Augusto Pinochet foi um ditador e militar chileno que liderou o golpe militar naquele país e o governou por 17 anos, de 1973 a 1990, estando à frente de uma das ditaduras mais repressivas da história da América Latina no século XX. Seu governo é lembrado pela terrível repressão política que empreendeu e pela transformação econômica de caráter monetarista e liberalizante que realizou no Chile.
Leia também: Quem foram os presidentes durante a Ditadura Militar no Brasil?
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre Augusto Pinochet
- 2 - Quem foi Augusto Pinochet?
- 3 - Carreira militar de Augusto Pinochet
- 4 - Augusto Pinochet e o golpe militar
- 5 - Augusto Pinochet e a ditadura militar no Chile
- 6 - Morte de Augusto Pinochet
- 7 - Exercícios resolvidos sobre Augusto Pinochet
Resumo sobre Augusto Pinochet
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Augusto Pinochet foi um militar e ditador chileno que liderou o golpe de 1973 e governou o país por 17 anos.
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Nascido em 1915, em Valparaíso, teve infância disciplinada e religiosa. Ingressou na Escola Militar aos 15 anos, onde se destacou pela disciplina.
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Casou-se em 1943 com Lucía Hiriart. O casal teve cinco filhos, que se tornaram figuras públicas durante e após a ditadura.
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Pinochet entrou na Escola Militar em 1931 e se formou em 1936 como subtenente.
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Nos anos 1950, tornou-se instrutor e teórico militar, reforçando sua imagem de oficial técnico e confiável.
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Promovido a coronel em 1967 e a general em 1971, era visto como moderado.
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O presidente Salvador Allende o nomeou comandante-chefe em agosto de 1973, pouco antes do golpe que ele próprio lideraria.
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O golpe de 11 de setembro de 1973 instaurou no Chile uma ditadura marcada por forte repressão e milhares de vítimas.
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A ditadura chilena foi um regime autoritário e personalista liderado por Pinochet, marcado por forte repressão e reformas econômicas liberais.
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A crise dos anos 1980, a pressão social e internacional levou ao plebiscito de 1988, cuja vitória do “Não” à continuação do regime autoritário iniciou a transição democrática.
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Pinochet morreu em 10 de dezembro de 2006, aos 91 anos, após anos marcados por forte polarização e processos judiciais no Chile e no exterior.
Quem foi Augusto Pinochet?
Augusto José Ramón Pinochet Ugarte foi um ditador e militar chileno que liderou o golpe militar naquele país em 1973 e governou o país por 17 anos, de 1973 a 1990, estando à frente de uma das ditaduras mais repressivas da história da América Latina no século XX. Seu governo é lembrado especialmente por dois aspectos: a terrível repressão política que empreendeu e a transformação econômica de caráter monetarista e liberalizante que realizou no Chile.
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Nascimento
Augusto Pinochet nasceu em 25 de novembro de 1915, em uma família de classe média, na cidade de Valparaíso, um dos centros urbanos mais dinâmicos do Chile no início do século XX, com o principal porto de passageiros do país então, o que fazia com que a cidade tivesse forte presença de estrangeiros e militares. Ele era o filho primogênito de Augusto Pinochet Vera, funcionário público que trabalhava no serviço aduaneiro, e de Avelina Ugarte Martínez, dona de casa.
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Infância
Augusto Pinochet passou a sua infância em Valparaíso e, depois, em Quillota e Santiago, acompanhando as transferências profissionais do pai, um servidor público. Apelidado entre os familiares como Tito, ele cresceu em um ambiente familiar bastante tradicional, marcado pelo catolicismo, conservadorismo e muitos irmãos: eram cinco, ao todo. Seus pais tinham hierarquia, disciplina e prática religiosa como elementos centrais da criação dos filhos, o que moldou seu caráter desde cedo.
Os biógrafos relatam que ele era uma criança séria, reservada, pouco dada à vida social. Os professores o consideravam um aluno aplicado, obediente e mais inclinado ao cumprimento de regras e ordens que a atividades lúdicas e criativas.
Aos quatro anos de idade, foi atropelado por uma charrete, que passou sobre sua coxa esquerda. O acidente foi visto inicialmente como meros arranhões e tratado em casa, mas, oito meses depois, ele passou a sofrer fortes dores e inchaço. Foi então levado ao hospital por sua mãe, dona Avelina.
O diagnóstico inicial dos médicos recomendava que a perna da criança fosse amputada para que a infecção não se espalhasse pelo corpo. Depois, especialistas indicaram simples banho de sol e repouso. A amputação não foi necessária e, após alguns meses, ele estava totalmente recuperado. Esse fato é de grande relevância em sua biografia, pois teria impedido sua carreira militar e, consequentemente, sua ascensão como ditador.
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Juventude
Na adolescência, Pinochet estudou em colégios católicos e depois em escolas públicas. A mudança mais importante da sua juventude aconteceu em 1931 quando, aos 15 anos de idade, ele foi aceito na Escola Militar de Santiago.
Sua entrada precoce na carreira militar lhe ofereceu estabilidade social, certa ascensão dentro da classe média chilena e uma formação rígida, que lhe fez valorizar ainda mais hierarquia e disciplina. Pinochet não foi um prodígio na carreira militar, mas sim um aluno disciplinado, meticuloso e persistente.
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Casamento
Pinochet se casou em 29 de janeiro de 1943, aos 28 anos de idade, na Igreja (católica) Sagrado Corazón de Jesús de la Alameda, com Lucía Hiriart Rodríguez, filha de um influente advogado e político de centro-esquerda chileno, Osvaldo Hiriart, que havia sido senador e ministro do Interior.
Os pais da noiva foram inicialmente contra o matrimônio, tanto pela carreira militar do noivo, o que não era muito do agrado do pai de pensamento político de centro-esquerda, do chamado Partido Radical de Chile, como também pela origem de classe média de Pinochet, bem abaixo da classe mais abastada a que pertencia a família de Lucía.
Esse casamento teve impacto direto na ascensão social de Pinochet, aproximando-o de elites políticas, de redes de patronagem importantes dentro e fora das Forças Armadas e de grupos que se opunham à esquerda chilena (inclusive a centro-esquerda). Lucía Hiriart se tornou uma figura política bastante ativa durante a ditadura de Pinochet, presidindo instituições femininas ligadas ao regime e exercendo forte influência no círculo íntimo do general.
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Filhos
Augusto Pinochet e Lucía Hiriart tiveram cinco filhos: três mulheres e dois homens. Eles foram, por ordem de nascimento, Inés Lucía (nascida em 1943), María Verónica (1944), Jacqueline Marine (1945), Augusto Osvaldo (1946) e Marco Antonio (1949).
Durante a ditadura chilena, a família Pinochet se tornou parte da vida pública do Chile, ocupando posições de prestígio e, posteriormente, sendo alvo de investigações sobre enriquecimento ilícito e irregularidades financeiras.
Carreira militar de Augusto Pinochet
Pinochet ingressou na carreira militar em 1931, quando foi aceito na Escola Militar de Santiago, e se formou em 1936 como subtenente de infantaria. Ele não foi um aluno que se destacou pelo seu desempenho: não era brilhante nem diferenciado, mas muito disciplinado e persistente. Era considerado pelos superiores como um cadete bastante aplicado, cumpridor rígido das regras e ordens, mas não estava entre os mais carismáticos ou com mais liderança natural.
Seu perfil disciplinado, técnico e pouco expansivo foi base de uma expansão lenta nas fileiras do Exército chileno, porém consistente. Entre os anos de 1930 e 1940, ele serviu em diversas regiões do país, especialmente no norte, área árida e mais isolada. Seus contemporâneos descrevem seu perfil como sendo alguém que costumava evitar conflitos, manter relações cordiais com os superiores e cultivar lealdades dentro da instituição.
Nos anos de 1950, Pinochet iniciou sua trajetória como instrutor e teórico militar, o que contribuiu bastante com sua reputação dentro das Forças Armadas. Entre suas atividades, destacaram-se a participação em cursos da Academia de Guerra do Chile, a elaboração de textos sobre geopolítica e segurança interna, bem como participação em publicações militares. Sua produção intelectual era considerada convencional, mas reforçava sua imagem como oficial estudioso e confiável, qualidades que eram valorizadas na doutrina militar chilena de então.
Entre os anos de 1956 e 1958, Pinochet participou de uma missão de colaboração militar no Equador, contribuindo para a reorganização das Forças Armadas daquele país. Essa experiência internacional ampliou seu prestígio e reforçou sua imagem de oficial tecnocrático, hábil na administração e na doutrina militar, imagem que tentaria reforçar posteriormente durante todo o período ditatorial.
Pinochet foi promovido a coronel em 1967, a general de brigada em 1969 e a general de divisão em 1971. Essas promoções ocorreram em um contexto de crescente polarização política no Chile. Dada a sua personalidade discreta e sua imagem cultivada de técnico e estudioso, Pinochet era visto pela classe política e por outros militares como um oficial moderado, como um “institucionalista”, avesso a posicionamentos políticos ostensivos, percepção que seria crucial para sua nomeação ao comando do Exército posteriormente em um momento de grande tensão institucional.
Em 23 de agosto de 1973, apenas três semanas antes do golpe de Estado que mergulharia o Chile em uma ditadura, o presidente chileno Salvador Allende nomeou Pinochet como comandante-em-chefe do Exército chileno, acreditando poder confiar nele e que esse oficial o ajudaria a conter tensões e evitar rupturas dentro das Forças Armados. A história mostrou que Pinochet não mereceu essa confiança. Em menos de um mês, Pinochet lideraria um movimento de rompimento institucional contra o presidente que o nomeou.
Augusto Pinochet e o golpe militar
O golpe militar de 11 de setembro de 1973 marcou a história do Chile, instalando um regime autoritário naquele país que durou quase duas décadas e foi responsável por milhares de mortos, torturados, perseguidos e exilados, representando um dos capítulos mais tristes da história daquele país e da América Latina.
O general Augusto Pinochet teve um papel de liderança na instalação desse regime e esteve à frente desse regime ditatorial durante todo esse período. No entanto, o golpe não foi obra de um único general, mas sim o resultado de uma crise política e institucional profunda que, somada à ação das Forças Armadas do Chile, apoiadas pelo governo dos Estados Unidos da América e em um contexto de Guerra Fria, deram cabo das instituições democráticas naquele país.
Os anos que antecedem o golpe militar no Chile de 1973 são marcados por uma crise política, social e institucional que foi se acirrando. O governo de esquerda, democraticamente eleito e no poder desde 1970 do presidente Salvador Allende, enfrentava uma tensão crescente.
Entre os fatores que compunham essa tensão está a forte polarização política entre esquerda e direita no país, retroalimentada pelo contexto internacional de Guerra Fria. Soma-se a isso o fator econômico, com cenário de inflação crescente e com essa alta do custo de vida afetando a popularidade do governo Allende, além de um acirramento dos debates em torno das políticas distributivas e economicamente nacionalistas (anti-imperialistas) do governo.
Nesse contexto, havia um forte conflito entre os poderes Executivo e Legislativo em torno das propostas do governo, o que dificultava que diversas reformas e propostas de condução da crise apresentadas por Allende pudessem prosperar. A consequência foi a radicalização de setores civis e militares de direita que se colocavam na posição de romper os limites institucionais da disputa democrática. Diante de todo esse cenário de tensão interna, o Chile também sofreu com as diversas intervenções mais ou menos indiretas dos Estados Unidos nos assuntos internos do país, o que tornava as instituições políticas do país ainda mais instáveis.
Esse cenário de tensão institucional alimentou a percepção dentro das Forças Armadas chilenas de que o país caminhava para uma ruptura institucional. As fontes|1| não apontam que o general Pinochet já tivesse uma postura de conspiração ativa até o início do ano de 1973, elas apontam que ele se alinhou ao movimento golpista apenas nas últimas semanas antes do golpe. É um movimento que coincide temporalmente com sua nomeação como comandante-em-chefe do Exército em 23 de agosto de 1973. Sua nomeação foi decisiva para o papel de liderança que ele teria no desferimento desse golpe, bem como na condução do regime, pois aumentou sua autoridade diante dos companheiros de farda, aproximou-o dos generais favoráveis ao golpe e lhe permitiu coordenar o papel do Exército na operação final.
Pinochet, portanto, passou, no prazo de poucas semanas, da posição de um oficial considerado “institucionalista”, fiel à Constituição e aos poderes democraticamente instituídos, a não somente um militar golpista, mas a coordenador central e principal articulador do golpe de Estado que aniquilou a Constituição e a democracia naquele país.
A execução do golpe se iniciou na manhã de 11 de setembro de 1973, quando a Marinha iniciou as operações ocupando Valparaíso. Logo depois o Exército cercou pontos estratégicos da capital, Santiago. Os carabineros (polícia militar chilena) aderiram ao movimento.
Então ocorreu um dos momentos mais icônicos desse dia fatídico: a Força Aérea chilena bombardeou o palácio presidencial, o Palácio de La Moneda, onde estava então o presidente da República, Salvador Allende, que permaneceu no local até o fim e onde morreu, alegadamente por suicídio.
Pinochet atuou como coordenador do Exército e participou das decisões estratégicas desse dia. As comunicações internas das lideranças do movimento mostram que ele assumiu rapidamente um papel de liderança na Junta Militar que se formou, composta pelos chefes das quatro armas: Exército (Augusto Pinochet), Marinha (José Toribio Merino), Força Aérea (Gustavo Leigh) e Carabineros (César Mendoza).
Em tese, inicialmente, eles formariam um governo colegiado. Na prática, Pinochet manobrou politicamente dentro da Junta para rapidamente assumir a liderança do processo, o que ocorreu oficialmente em 27 de junho de 1974, quando ele foi nomeado “Chefe Supremo da Nação”.
A partir desse momento, Pinochet concentrou poderes civis e militares amplos e afastou ou neutralizou (assassinou, prendeu ou exilou) figuras que poderiam rivalizar com ele. Assim, um regime autoritário que se pretendia colegiado se tornou, em pouco tempo, uma ditadura personalista centrada na figura do general Pinochet.
Augusto Pinochet e a ditadura militar no Chile
A ditadura militar no Chile durou de 1973 a 1990 e foi um regime fortemente centralizado, sustentado por repressão política sistemática e por transformações econômicas controversas e de grande alcance.
Logo após o golpe, a recém-formada Junta Militar, com os comandantes das quatro Forças Armadas (Exército, Marinha, Força Aérea e Carabineros), dissolveu o Congresso, suspendeu a Constituição de 1925 e proibiu os partidos políticos. Pinochet rapidamente acumulou funções e assumiu o centro do poder no novo regime, até que, em 1974, tornou-se Chefe Supremo da Nação, o líder máximo do regime. Em 1981, alterou o título que ostentava para “presidente da República”, embora nunca tivesse sido eleito para esse cargo.
A ditadura chilena se desenvolveu como um regime personalista, ainda que revestido de estrutura militar, o que a diferencia de outros regimes autoritários latino-americanos do mesmo período, como o brasileiro. Foi um dos regimes mais autoritários e repressivos desse período no continente, marcado por milhares de desaparecimentos (quase sempre mortos), torturas e prisões.
A violência estatal do período é documentada de forma minuciosa por relatórios oficiais. Segundo o Relatório Rettig (1991)|1|, houve mais de três mil desaparecidos durante o regime. Já o Relatório Valech (2004)|3| aponta que houve mais de 28 mil vítimas de tortura e prisão política.
Os principais órgãos responsáveis pela repressão política durante o regime foram a temível DINA (Dirección de Inteligencia Nacional), comandada por Manuel Contreras, e que foi substituída posteriormente pela igualmente violenta CNI (Central Nacional de Informaciones). Centros de detenção como a Villa Grimaldi, Londres 38 e o Estádio Nacional tornaram-se símbolos da violência ditatorial nesse período.
Foi nesse período que os regimes autoritários do subcontinente sul-americano se articularam em torno da chamada Operação Condor, aliança repressiva desses regimes voltada para perseguir opositores além das fronteiras nacionais e que hoje é um dos símbolos de um dos períodos mais obscuros dessa região.
Outro aspecto muito marcante desse período foram as reformas econômicas de cunho liberal implementadas pelos chamados “Chicago Boys”, economistas chilenos formados na Universidade de Chicago, nos Estados Unidos. As reformas implementadas incluíram uma abertura econômica acelerada do país, a privatização de empresas estatais, a desregulamentação econômica, uma reforma trabalhista bastante favorável aos empresários, a privatização parcial da previdência social (sistema de AFPs) e uma ampla redução do papel do Estado na economia.
Essas políticas reestruturaram profundamente a economia chilena, provocaram uma forte recessão e desemprego no início dos anos 1980, e fixaram a economia chilena sobre novas bases, consolidando um novo modelo econômico, muito mais articulado aos setores privados e investimentos estrangeiros e menos vinculado ao capital nacional e à intervenção estatal no mercado.
Em um esforço de institucionalização do regime, que se estendia no tempo, a ditadura elaborou e outorgou uma nova Constituição em 1980, sem garantias democráticas. Os dispositivos dessa Carta Constitucional garantiam a permanência de Pinochet no poder até 1989, criavam mecanismo de tutela militar da sociedade e das instituições, introduziram figuras como “senadores designados” e “senadores vitalícios”, fortaleciam o Executivo nas mãos dos militares e limitavam as forças de oposição. A Constituição de 1980 moldou as bases políticas do Chile por décadas, mesmo após o fim da ditadura em 1990, e só passou por reformas substanciais a partir dos anos 2000.
A oposição ao regime autoritário chileno cresceu a partir dos anos de 1980, impulsionada pela grave crise econômica que ocorreu em 1982, pela mobilização de sindicatos, estudantes e movimentos sociais e pela pressão internacional em prol dos Direitos Humanos que ganhava impulso nesse período.
Nesse contexto de grande pressão popular e internacional, o regime foi pressionado a ceder e a realizar um plebiscito previsto na Constituição em 5 de outubro de 1988, em que a população votou a favor e contra a continuidade de Pinochet no poder: 55,99% dos votos (aproximadamente 3.967.569 votos) se colocaram contra a continuidade do ditador, enquanto 44,01% dos votos (aproximadamente 3.109.122 votos) se posicionaram a favor da continuidade de Pinochet. Esse resultou deu início à transição democrática no Chile, que se consolidou em 1990, com a saída de Pinochet do poder. No entanto, ele continuou como comandante-chefe do Exército até 1998 e, após isso, como senador vitalício.
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Morte de Augusto Pinochet
Augusto Pinochet morreu em 10 de dezembro de 2006, aos 91 anos de idade, em decorrência de complicações cardíacas. O final de sua vida foi marcado por controvérsias profundas e intensos debates sobre sua responsabilidade política e jurídica diante dos muitos crimes da ditadura que comandou. Seus últimos anos foram acompanhados de forte polarização política no Chile e impressões diversas e hostis entre si do significado dessa figura histórica para a história daquele país entre o povo chileno.
Após sua saída do poder, durante os anos de 1990 e 2000, Pinochet se viu implicado em uma série de processos judiciais, tanto no Chile quanto no exterior. Em 1998, ele foi detido em Londres, após um pedido de extradição do juiz espanhol Baltasar Garzón, acusando-o de crimes de genocídio, terrorismo e tortura cometidos durante seu regime no Chile.
A polícia britânica prendeu Pinochet na noite de 16 de outubro de 1998, com base no mandado espanhol. Ele foi imediatamente colocado sob prisão domiciliar. A detenção desencadeou uma longa batalha judicial sobre se Pinochet, como ex-chefe de Estado e senador vitalício, gozava de imunidade soberana contra a extradição e julgamento em outro país. Após mais de um ano e meio sob prisão domiciliar, em março de 2000, o então ministro do Interior britânico, Jack Straw, decidiu não extraditar Pinochet por motivos de saúde. Pinochet foi libertado e retornou ao Chile em março de 2000.
De volta ao Chile, Pinochet foi indiciado pelo juiz chileno Juan Guzmán Tapia por várias acusações envolvendo desaparecimentos forçados (assassinatos), torturas, sequestros e fraudes financeiras, mas morreu em 2006 sem nunca ter sido condenado por nenhum de seus crimes.
Por mais que os muitos processos que ele enfrentou nos últimos anos de sua vida não tenham sido concluídos por motivos de saúde e, depois, de seu falecimento, eles tiveram o efeito de alterar profundamente sua imagem pública e quebrar a aura de intocabilidade que o acompanhara por décadas.
A morte de Pinochet gerou reações intensas e opostas. Setores críticos ao regime ditatorial chileno realizaram manifestações de celebração, interpretando sua morte como o fim simbólico de um ciclo de violência na história do país. Famílias de presos e desaparecidos políticos lembraram e lamentaram que ele tenha morrido sem uma sentença judicial definitiva. Já grupos de apoiadores do ex-ditador prestaram homenagens a ele, defendendo sua figura como sendo responsável por “salvar o Chile do comunismo” e modernizar a economia por meio de suas reformas. Essa divisão de olhares no mesmo país e sobre o mesmo personagem espelha uma divisão ainda existente na memória histórica chilena na atualidade.
A presidente do Chile à época do falecimento de Pinochet era Michelle Bachelet, que havia sido vítima da ditadura e que decidiu não conceder um funeral de Estado ao ex-ditador, limitar a cerimônia aos protocolos militares e evitar honras oficiais típicas de ex-presidentes. Pinochet foi cremado e suas cinzas entregues à família, sem sepultamento público nem mausoléu, decisão tomada para evitar que seu túmulo se tornasse local de culto político entre apoiadores.
Leia também: Ditadura militar no Brasil — o regime autoritário que se instalou no país em 1964
Exercícios resolvidos sobre Augusto Pinochet
Questão 1
O regime de Augusto Pinochet (1973–1990) promoveu transformações profundas no Chile, ao mesmo tempo em que restringiu liberdades civis e perseguiu opositores. Com base no texto e nas fontes históricas mencionadas, é correto afirmar que:
A) o governo Pinochet aplicou uma política econômica estatizante, ampliando o controle do Estado sobre os setores produtivos.
B) a repressão política foi pontual e restrita ao início do regime, diminuindo drasticamente após a aprovação da Constituição de 1980.
C) a ditadura combinou uma forte política de repressão — documentada pelos Relatórios Rettig e Valech — com reformas econômicas liberais conduzidas por economistas conhecidos como “Chicago Boys”.
D) o plebiscito de 1988 confirmou a permanência de Pinochet no poder por ampla maioria, consolidando o apoio popular ao regime.
E) a Junta de Governo, formada em 1973, manteve funcionamento colegiado até o fim do regime, com divisão equilibrada de poder entre os chefes militares.
Gabarito: C.
A alternativa C sintetiza corretamente a natureza dual do regime: por um lado, repressão política, com milhares de assassinatos, desaparecimentos e torturas comprovados pelos relatórios Rettig e Valech; por outro, reformas econômicas neoliberais, lideradas pelos “Chicago Boys”, envolvendo privatizações, abertura comercial e redução do papel do Estado.
As demais alternativas são incorretas:
A) Inverte o sentido das reformas econômicas.
B) Ignora a continuidade da repressão documentada até o final dos anos 1980.
D) O plebiscito de 1988 rejeitou a continuidade de Pinochet.
E) Contradiz o processo histórico de concentração de poder por Pinochet, que se tornou líder único já em 1974.
Questão 2
De acordo com a biografia de Augusto Pinochet apresentada no artigo, sua ascensão à liderança do golpe de 1973 esteve relacionada a características pessoais e militares específicas. Qual alternativa apresenta, corretamente, essas características?
A) Pinochet era conhecido por seu carisma e pela liderança popular entre setores civis, o que levou Allende a nomeá-lo comandante-chefe.
B) Seu rápido avanço nos primeiros anos da carreira militar fez dele um dos generais mais jovens da história do Exército chileno, fato decisivo para sua proeminência durante o golpe.
C) Sua formação marcada pela disciplina, obediência hierárquica e estilo meticuloso contribuiu para que fosse visto como um oficial confiável e “institucionalista”, sendo nomeado comandante-chefe pouco antes do golpe.
D) Pinochet destacou-se desde cedo como crítico aberto das instituições militares, defendendo publicamente reformas democráticas dentro do Exército.
E) Sua entrada tardia nas Forças Armadas o manteve inicialmente afastado da estrutura hierárquica, o que o aproximou dos conspiradores golpistas por afinidade ideológica.
Gabarito: C.
A alternativa C reflete diretamente o perfil de Pinochet, que teve uma carreira ascendente, porém lenta, marcada por disciplina, rigidez e pouca exposição política, fatores que levaram Allende a vê-lo como um militar “neutro” e confiável ao nomeá-lo comandante-chefe em agosto de 1973.
As outras alternativas distorcem sua trajetória:
A e D atribuem a ele características que nunca teve (carisma, ativismo político).
B e E contêm informações factualmente incorretas (ele não avançou rápido na carreira nem ingressou tardiamente no Exército).
Notas
|1| HUNEEUS, Carlos. El régimen de Pinochet. Santiago: Editorial Sudamericana, 2000.
VIAL CORREA, Gonzalo. Pinochet: la biografía. Santiago: Aguilar; El Mercurio, 2002.
|2| COMISIÓN NACIONAL DE VERDAD Y RECONCILIACIÓN. Informe de la Comisión Nacional de Verdad y Reconciliación (Informe Rettig). Santiago: Gobierno de Chile, 1991.
|3| COMISIÓN NACIONAL SOBRE PRISIÓN POLÍTICA Y TORTURA. Informe de la Comisión Nacional sobre Prisión Política y Tortura (Informe Valech). Santiago: Gobierno de Chile, 2004.
Créditos da imagem
[2] Biblioteca del Congreso Nacional / Wikimedia Commons
[4] Biblioteca del Congreso Nacional / Wikimedia Commons
Fontes
AMORÓS, Mario. Pinochet: biografía militar y política. Barcelona: Ediciones B, 2019.
COMISIÓN NACIONAL DE VERDAD Y RECONCILIACIÓN. Informe de la Comisión Nacional de Verdad y Reconciliación (Informe Rettig). Santiago: Gobierno de Chile, 1991.
COMISIÓN NACIONAL SOBRE PRISIÓN POLÍTICA Y TORTURA. Informe de la Comisión Nacional sobre Prisión Política y Tortura (Informe Valech). Santiago: Gobierno de Chile, 2004.
GARRETÓN, Manuel Antonio. The Chilean Political Process. Boston: Unwin Hyman, 1989.
HUNEEUS, Carlos. El régimen de Pinochet. Santiago: Editorial Sudamericana, 2000.
SPOONER, Mary Helen. Soldiers in a Narrow Land: The Pinochet Regime in Chile. Berkeley: University of California Press, 1999.
VIAL CORREA, Gonzalo. Pinochet: la biografía. Santiago: Aguilar; El Mercurio, 2002.