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A Guerra Civil Chilena de 1891 foi um dos acontecimentos mais impactantes da história da América do Sul, assim como foi a Guerra do Paraguai e o processo de instalação dos regimes militares nesse continente nas décadas de 1960 e 1970. A referida guerra resultou de um confronto direto entre o presidente eleito, que começou a governar em 1886, José Manuel Balmaceda, e o Congresso Nacional chileno.
Balmaceda foi eleito democraticamente para a presidência do Chile e possuía um programa político de corte liberal e uma ambiciosa agenda de reforma política. Os problemas de governabilidade, isto é, de capacidade de acordos e articulação política com o poder legislativo, começaram no ano de 1890, quando Balmaceda encaminhou aos congressistas chilenos seu projeto de lei orçamentária para o ano seguinte. Contudo, o Congresso recusou-se a aprovar o projeto, já que era considerado dispendioso e autoritário.
No ano seguinte, Balmaceda insurgiu-se contra o Congresso e fez vigorar o projeto orçamentário do ano anterior. Os congressistas, ultrajados, votaram pela destituição do cargo do presidente. Balmaceda, em resposta, dissolveu o Congresso, caçando os mandatos dos legisladores. Esse gesto autoritário, que, na prática, conferia a centralização do poder na figura do presidente, foi o estopim para o início da guerra civil.
Ao lado dos congressistas, posicionaram-se as forças da Marinha chilena e alguns oficiais do exército. Entre eles, Estanislao del Canto. Todavia, o exército oficial ainda era coordenado pelo presidente Balmaceda e dividia-se em quatro divisões: a de Valparaíso, a de Santiago del Chile, a de Coquimbo e a de Concepción.
As batalhas da guerra desenrolaram-se no mar e em terra firme. Inicialmente, as batalhas concentraram-se no norte do Chile e conduziram a ferozes combates nas cidades de Zapiga, Dolores, Huara, Iquique, Pozo Almonte, Caldera e Calderilla. Depois se seguiram os combates na região central do Chile.
A guerra teve suas batalhas decisivas em Concón e Placilla, quando as forças congressistas massacraram os combatentes balmacedistas. Em fins de agosto de 1891, Balmaceda reconheceu a derrota e exilou-se na Argentina, transferindo a chefia do país para o general Manuel Baquedano. No entanto, a crise social provocada pela guerra civil só teve fim quando, no exílio, Balmaceda suicidou-se com um tiro na têmpora.
Sobre esse episódio, manifestou-se o intelectual brasileiro Joaquim Nabuco, em sua obra Balamaceda (1895). Disse ele:
Para mim esse fim trágico é a última prova de que a consciência de Balmaceda desde o golpe de Estado esteve sempre em dúvida e flutuação. Se ele tivesse vencido, teria tratado de serená-la por um desses expedientes heroicos com que os inversores da sociedade procuraram tranquilizar-se a si mesmos ainda que perturbem o mundo, como é, por exemplo, uma guerra de conquista. No ponto duvidoso da consciência teria ele posto um grande remedo de glória, como Napoleão. [1]
NOTAS:
[1] NABUCO, Joaquim. Balmaceda. São Paulo: COSAC NAIFY, 2008. p. 187.
Por Me. Cláudio Fernandes