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Operação Condor

Operação Condor foi uma aliança feita entre as ditaduras sul-americanas, com apoio dos Estados Unidos, em meados da década de 1970, para reprimir as ações de opositores.

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A Operação Condor foi uma aliança entre as ditaduras militares que governavam os principais países da América do Sul para colaborar no combate aos seus opositores. Essa aliança contou com o apoio dos Estados Unidos, que permitiu a troca de informações entre os integrantes da operação para perseguir as pessoas que eram contrárias às ações desses governos ou teriam alguma ligação com o comunismo. Durante os anos 1970, a CIA, agência norte-americana de inteligência, coordenou as ações desses governos no combate aos seus adversários.

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Origem da Operação Condor

Ao longo dos anos 1960, Estados Unidos e União Soviética intensificaram suas ações no sentido de ampliar suas influências ao redor do mundo. A Guerra Fria, o embate ideológico entre as duas maiores potências mundiais, intensificou-se nessa década, principalmente na América Latina. Norte-americanos e soviéticos decidiram atuar ativamente na obtenção de apoio dos países latino-americanos.

Em 1959, logo após a Revolução Cubana, Fidel Castro assumiu o poder e, poucos anos depois, aderiu ao lado soviético da Guerra Fria. A proximidade de Cuba com os Estados Unidos e a influência da revolução no continente fizeram com que os Estados Unidos voltassem suas atenções para os países vizinhos.

O presidente John Kennedy assumiu a Casa Branca em 1961 e deu início à Aliança para o Progresso, um programa de ajuda financeira aos países latino-americanos para que suas economias se desenvolvessem e diminuíssem a pobreza que tanto assolava as suas populações. Apesar disso, os Estados Unidos não conseguiram reverter em apoio a eles a ajuda ofertada, e o discurso anticapitalista só aumentava, com os governantes alinhados com a ideologia marxista ou seus integrantes próximos dos soviéticos chegando ao poder.

Entre os anos de 1960 e 1970, foram inúmeros os países que sofreram interferências militares na política depondo presidentes eleitos e que teriam algum vínculo com Moscou. Os novos governos militares que se formaram no Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Chile implantaram medidas autoritárias contra seus opositores desde a prisão até a morte, passando pela tortura nos porões dos quartéis.

Ao mesmo tempo que o recrudescimento crescia contra os opositores, a esquerda radical decidiu agir por meio de guerrilhas rurais e urbanas, pegando em armas para lutar contra os militares no poder. O governo cubano ajudou esses militantes tanto no seu treinamento como no financeiro para que atuassem em seus países em nome da “revolução proletária”.

O próprio Fidel Castro e seu aliado Ernesto Che Guevara afirmaram o desejo de “transformar a Cordilheira dos Andes em uma imensa Sierra Maestra”, ou seja, espalhar os ideais revolucionários de Cuba por todo o continente americano. Com o avanço comunista no continente, os norte-americanos não somente reconheceram os governos militares oriundos de golpes de Estado como auxiliaram econômica e logisticamente no combate aos opositores.

A Operação Condor surgiu nesse momento de enfrentamento entre os militares e seus opositores, principalmente aqueles que optaram pela luta armada como forma de combate. O nome da operação, “condor”, pode se referir à ave que se alimenta de cadáveres ou ser um neologismo de “com dor”, referindo-se a ações dolorosas contra os inimigos.

O combate àqueles que teriam ligações com a União Soviética ocorreria mediante a troca de informações entre os governos integrantes da operação. Além disso, os Estados Unidos ofereceram o serviço da Agência de Inteligência Americana (CIA) para investigar, perseguir e até mesmo matar os considerados inimigos pelos governos militares.

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Fases da Operação Condor

A Operação Condor foi dividida em três fases:

  • Primeira fase: foi constituída uma base de dados compartilhada de informações relativas a militantes de esquerda e grupos ligados a essa ideologia. No Brasil, o Serviço Nacional de Informações (SNI) colaborou nesse sentido.

  • Segunda fase: foi praticamente baseada em interrogatórios mediante tortura de presos políticos para que delatassem outros integrantes do grupo com base nos dados obtidos na primeira fase. Vários militantes torturados foram mortos, e seus corpos, desaparecidos.

  • Terceira fase: foi a mais drástica da operação, por meio de ações específicas nos países integrantes, ao assassinar opositores ou integrantes de grupos antigoverno.

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Operação Condor no Brasil

Documento que aponta a troca de informações entre os governos brasileiro e uruguaio para a captura de opositores.
Documento que aponta a troca de informações entre os governos brasileiro e uruguaio para a captura de opositores.

A Operação Condor atuou no Brasil em meados dos anos 1970, período que iniciou a abertura política “lenta, gradual e segura”, no governo Ernesto Geisel. Entre 1976 e 1977, três importantes líderes da oposição aos militares morreram em sequência, e as circunstâncias geraram suspeitas. As mortes dos ex-presidentes Juscelino Kubitschek e João Goulart, em 1976, e do jornalista e político Carlos Lacerda, no ano seguinte, foram questionadas à época e nas décadas seguintes.

Apesar de os três estarem afastados da vida pública desde 1968, eles ainda representavam a maioria da população e, na visão dos integrantes da Operação Condor, poderiam aproveitar-se da abertura política para retornarem à vida pública.

Durante meados dos anos 1970, os sequestros de opositores e de seus filhos foram ligados à operação. Esses filhos foram entregues a familiares de aliados das ditaduras. A Operação Clamor, uma antítese da Operação Condor, reuniu religiosos, como o Arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, no resgate dos filhos de opositores que foram sequestrados por integrantes das ditaduras do Cone Sul.

Os opositores das ditaduras sul-americanas foram alvos da Operação Condor.
Os opositores das ditaduras sul-americanas foram alvos da Operação Condor.

Operação Condor na Argentina

A primeira fase da operação consistia no arquivo de informações sobre militantes de esquerda ou opositores dos governos militares. Os agentes das ditaduras monitoravam os passos dos possíveis alvos da Condor e esperavam o momento propício para agir, fosse por assassinatos, fosse por prisões e sequestros.

Na Argentina, em 30 de setembro de 1974, Carlos Prats, general chileno aposentado e aliado de Salvador Allende, presidente deposto no ano anterior, foi morto em um atentado à bomba acionada por controle remoto, em Buenos Aires, capital argentina. O general e sua esposa morreram na hora.

Operação Condor no Chile

No Chile, as ações da Operação Condor começaram após o golpe militar de 1973, que depôs Salvador Allende da presidência e empossou o general Augusto Pinochet no poder, dando início a uma das mais violentas ditaduras da América Latina. O novo governo militar tratou de perseguir seus opositores desde o início. O Estádio Nacional de Santiago se transformou em um presídio onde prisioneiros políticos eram torturados.

Operação Condor no Peru

Em meados dos anos 1970, o Peru foi governado pelo ditador Francisco Morales Bermúdez. Durante seu mandato, alguns opositores foram presos e extraditados para seus países de origem, como aconteceu com o Javier Diez Canseco, sequestrado e enviado para a Argentina.

Estados Unidos e a Operação Condor

Logo após a Revolução Cubana, em 1959, os Estados Unidos teriam que lutar contra o avanço comunista no continente latino-americano por meio do apoio aos golpes de Estado contra governos comunistas. Além do auxílio financeiro, os norte-americanos colaboraram com os governos militares, que combatiam os opositores de forma violenta. A CIA enviou agentes para treinar torturadores ou eles próprios assassinarem aqueles que eram considerados inimigos dos militares.

Documentos revelados, em 2001, pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos, mostraram que, na década de 1970, a Casa Branca tinha conhecimento das ações violentas das ditaduras latino-americanas de perseguir, torturar e até matar seus opositores.

Descoberta e fim da Operação Condor

A Operação Condor ainda é motivo de debates entre estudiosos da ditadura e dos governos que a integraram. Apesar de os documentos oficiais da Casa Branca terem sido revelados, o governo norte-americano jamais reconheceu qualquer participação em ações contra comunistas durante a vigência da operação.

O fim da operação se deu logo após a queda das ditaduras militares na América do Sul, ao longo dos anos 1980. Em alguns países, como a Argentina e o Chile, os militares que participaram das torturas durante a década de 1970 foram julgados e condenados à prisão. No Brasil, como a abertura política se deu de forma negociada e por conta da Lei da Anistia, ainda não foi possível punir aqueles que praticaram atos violentos durante a ditadura.

Em 2012, o governo brasileiro instalou a Comissão da Verdade, cujo objetivo era investigar os casos de tortura praticados por agentes de Estado. A Operação Condor veio à tona nessa comissão, e o corpo do ex-presidente João Goulart foi exumado, mas o resultado não foi conclusivo quanto à presença de alguma substância tóxica que tenha causado a sua morte.

Resumo sobre a Operação Condor

  • A Operação Condor foi uma aliança entre as ditaduras militares da América do Sul, na década de 1970, para combater o comunismo e os opositores a esses governos.

  • Essa operação consistia na coleta de informações sobre os opositores e nas ações violentas contra eles.

  • Os Estados Unidos apoiaram os golpes contra governos comunistas e tinham ciência da perseguição e tortura contra seus opositores.

  • A Operação Condor ainda causa discussões entre estudiosos das ditaduras militares quanto às ações dos governos militares.


Por Carlos César Higa
Professor de História

Escritor do artigo
Escrito por: Carlos César Higa Escritor oficial Brasil Escola

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HIGA, Carlos César. "Operação Condor"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historia-da-america/operacao-condor.htm. Acesso em 03 de maio de 2024.

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