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O que são fontes históricas?

Fontes históricas são os itens (ou seus vestígios) produzidos pelo ser humano que são utilizados pelos historiadores para a produção do conhecimento histórico.

Quadro com o conceito de fontes históricas.
Conceito de fontes históricas.
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As fontes históricas são os itens materiais e imateriais (ou seus vestígios) que são produzidos pela ação humana. As fontes históricas são fundamentais para que o historiador possa realizar o seu trabalho de investigação do passado humano.

Os historiadores entendem atualmente que tudo que é produzido pelo ser humano pode ser considerado uma fonte histórica, portanto, não só o texto escrito deve ser entendido como tal. Assim, pinturas, esculturas, construções, fotos, vídeos e relatos orais também são úteis para o historiador. Fontes podem ser diretas, isto é, feitas por contemporâneos, ou indiretas, produzidas na consulta das fontes diretas.

Acesse também: Arte pré-histórica - uma fonte histórica importante para os historiadores

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Entendendo as fontes históricas

As fontes históricas são itens feitos pelos humanos no passado, ou vestígios desses itens, tendo função crucial no trabalho do historiador.
As fontes históricas são itens feitos pelos humanos no passado, ou vestígios desses itens, tendo função crucial no trabalho do historiador.

Um historiador tem como papel a produção de conhecimento relativo aos acontecimentos do passado da humanidade, e esse conhecimento é fundamental porque permite ao ser humano compreender a sua própria realidade com base nesse passado. Esse trabalho é feito mediante o estudo e a análise dos vestígios deixados pelos humanos de outras épocas, e a análise desses vestígios é feita por métodos desenvolvidos para auxiliarem nessa construção do conhecimento.

Esses vestígios do passado analisados pelo historiador são o que conhecemos como fontes históricas, também chamadas de documentos históricos. Nas palavras do historiador José D’Assunção Barros, as fontes históricas são itens materiais e imateriais ou vestígios deles que ajudam o historiador a construir uma compreensão acerca do passado humano|1|, pois, como defende Marc Bloch, “tudo que o homem diz ou escreve, tudo que fabrica, tudo que toca pode e deve informar sobre ele”|2|.

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Quando falamos de fontes materiais, estamos falando de vestígios concretos produzidos por mãos humanas, como textos, pinturas, fotos, filmes, roupas, construções etc. No caso das fontes imateriais, estamos falando diretamente de testemunhos obtidos de pessoas que viveram certo acontecimento histórico ou mesmo de lendas e histórias que são parte da cultura oral de um povo.

Até o século XIX, somente os documentos escritos oficiais, como o Tratado de Paris de 1783, eram considerados fontes históricas.
Até o século XIX, somente os documentos escritos oficiais, como o Tratado de Paris de 1783, eram considerados fontes históricas.

Até o século XIX, os historiadores acreditavam que o único tipo de documento válido para construção do conhecimento histórico era o escrito, sobretudo aquele produzido pelos meios oficiais, o Estado, as autoridades e os grandes homens. Essa noção foi sendo desfeita a partir do século XX, quando novos estudos mostraram que é possível construir-se conhecimento histórico com base em outras fontes.

Assim, o documento escrito continuou sendo uma importante fonte histórica, mas sua utilização ampliou-se. Não somente o documento oficial passou a ser considerado, mas também cartas pessoais, diários, relatos de viagens, obras de literatura, por exemplo, começaram a ser vistas como fontes históricas.

Outras fontes começaram a ser usadas pelos historiadores no trabalho de investigação do passado. Com isso, vestígios arqueológicos, como objetos, construções, roupas, pinturas, fotos, gravações em vídeo, filmes, músicas, testemunhos orais etc., também passaram a ser utilizados por eles.

Durante esse processo de diversificação das fontes, os historiadores também começaram uma interlocução maior com outras áreas do conhecimento, assim o que era produzido por áreas como a psicologia, a antropologia e a arqueologia, por exemplo, começou a ser utilizado no trabalho de análise das fontes históricas.

Os historiadores classificam fontes históricas como voluntárias e involuntárias. Nesse sentido, existem fontes e documentos históricos pensados e construídos de maneira proposital para registrarem determinados acontecimentos para a posteridade, enquanto outras fontes não foram necessariamente pensadas como registros para os homens do futuro.

O historiador Marc Bloch afirma que é a segunda categoria (fontes históricas involuntárias) que geralmente possui a maior confiança dos historiadores, uma vez que, por não se tratar de fontes legadas de maneira proposital, possui detalhes muito importantes para a investigação histórica. Ele ainda exemplifica apontando que documentos secretos produzidos por governos, no período de 1938 e 1939, dizem muito mais sobre os acontecimentos daquela época do que os jornais do período|3|.

Isso, no entanto, não significa que tais fontes devem ser menosprezadas, mas que existem fontes históricas que possuem informações muito mais valiosas do que outras. Por isso, o trabalho de investigação do historiador não cessa, pois quanto mais fontes forem encontradas, melhor será a interpretação produzida por esse profissional.

Leia mais: O relarto de Hans Staden ajuda no entendimento da vida dos indígenas no Brasil do século XVI

Tipos de fontes históricas

Objetos pessoais, como documentos, cartas e fotos, são fontes históricas utilizadas no trabalho do historiador.
Objetos pessoais, como documentos, cartas e fotos, são fontes históricas utilizadas no trabalho do historiador.

Como vimos, os historiadores atuais fazem uso de uma série de fontes documentais, e essa utilização enriquece o conhecimento produzido. Existem diferentes tipos de fontes históricas, e José D’Assunção Barros organiza-as em quatro, que são|1|:

  • Documentos textuais: documentos oficiais, cartas pessoais e governamentais, diários, relatos de viagens, crônicas, livros literários, processos de justiça, jornais etc.
  • Vestígios arqueológicos e fontes da cultura material: referem-se a itens resgatados pela arqueologia, como construções, ruas, estátuas, objetos funerários, roupas, peças de cerâmica etc. Outros itens mais modernos e que não foram resgatados pela arqueologia também se encaixam aqui.
  • Representações pictóricas: quadros, fotos, afrescos, pinturas rupestres, charges etc.
  • Registros orais: testemunhos pessoais e mitos transmitidos oralmente de geração para geração.

Existe também uma classificação, para diferenciar-se os tipos de fontes produzidas na própria época dos acontecimentos daquelas produzidas na posteridade, com base em relatos antigos. Assim, existem fontes primárias e secundárias. Esses termos, no entanto, estão entrando em desuso e ficando mais conhecidos como fontes diretas e fontes indiretas. Portanto:

  • Fontes diretas: produzidas por pessoas na mesma época dos acontecimentos registrados.
  • Fontes indiretas: produzidas com base nos relatos e vestígios da época, portanto, as fontes indiretas constroem-se por meio das fontes diretas.

Exemplificando essa questão, no estudo da Peste Negra, podemos considerar o relato de Giovanni Boccaccio como uma fonte primária (ou direta) porque ele viveu em Florença, na Itália, durante a Peste Negra no século XV e, portanto, presenciou o que aconteceu durante essa pandemia. Agora, se formos estudar a Peste Negra com base nos estudos de historiadores modernos, como Jacques Le Goff, estaremos fazendo uso de fontes secundárias (ou indiretas).

Acesse também: Anne Frank - jovem holandesa que tem seu diário como uma fonte do Holocausto

Exemplos de fontes históricas

Agora que ampliamos um pouco nosso conhecimento sobre fontes históricas, podemos ver alguns exemplos delas. Vejamos o seguinte relato:

Os chamados Velhos Saxões não têm rei, mas um grande número de chefes colocados à cabeça de sua nação. Em caso de guerra iminente, havia um sorteio com critérios iguais para todos; e aquele que a sorte favorecesse, era seguido como general todo o tempo de guerra; obedeciam-no, mas, finda a guerra, todos os chefes tornavam a ser iguais em poder|4|.

Esse relato sobre os chefes dos saxões — um povo germânico que se estabeleceu na região da Bretanha e em outras partes da Europa Continental — foi escrito por Beda, o Venerável, um monge anglo-saxão que viveu na Bretanha do século VII ao VIII. O relato fala dos ealdseaxe, os saxões que habitavam a Europa Continental, e pode ser considerado uma fonte documental porque foi registrado no livro História eclesiástica do povo inglês.

Xilogravura produzida por Benjamin Franklin pela união das colônias inglesas na América do Norte contra os franceses, na década de 1750.
Xilogravura produzida por Benjamin Franklin pela união das colônias inglesas na América do Norte contra os franceses, na década de 1750.

Como exemplo de fonte pictográfica, podemos considerar uma xilogravura produzida por Benjamin Franklin no século XVIII. Essa xilogravura trazia o escrito “join, or die”, que, em uma tradução livre, significa “junte-se, ou morra”, e manifestava a intenção de Franklin em unir as colônias inglesas contra os franceses na América do Norte.

Portanto, ela pode ser utilizada na análise de um determinado contexto da história das Treze Colônias que se refere à Guerra Franco-Indígena. Posteriormente, essa xilogravura tornou-se um símbolo utilizado na Revolução Americana e na Guerra Civil Americana.

Os palácios e os afrescos cretenses são importantes fontes arqueológicas para os historiadores que se dedicavam à história grega.[1]
Os palácios e os afrescos cretenses são importantes fontes arqueológicas para os historiadores que se dedicavam à história grega.[1]

Quanto às fontes arqueológicas, podemos usar como exemplo os vestígios da civilização minoica (ou civilização cretense) encontrados pelos arqueólogos na passagem do século XIX para o XX. Entre esses vestígios estão uma série de afrescos, isto é, pinturas que eram feitas nas paredes dos palácios. Esses afrescos serviram como base para os historiadores entenderem um pouco da cultura e da vida dos cretenses. O Palácio de Cnossos é um dos sítios arqueológicos mais famosos dessa civilização.

Notas

|1| BARROS, José D’Assunção. Fontes históricas: revisitando alguns aspectos primordiais para a Pesquisa Histórica. Para acessar, clique aqui.

|2| BLOCH, Marc. Apologia da história ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. p. 79.

|3| Idem, p. 76-77.

|4| PEDREIRO-SÁNCHEZ, Maria Guadalupe. História da Idade Média: textos e testemunhos. São Paulo: Unesp, 2000. p. 32.

Créditos da imagem

[1] Pecold e Shutterstock

 

Por Daniel Neves
Professor de História

Escritor do artigo
Escrito por: Daniel Neves Silva Formado em História pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) e especialista em História e Narrativas Audiovisuais pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Atua como professor de História desde 2010.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SILVA, Daniel Neves. "O que são fontes históricas?"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/historia/o-que-sao-fontes-historicas.htm. Acesso em 24 de abril de 2024.

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