosos, como Dom Hélder Câmara, foi outro aspecto significativo. Representando um setor progressista da Igreja Católica, Dom Hélder reforçou o caráter plural e ecumênico da passeata, mostrando que a luta pela democracia transcendia divisões religiosas e ideológicas. Essas figuras públicas ajudaram a consolidar a Passeata dos Cem Mil como um marco na luta contra a Ditadura Militar.

Dom Hélder Câmara, participante da Passeata dos Cem Mil.
Dom Hélder Câmara, participante da Passeata dos Cem Mil.

Principais movimentos contra a Ditadura Militar

Além da Passeata dos Cem Mil, diversos outros movimentos se destacaram na resistência à Ditadura Militar Brasileira. Entre eles, podemos citar:

  1. Movimento estudantil: liderado pela UNE, organizou protestos, ocupações e atos públicos em defesa da democracia e da educação pública.
  2. Movimento operário: realizou greves e manifestações em polos industriais, como o ABC paulista.
  3. Movimentos de esquerda armada: grupos como a Aliança Nacional Libertadora (ANL) e o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8) optaram pela luta armada como forma de resistência ao regime.
  4. Movimento cultural: artistas e intelectuais usaram a música, o teatro e a literatura para criticar a ditadura e engajar a população.
  5. Igreja Católica: setores progressistas da Igreja, como os representados por Dom Hélder Câmara, desempenharam papel central na defesa dos direitos humanos e na oposição ao regime.​

Fontes

NUNES, Milena Ferreira Hygino; BARRETO, Silvia Lúcia dos Santos. Um acontecimento, três notícias: uma análise discursiva da capa de três jornais cariocas sobre a "Passeata dos Cem Mil". Revista Philologus, n. 55, suplemento: Anais da XIII JNLFLP, Rio de Janeiro: CiFEFiL, set./dez. 2018.

VIANNA, Pedro Fraga. A Passeata dos Cem Mil nas fotografias de José Inácio Parente. Orientadoras: Margarida de Souza Neves e Sílvia Ilg Byington. Rio de Janeiro: Departamento de História da PUC-Rio, 2012.

SILVA, Antonio Marcos de Sousa; SOUSA, Lucas Marcelo Tomaz de. Passeata dos cem mil em perspectiva: movimentos sociais, educação e política. In: LIMA, Ivan Costa et al. (Org.). Educação como forma de socialização, volume 3: educação e sociedade: debates contemporâneos para a cidadania. Porto Alegre: Editora Fi, 2018. p. 63-94.

SANTOS, Everton Silva; SILVA, Tamires Gomes da. A Passeata dos Cem Mil e seu vínculo com o Ato Institucional nº 5. Piracicaba: Universidade Metodista de Piracicaba, 2019.

Escritor do artigo
Escrito por: Tiago Soares Campos Bacharel, licenciado e doutorando em História pela USP. Bacharel em Direito e pós-graduado em Direito pela PUC. É professor de História e autor de materiais didáticos há mais de 15 anos.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

CAMPOS, Tiago Soares. "Passeata dos Cem Mil"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiab/passeata-dos-cem-mil.htm. Acesso em 21 de dezembro de 2024.

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