PUBLICIDADE
Crise do petróleo é um período da história em que o preço dessa commodity passa por alterações bruscas em decorrência da conjuntura geopolítica e ideológica dos principais países produtores e exportadores. Nesse sentido, as crises do petróleo registradas em 1973, 1979 e 1991 foram o resultado de disputas no Oriente Médio e dos conflitos diplomáticos travados com as nações ocidentais, principalmente os Estados Unidos.
As crises do petróleo resultam na flutuação do preço dessa matéria-prima, no aumento do preço dos combustíveis e na sua eventual escassez, além da busca por fontes alternativas de energia para a redução da dependência desse combustível fóssil.
Leia também: Quais são os maiores produtores de petróleo do mundo?
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre a crise do petróleo
- 2 - O que foram as crises do petróleo?
- 3 - Contexto histórico das crises do petróleo
- 4 - Fases da crise do petróleo
- 5 - Causas das crises do petróleo
- 6 - Crise do petróleo no Brasil
- 7 - Consequências das crises do petróleo
- 8 - Exercícios resolvidos sobre crise do petróleo
Resumo sobre a crise do petróleo
- As crises do petróleo foram momentos da história em que o preço dessa commodity sofreu alteração repentina, fosse pelo aumento, fosse pela queda, e que desestruturaram a economia mundial.
- Conflitos geopolíticos e ideológicos foram as principais causas para as crises do petróleo que aconteceram na segunda metade do século XX.
- A crise de 1973 foi iniciada por causa do apoio dado pelos Estados Unidos e outras nações ocidentais a Israel na Guerra do Yom Kippur, o que suscitou um embargo no fornecimento de petróleo e aumento dos preços.
- A Revolução Iraniana (1978-1979) e a Guerra do Golfo (1990-1991) também provocaram novos choques do petróleo que levaram ao aumento dos preços e desequilíbrio econômico.
- O Brasil foi diretamente afetado pela crise do petróleo. Na década de 1970, a maior parte do petróleo consumido em território nacional era importada. A solução encontrada foi o incentivo ao uso do etanol como combustível por meio do Proálcool.
- As consequências das crises do petróleo no mundo são a escassez da matéria-prima, o aumento do preço dos combustíveis e a busca por fontes alternativas de energia.
O que foram as crises do petróleo?
As crises do petróleo foram momentos da história em que o preço desse combustível fóssil passou por alterações bruscas devido aos conflitos geopolíticos e diplomáticos com as áreas produtoras e exportadoras. Lembremos que o petróleo é uma commodity, e o valor do barril de petróleo é dado em dólar e padronizado em todo o mundo. As variações anteriormente citadas são tanto o aumento exacerbado do preço dos barris do petróleo quanto a baixa repentina e acentuada dos valores, o que provoca efeitos imediatos nos países produtores e exportadores e reflete nas mercadorias que utilizam o petróleo como matéria-prima.
Contexto histórico das crises do petróleo
As crises do petróleo que aconteceram na segunda metade do século XX foram ocasionadas majoritariamente por conflitos geopolíticos travados em um contexto de Guerra Fria, e também por conta de disputas territoriais e ideológicas que tiveram lugar no Oriente Médio e contaram com a intervenção do Ocidente, mais precisamente dos Estados Unidos. Portanto, conhecer melhor o contexto geopolítico e econômico do mundo a partir da década de 1960 é fundamental para entendermos o porquê dos sucessivos choques do petróleo à época.
A Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) foi criada no início da década de 1960, momento em que as tensões da Guerra Fria atingiram um ponto extremo com a Crise dos Mísseis. Esta se instalou no ano de 1962 mediante a descoberta, por parte dos Estados Unidos, de uma base de mísseis que havia começado a ser instalada em Cuba pela União Soviética (URSS), que rivalizava no campo político e ideológico com os norte-americanos. Nesse período, os EUA detinham parte do monopólio do petróleo no mundo.
O objetivo da criação da Opep foi, justamente, o encerramento do monopólio dessa commodity e a padronização dos preços em todo o mundo. Dessa maneira, seria possível estabelecer um espaço comercial mais saudável com justa competição. Lembremos que, desde então, o petróleo já tinha importância política e estratégica para os territórios, e deter o monopólio de sua produção e comercialização era fundamental para aumentar o seu poder sobre as demais nações. Com a Opep, esse poder deslocou o seu eixo e passou do Ocidente para o Oriente Médio.
Muitos países do Oriente Médio, aliás, não estavam alinhados com os Estados Unidos na Guerra Fria. Na realidade, durante a Crise de Suez (1956), a intervenção da URSS foi fundamental para que o Egito garantisse a sua soberania sobre o Canal de Suez, uma das rotas comerciais de maior movimentação do mundo. Além das tensões entre os Estados Unidos e os países do Oriente Médio terem se acirrado, a região vivia seu próprio conflito interno mediante a disputa territorial entre árabes e o recém-criado Estado de Israel.
O conflito entre árabes e israelenses na região é antigo, e se intensificou com a criação de Israel no ano de 1947 e a partilha desigual que aconteceu do território da Palestina, deixando 53,5% para os israelenses e 45,4% para os árabes. Dessa parcela correspondente à atual Palestina, temos uma área não contígua que corresponde à Faixa de Gaza (a oeste, banhada pelo mar Mediterrâneo) e à Cisjordânia (a leste, na divisa com a Jordânia). A partilha foi feita por meio da ONU, e obteve a aprovação de muitos países, entre os quais estiveram os Estados Unidos.
Portanto, as crises do petróleo são um reflexo das tensões geopolíticas e econômicas que aconteciam e ainda acontecem tanto no Oriente Médio quanto entre países da região e os Estados Unidos, principalmente.
Fases da crise do petróleo
→ Primeira crise do petróleo (1973)
A primeira fase da crise do petróleo se instalou no mês de outubro de 1973, quando a Opep, formada majoritariamente por países árabes, aprovou um embargo no fornecimento de petróleo para os Estados Unidos e outros países ocidentais que apoiaram Israel na Guerra do Yom Kippur. O conflito foi estabelecido entre Israel e Egito, que contou com o apoio direto da Síria. O país norte-americano e outras nações, seguindo a sua orientação, se alinharam com Israel, desencadeando, assim, o primeiro choque do petróleo no mundo.
O preço do barril de petróleo saltou de US$ 2,90 para US$ 11,65, e a produção mundial despencou para quatro milhões de barris até 1974. Com a escassez de petróleo para a produção de combustível, o preço dessa mercadoria também disparou e afetou as economias nacionais. O embargo somente foi retirado pela Opep no mês de março de 1974.
→ Segunda crise do petróleo (1979)
O segundo choque do petróleo aconteceu apenas cinco anos após o primeiro, e foi decorrente da Revolução Iraniana, que teve início em 1978 e se estendeu até 1979. Como o Irã era, e se mantém até o presente, como um dos maiores produtores e exportadores de petróleo do mundo, a instabilidade política interna no país reduziu significativamente a sua produção dessa commodity, elevando novamente o seu preço.
O segundo choque do petróleo foi agravado pela Guerra Irã-Iraque, iniciada no ano de 1980, ampliando a situação de insegurança no Oriente Médio e impactando no preço do petróleo em todo o mundo. Algumas fontes da literatura consideram essa como sendo uma terceira fase da crise do petróleo, embora seja possível conectar tal evento com o evento precedente.
O barril chegou a custar US$ 37 durante essa segunda fase da crise, com momentos em que o preço bateu os US$ 40. A situação permaneceu instável até o ano de 1981, quando novas jazidas de petróleo começaram a ser exploradas em todo o mundo e ampliaram o volume produzido em escala internacional.
→ Terceira crise do petróleo (1991)
A terceira fase da crise do petróleo correspondeu à intensa flutuação no preço do petróleo no início da década de 1990. Os conflitos no Oriente Médio estiveram, novamente, no centro da instabilidade no mercado petrolífero, que, dessa vez, foi causada pela Guerra do Golfo, conflito entre o Kuwait e o Iraque entre 1990 e 1991 e que contou com a intervenção dos Estados Unidos contra o lado iraniano. Inicialmente o preço do petróleo praticamente dobrou, passando de US$ 17 o barril para US$ 36, mas depois sofreu uma queda brusca até o ano de 1994.
Importante: As fases acima elencadas não encerraram a crise do petróleo. Eventos geopolíticos internacionais e crises econômicas em áreas produtoras em momentos distintos do século XXI também foram os responsáveis por grandes flutuações no preço do petróleo, instalando o que pode ser descrito como crises do petróleo. A mais recente fase da crise do petróleo aconteceu no ano de 2020, quando se observou a queda do preço do barril dessa commodity devido à menor demanda em escala mundial. Grandes estoques ficaram parados, e o preço dos combustíveis escalou em todo o mundo.
Causas das crises do petróleo
As crises do petróleo foram desencadeadas por conflitos geopolíticos e ideológicos que aconteceram tanto nos territórios do Oriente Médio quanto entre os países árabes localizados na região e o Ocidente, com destaque para o papel dos Estados Unidos na maior parte das disputas diretas que aconteceram na segunda metade do século XX. Assim, os conflitos que desencadearam períodos de crise no mercado petrolífero foram:
- Guerra do Yom Kippur (1973): que elevou o preço dos barris de petróleo devido ao embargo imposto pelos países árabes, maioria membro-fundadora da Opep, aos Estados Unidos e demais países ocidentais que apoiaram Israel.
- Revolução Iraniana (1978-1979) e Guerra Irã-Iraque (1980-1988): que causaram grande instabilidade política e econômica em alguns dos principais produtores e exportadores de petróleo. Com isso, o preço dos barris sofreu novamente aumento.
- Guerra do Golfo (1990-1991): conflito entre Iraque e Kuwait que suscitou a ação internacional e provocou instabilidade política e econômica em dois grandes produtores de petróleo do Oriente Médio. Por essa razão, houve intensa flutuação no preço do barril. Soma-se a isso o fato de, ao sair do território do Kuwait, as tropas iraquianas incendiaram 700 poços de petróleo, o equivalente a 2% das reservas do país à época.
Crise do petróleo no Brasil
Na primeira fase da crise do petróleo, o Brasil importava cerca de 80% de todo o petróleo que era consumido no mercado doméstico. Ao mesmo tempo que a matéria-prima encareceu, a dívida externa brasileira aumentou por causa das medidas adotadas pelos países afetados pela crise do petróleo para regularem a sua economia, como a elevação das taxas de juros. Diante do cenário, o Brasil precisou ir em busca de alternativas para substituir a gasolina, produzida do petróleo, e essa alternativa surgiu da cana-de-açúcar.
No dia 17 de novembro de 1975, foi estabelecido o Programa Nacional do Álcool, mais conhecido como Proálcool, que ampliou a produção de etanol via cana-de-açúcar e forneceu incentivos para o desenvolvimento de veículos movidos a álcool e a gasolina. Além de uma alternativa ao choque do petróleo, a iniciativa promoveu uma importante mudança na matriz energética brasileira.
Durante a década de 1980, entretanto, fatores como a retomada dos preços atrativos do petróleo em 1986 e o aumento da cotação internacional do açúcar enfraqueceram o Proálcool, tanto pela retomada do uso da gasolina e menor produção de carros flex quanto pelo maior investimento dos usineiros na fabricação do açúcar, deixando os combustíveis em segundo plano. Foi somente na terceira fase da crise do petróleo, na década de 1990, que se consolidou o uso do etanol em território nacional e se ampliou a demanda por carros flex, que usam tanto álcool quanto gasolina de combustível.
Para saber detalhes sobre a importância do petróleo no Brasil, clique aqui.
Consequências das crises do petróleo
A seguir, as principais consequências das crises do petróleo:
- Aumento do preço dos combustíveis e das demais mercadorias e matérias-primas que são produzidas do petróleo.
- Escassez seguida do racionamento de combustíveis.
- Busca por novos mercados com reservas de petróleo suficientes para promoverem a sua exportação.
- Busca por fontes alternativas de energia, com o incentivo ao uso de biocombustíveis, como o etanol, produzido do milho, da beterraba e da cana-de-açúcar.
- Acirramento dos conflitos diplomáticos estabelecidos entre os territórios exportadores de petróleo e os compradores, principalmente em se tratando de países do Oriente Médio, os Estados Unidos e os países da Europa.
Exercícios resolvidos sobre crise do petróleo
Questão 1
(Unig) A chamada “crise do petróleo”, ocorrida a partir de 1973, aumentou o clima de tensão no Oriente Médio. Uma das causas do aumento do preço do barril de petróleo, nesse período, foi:
A) a tentativa liderada pela ONU de criar uma força multinacional militar para ocupar o Estado de Israel e o Estado Palestino, inviabilizando qualquer acordo de paz.
B) o apoio militar dado pelos países do Terceiro Mundo para a formação de um Estado palestino em áreas pertencentes ao Estado de Israel.
C) a realização da Conferência de Bandung, na Indonésia, onde ficou definido o direito de não envolvimento dos países participantes no conflito árabe-israelense.
D) uma reação dos povos árabes contra o apoio dado a Israel pelos EUA e por potências capitalistas e a omissão da ONU em relação à política expansionista israelense.
E) a adoção, por parte dos Estados Unidos e da União Soviética, de uma política de partilha do Oriente Médio entre as duas potências, visando pôr fim aos conflitos na região.
Resolução:
Alternativa D.
O apoio que os Estados Unidos e outros países ocidentais ofereceram a Israel na Guerra do Yom Kippur foi o fator que determinou o embargo ao petróleo e a consequente crise de 1973.
Questão 2
(Uece) O Proálcool foi um programa governamental que teve dentre as suas metas produzir um combustível que ajudasse o Brasil a conseguir sua autonomia energética. Atente para as seguintes afirmações relacionadas a essa iniciativa.
I. O álcool tem um elevado custo de produção, em virtude das extensas áreas de plantio de cana-de-açúcar.
II. Este programa conseguiu reduzir em quase 90% o consumo atual de gasolina e diesel nas cidades brasileiras.
III. O Proálcool promoveu o desenvolvimento de uma tecnologia inteiramente nacional, além de gerar um combustível menos poluente do que a gasolina.
É correto o que se afirma somente em
A) I e II.
B) I e III.
C) III.
D) II.
Resolução:
Alternativa B.
A afirmativa II é a única incorreta, já que a gasolina e o diesel sempre foram os combustíveis mais utilizados no Brasil e nem mesmo com o Proálcool esse padrão foi alterado.
Fontes
DOWNEY, Lucas. 1979 Energy Crisis: Definition, History, Causes, and Impact. Investopedia, 14 jul 2022. Disponível em: https://www.investopedia.com/terms/1/1979-energy-crisis.asp.
HAYES, Adam. 1973 Energy Crisis: Causes and Effects. Investopedia, 20 jul. 2023. Disponível em: https://www.investopedia.com/1973-energy-crisis-definition-5222090.
IPEA. Petróleo: da crise aos carros flex. IPEA – Desafios do desenvolvimento, 2010, ano 7, ed. 59, 29 mar. 2010. Disponível em: https://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&id=2321:catid=28.
PEDROSA, Oswaldo; CORRÊA, Antônio. A crise do petróleo e os desafios do pré-sal. Caderno de Opinião – FGV Energia, fev. 2016.
ROUMIEH, Erica Yazigi. Saiba o que foi a Guerra do Golfo. Politize, 02 fev. 2024. Disponível em: https://www.politize.com.br/guerra-do-golfo/.
VAINFAS, Ronaldo; FERREIRA, Jorge; FARIA, Sheila de Castro; CALAINHO, Daniela. História.doc: 9º ano. São Paulo: Saraiva Educação, 2022.