O que é tirania?

Tirano era, no mundo antigo, um governante ilegítimo. A partir da Modernidade, a tirania passa a ser um governo autoritário que abusa do seu poder e das leis.

Conceito de tirania.
Crédito da Imagem: Brasil Escola

A tirania é, historicamente, um tipo de governo em que o líder chega ao poder ou continua na liderança de maneira ilegítima. Os primeiros registros de governos tiranos datam do período arcaico da Grécia Antiga (séculos VIII a.C. a VI a.C.), tanto é que a palavra tirania origina-se do vocábulo grego týrannos, que significa líder ilegítimo.

Por conta do abuso de poder e crueldade praticado por muitos governantes tiranos ao longo da história, o termo tirano passou por uma ressignificação, tornando-se sinônimo de governante autoritário e cruel que abusa de seu poder.

O que foi a tirania na sociedade grega

O período Arcaico da Grécia Antiga viu florescer as conhecidas cidades-estados (pólis) gregas. As pólis passavam por intensos e constantes conflitos tanto de ordem interna ao governo das próprias cidades quanto de ordem externa, como guerras. Nesse período, anterior ao florescimento da democracia em Atenas, muitos líderes aproveitaram-se de crises para usurpar o poder do governante, entrando no poder de maneira ilegítima.

É interessante notar que nem todos os tiranos da Grécia foram cruéis, autoritários e abusadores do poder. Os governos gregos anteriores à democracia ateniense eram baseados na aristocracia agrária — quando uma classe dominante, que possuía a maior parte da posse sobre as terras, recebia o direito legítimo de governar no sistema político grego, sendo que a posse de terra e o poder político eram hereditários.

Com a vinda de novos herdeiros das terras, no século VI a.C., a antiga aristocracia passou a ser questionada. Havia, pouco a pouco, uma revolta formando-se em torno do sistema político, e os legisladores Graco e Sólon, grandes reformadores da Grécia Antiga, promoveram uma mudança significativa nas leis, atendendo as reivindicações do povo. Nesse momento, passam a entrar no poder os primeiros tiranos gregos, que subverteram a ordem política vigente.

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Tirania em Atenas

Pisístrato, o primeiro tirano da Grécia.

O primeiro tirano de Atenas foi Pisístrato. Filho da aristocracia, o governante colocou-se no poder. Segundo o filósofo Aristóteles em seu livro Política, Pisístrato foi um grande reformador do sistema agrário, promovendo uma reforma que garantia maior distribuição de terras e, consequentemente, maior participação política de um maior número de pessoas dentro dos sistemas democráticos que surgiriam. O governo de Pisístrato aproximou-o das classes menos abastadas de Atenas e colocou-o como um tirano (por ter tomado o poder de forma ilegítima) que seguia as leis e que se preocupou com a justiça.

Seus filhos, Hípias e Hiparco, sucederam-no no poder após a sua morte, continuando a linha de governo do pai. A aristocracia ateniense encontrava-se cada vez mais enfurecida com os tiranos, que cada vez mais minavam os privilégios das elites. Em 514 a.C., um aristocrata matou Hiparco, o que fez com que Hípias promovesse uma série de perseguições políticas contra os aristocratas. Talvez começasse aí o período de abusos promovidos pelos governos tirânicos.

Governantes tiranos

Além de Pisístrato, Hípias e Hiparco, Iságoras foi o tirano grego responsável por retirar Hípias do poder e restabelecer os privilégios da aristocracia. Tempos depois, foi deposto por Clístenes, que restabeleceu o regime democrático em Atenas. Não obstante, o conceito de tirania que surgiu na Modernidade, e estendeu-se para a Contemporaneidade, abarca uma gama muito maior de governantes autoritários que desrespeitaram o sistema legal e utilizaram de seus cargos para oprimir o povo, governando pelo medo e pelo terror.

Adolf Hitler, um dos maiores tiranos da humanidade.

No Império Romano, Nero despontou-se como o pior tirano da história romana. Aos 17 anos, tornou-se imperador e, nessa época, já havia assassinado a própria mãe. O governo de Nero ganhou grande admiração popular por muito tempo devido aos espetáculos promovidos pelo tirano ao povo. Após ameaças de deposição recebidas e fortes indícios de desequilíbrio mental, além de rebeliões populares, o imperador ordenou que incendiassem Roma.

Na Rússia, Ivan, conhecido como “Ivan, o terrível”, foi o grande tirano de uma dinastia de czares que durou mais de 700 anos. Ele montou um exército sanguinário e chegou a espancar a sua própria nora, na ocasião grávida, o que causou a perda do bebê. O fato provocou um desentendimento entre Ivan e seu filho, o que culminou no assassinato do príncipe herdeiro por seu próprio pai.

Josef Stalin, líder totalitário da União Soviética.

No século XX, outros tiranos despontaram-se nos regimes totalitários (nazismo, fascismo e stalinismo). Hitler, Mussolini e Stalin foram líderes tiranos totalitários que governaram, respectivamente, Alemanha, Itália e União Soviética. Por incrível que pareça, eles conseguiram mobilizar as massas em torno de seus projetos políticos pelo terror implantado devido à suposta ameaça à nação de inimigos e da forte propaganda.

Hitler considerava os judeus como uma ameaça à soberania nacional; Mussolini considerava qualquer estrangeiro não europeu ou qualquer um que ele mesmo considerasse degenerado como ameaçadores; e Stalin considerou os burgueses e opositores políticos como ameaças ao projeto comunista. Via propaganda, os líderes totalitários impulsionaram uma forte ideologia para consolidar seus domínios implantando um medo social total.

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Várias ditaduras surgiram no século XX, o que evidenciou uma forte relação entre tirania e ditadura. Algumas ditaduras no mundo árabe chamaram a atenção pela tirania de seus líderes. Saddam Hussein, ditador megalomaníaco e com traços sociopatas, foi um desses ditadores e governou o Iraque entre 1979 e 2003, sendo deposto do poder pelas Forças Armadas dos Estados Unidos.

Saddam Hussein, ditador do Iraque.

Outro ditador tirano do Oriente Médio foi Muamar Kadáfi, da Líbia, que governou de forma brutal o seu país entre 1979 e 2012, quando morreu atacado por rebeldes estimulados pelo calor político da Primavera Árabe (protestos históricos iniciados em 2011 contra as tiranias ditatoriais, ocorridas no Egito pelo ditador Hosni Mubarak, que acabaram ecoando para outras ditaduras do Oriente Médio).

Em Uganda, na África, o curto governo de Idi Amin Dada durou de 1971 a 1979, mas foi um dos mais sanguinários de todos os tempos. A forte repressão política e perseguição aos opositores resultou em tortura e morte.

Idi Amin Dada, um dos tiranos mais sanguinários da história.

No Camboja, em tempo de Guerra Fria, o governo comunista do tirano Pol Pot, que começou em 1963 e terminou em 1979, foi responsável pela morte de dois milhões de pessoas (correspondente a 25% da população do país). Pot ordenou a execução de opositores e de várias pessoas de algum modo ligadas ao governo anterior. Foram executados professores, funcionários públicos, policiais e militares que serviram ao governo anterior, sob alegações de possibilidade de traição.

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PORFíRIO, Francisco. "O que é tirania?"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/o-que-e-sociologia/o-que-e-tirania.htm. Acesso em 22 de dezembro de 2024.

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