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O Mapa da Fome é uma ferramenta desenvolvida pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) para mapear os casos de subnutrição e insegurança alimentar no mundo. Trata-se de um sistema de monitoramento importante para o maior conhecimento acerca de como a escassez de alimentos afeta diferentes territórios, o que auxilia na elaboração de planos de ação para o combate desse que é um dos principais problemas sociais da atualidade, que é a fome.
Atualmente mais de 111 países estão no Mapa da Fome, incluindo o Brasil. Para ser incluso nesse sistema, pelo menos 2,5% da população do país deve estar com prevalência de subnutrição, taxa essa que no território brasileiro é, atualmente, de 2,8%. A meta é de que o Brasil deixe o Mapa da Fome até o ano de 2026.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre Mapa da Fome
- 2 - O que é o Mapa da Fome?
- 3 - Quais países estão no Mapa da Fome?
- 4 - O Brasil está no Mapa da Fome?
- 5 - Para que serve o Mapa da Fome?
- 6 - O Brasil sairá do Mapa da Fome?
- 7 - Projeções para o Mapa da Fome
- 8 - Medidas governamentais para países no Mapa da Fome
Resumo sobre Mapa da Fome
- O Mapa da Fome é uma ferramenta de monitoramento desenvolvida pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) para mapear os casos de subnutrição e insegurança alimentar em todo o mundo.
- Atualmente existem 111 países no Mapa da Fome, a maioria deles da África. Para ser incluso no mapa, é preciso uma taxa de pelo menos 2,5% da população com prevalência de subnutrição.
- O Brasil saiu do Mapa da Fome em 2014 depois de um trabalho intenso para combater esse problema no país entre 2002 e 2013. No ano de 2019, entretanto, o país voltou a integrar o Mapa da Fome.
- Houve uma queda significativa da prevalência de subnutrição no Brasil entre 2022 e 2023, e a taxa hoje é de 2,8%. Espera-se que o país deixe o Mapa da Fome novamente até 2026.
- Medidas como incentivos aos pequenos produtores agrícolas, políticas de acesso a alimentos saudáveis, criação de seguros contra desastres ambientais e climáticos e garantia de preços justos no mercado podem ajudar a combater o problema da fome.
O que é o Mapa da Fome?

O Mapa da Fome é um sistema de monitoramento global desenvolvido pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), uma agência da ONU, para identificar os diferentes níveis de segurança alimentar nos países, e ao mesmo tempo acompanhar a sua variação ao longo dos anos. Essa ferramenta providencia dois diferentes tipos de informação:
- Subnutrição: condição do indivíduo que não ingere a quantidade de nutrientes suficiente para a manutenção de seu organismo, o que provoca perda de peso e principalmente o adoecimento do corpo, impedindo a pessoa de conduzir uma vida saudável e ativa. A subnutrição é o principal fator utilizado para incluir ou não um país no Mapa da Fome. Para saber mais sobre subnutrição, clique aqui.
- Insegurança alimentar: condição do indivíduo que não possui acesso a alimentos saudáveis e seguros de maneira temporária ou permanente. Segundo a FAO, tal acesso pode ser físico, econômico ou social. Existem graus de insegurança alimentar, sendo a insegurança alimentar severa à fome de fato, que significa escassez de alimentos. Nesse caso, o indivíduo fica um ou mais dias sem se alimentar. Saiba mais sobre esse tema clicando aqui.
Portanto, o Mapa da Fome evidencia quais são os países cuja população está em situação de insegurança alimentar grave e em subnutrição. Além do mapa da FAO, existe também um outro Mapa da Fome desenvolvido pelo Programa Alimentar Mundial (WFP), também um órgão das Nações Unidas, lançado no ano de 2001 e que reporta a insuficiência do consumo de comida em todo o mundo.
No Mapa da Fome da WFP, uma série de informações é combinada para monitorar e melhor expressar a magnitude do problema da escassez de alimentos em determinadas áreas do planeta, como tamanho da população, clima, ocorrência de conflitos, riscos presentes e informações nutricionais. Diferente do mapa da FAO, entretanto, a WFP cobre 94 países e territórios. No presente texto, tratamos dos dados fornecidos através do Mapa da Fome da FAO.
Veja também: Dados atuais sobre a fome no mundo
Quais países estão no Mapa da Fome?
O Mapa da Fome da FAO conta, atualmente, com 111 países. De acordo com informações de 2023, um total de 733.000.000 de pessoas enfrentaram a fome no período em questão, das quais 20% vivem no continente africano. A Ásia e a América Latina são outras regiões que concentram elevado número de países no Mapa da Fome. Dessa forma, podemos afirmar que a maior parte dos países presentes no Mapa da Fome são economias emergentes e subdesenvolvidas.
São incluídos no Mapa da Fome da FAO os países que têm pelo menos 2,5% de sua população convivendo com falta de acesso a alimentos de uma maneira que se torna prejudicial para o desenvolvimento de suas atividades diárias, não conseguindo manter uma vida saudável. Esse valor indica, nesse sentido, a Prevalência de Subnutrição (PoU, na sigla em inglês), que foi criada pela FAO e é utilizada como critério para a composição do Mapa da Fome.
Alguns dos países que aparecem no Mapa da Fome e que têm mais de 40% da sua população em condição de subnutrição, de acordo com dados da FAO para 2023, são:
- Somália;
- República Centro-Africana;
- Lesoto;
- Madagascar;
- Haiti;
- Coreia do Norte.
Dentre os países com mais de 30% da população subnutrida e, portanto, passando fome, podemos citar:
- Guiné-Bissau;
- Libéria;
- Chade;
- República Democrática do Congo;
- Zimbábue;
- Uganda.
O Brasil está no Mapa da Fome?
Em diferentes momentos de sua história o Brasil esteve no Mapa da Fome. Não obstante a promoção de um conjunto de ações contra a fome no país, uma parcela significativa da população vivia em situação de insegurança alimentar e de fome no território brasileiro entre a década de 1990 e o início dos anos 2000. Além de questões históricas e estruturais responsáveis pelas desigualdades sociais, as políticas econômicas do período contribuíram para o aprofundamento desse problema.
O Brasil apareceu no Mapa da Fome da FAO entre 2002 e 2013, período esse em que surgiram políticas públicas de cunho social voltadas para a diminuição da insegurança alimentar no país. As medidas de transferência de renda para a população mais pobre foram, nesse sentido, de extrema importância para que as pessoas voltassem a ter acesso a uma alimentação saudável e segura, juntamente com programas de incentivo à agricultura familiar e o restabelecimento do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), criado em 1993 e suspenso dois anos depois.
Diante da ação do Estado, que além das medidas anteriores estabeleceu também o Programa Fome Zero, e da notória melhora na qualidade de vida da população, com aumento do salário mínimo e maior oferta de alimentos, o Brasil saiu do Mapa da Fome em 2014. À época, a FAO estabelecia como limite a parcela de 5% da população vivendo com a falta de alimentos para incluir um país nessa ferramenta, e o Brasil conseguiu bater essa meta.
A ministra do Desenvolvimento Social à época afirmou que ainda restava 1,7% da população brasileira passando fome no país em 2014. Esse dado representou uma queda de 82% entre 2002 e 2013. Com isso, o país conseguiu atingir um dos Objetivos do Milênio estabelecidos pela ONU no ano 2000, que era a erradicação da fome.
O Brasil esteve fora do Mapa da Fome entre 2014 e 2018, retornando no ano de 2019. A retomada da fome no país está diretamente ligada ao aumento da pobreza e da extrema pobreza nesse intervalo de tempo, tendo o Brasil permanecido no mapa da FAO até o presente. Enquanto em 2022 cerca de 8% da população brasileira passava fome, esse percentual caiu para 1,2% um ano mais tarde. Com isso, 14,7 milhões de pessoas deixaram de conviver com a escassez de alimentos em 2023.
Lembremos que a subnutrição é o indicador primordial para a inclusão ou não de um país no Mapa da Fome. A população brasileira subnutrida era de 4,2% no ano de 2022, e caiu para 2,8% em 2023. Isso indica que o país está muito próximo de, mais uma vez, deixar o Mapa da Fome. Dentre os fatores que contribuíram para essa queda está a recriação do Consea, que havia sido extinto em 2019.
Para que serve o Mapa da Fome?
O Mapa da Fome é uma ferramenta importante que serve para monitorar a intensidade com que a escassez de alimentos impacta a vida da população mundial. Seu uso auxilia os Estados na medida em que fornece dados para que os gestores territoriais possam agir no enfrentamento a esse que é um dos maiores problemas sociais do mundo atual, pensando que o combate à fome é um dos objetivos do desenvolvimento sustentável estabelecidos pela ONU.
O Brasil sairá do Mapa da Fome?
O Brasil atingiu um percentual de 2,8% da população com prevalência de subnutrição em 2023, número esse que se aproxima do patamar estabelecido pela FAO na composição de seu Mapa da Fome, que é de 2,5%. A queda do número de brasileiros nessa condição em um intervalo de apenas um ano foi muito significativa, e as projeções do governo apontam que o país pode sair do Mapa da Fome até 2026.
Isso será possível caso mantenha as políticas de combate à subnutrição e à insegurança alimentar juntamente com as medidas econômicas benéficas para a população com menor poder aquisitivo e com os incentivos oferecidos aos pequenos produtores agrícolas, o que tem contribuído para a ampliação da oferta de alimentos e também a acessibilidade a eles.
Projeções para o Mapa da Fome
A subnutrição e a fome se tornaram um problema crônico quando analisamos o cenário mundial, principalmente considerando os países subdesenvolvidos. A FAO projeta que, caso os fatores agravantes da insegurança alimentar persistam, o Mapa da Fome ainda terá 582.000.000 de pessoas no ano de 2030, conforme relatório lançado em 2024. Desse montante, metade apenas no continente África.
Em conjunto com o WFP, a FAO indica que existem 22 países e territórios em que a intensidade da fome e da insegurança alimentar podem aumentar entre 2024 e 2025, entre os quais estão a Palestina, principalmente na Faixa de Gaza, Líbano, Haiti, Mali e Sudão do Sul. Caso o Brasil consiga baixar a subnutrição a menos de 2,5%, será possível sair do Mapa da Fome.
Os fatores que criam essa tendência são vários, como os impactos do La Niña na produção agrícola, as crises econômicas, os conflitos políticos e territoriais (guerra entre Rússia e Ucrânia, conflitos na África e guerra no Oriente Médio entre Israel e o Hamas, afetando territórios como a Palestina e o Líbano) e os fenômenos naturais decorrentes das mudanças do clima, como secas severas ou chuvas intensas que resultam em inundações de grande escala.
Nota-se que a pandemia de covid-19 foi um agravante para o aumento da insegurança alimentar, e muitos países ainda não conseguiram se recuperar dos impactos socioeconômicos causados por essa crise sanitária que teve início em 2020.
Saiba mais: Qual a relação entre escassez de água e segurança alimentar?
Medidas governamentais para países no Mapa da Fome
Quando o Brasil saiu do Mapa da Fome em 2014, o país foi considerado pela FAO um exemplo a ser seguido no que diz respeito ao combate a esse problema social. Muitas das medidas governamentais adotadas pelo país foram cruciais para que houvesse a diminuição da população faminta. Algumas dessas medidas vão de encontro com as sugestões da FAO para o combate à subnutrição e à insegurança alimentar, o que é importante para os países no Mapa da Fome. Essas medidas incluem:
- Projetos que garantam o amplo acesso da população a uma dieta com alimentos saudáveis e com preços que atendam à parcela de mais baixa renda.
- Políticas públicas que visem ao aumento da renda média da população, o que permite o melhor cuidado com a alimentação e a saúde.
- Oferta de incentivos a pequenos produtores rurais, responsáveis pelo abastecimento do mercado local, para a produção de alimentos orgânicos e saudáveis.
- Criação ou fortalecimento de sistemas de proteção contra desastres naturais e catástrofes climáticas, permitindo ao produtor se recuperar de eventuais perdas e danos.
- Desenvolvimento de projetos que permitam o enfrentamento da crise climática global sem maiores prejuízos para a produção de alimentos.
- Implementação de sistemas de produção sustentáveis, que diminuem os impactos negativos ao meio ambiente e, por conseguinte, ao clima, evitando eventos extremos que causam a escassez de alimentos.
- Adoção de medidas que possam garantir que os alimentos cheguem até o consumidor final com um preço justo e acessível a todos.
- Programas voltados para a saúde da população em situação de desnutrição, principalmente para o público infantojuvenil, e acompanhamento regular de sua condição.
Fontes
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