Drogas sintéticas

Drogas sintéticas são drogas produzidas em laboratório, imitando ou potencializando efeitos de drogas naturais.

Pessoa segurando vários comprimidos rosas no formato de caveira, um exemplo de drogas sintéticas.
Produzidas em laboratórios, as drogas sintéticas têm grande poder destrutivo, física e mentalmente.
Crédito da Imagem: Shutterstock.com

Drogas sintéticas são substâncias produzidas em laboratório, sob ação direta do ser humano. O seu intuito é mimetizar ou intensificar os efeitos causados por drogas naturais. É possível destacar, dentro das drogas sintéticas, diversas categorias, como os canabinoides sintéticos, as anfetaminas estimulantes, os opioides sintéticos, as catinonas sintéticas, entre outros.

Drogas sintéticas podem levar à dependência química e seu uso pode produzir efeitos bastante adversos, sejam físicos, sejam psíquicos. Os viciados nessas substâncias precisam ser tratados por uma equipe multidisciplinar, por meio de metodologias específicas e baseadas em terapias para que eles possam ser reinseridos socialmente.

Leia também: Afinal, o que são as drogas?

Resumo sobre drogas sintéticas

  • Drogas sintéticas são substâncias produzidas em laboratório, por ação direta do ser humano.
  • As drogas sintéticas buscam mimetizar ou intesificar os efeitos causados por drogas naturais.
  • Dentre as drogas sintéticas, destacam-se os canabinoides sintéticos, as catinonas sintéticas, os benzodiazepínicos, os opioides sintéticos, as fenciclidinas, além das anfetaminas estimulantes.
  • As drogas sintéticas têm a capacidade de produção de diversos efeitos, sejam físicos, sejam psíquicos.
  • Os viciados em drogas sintéticas devem ser tratados por equipes multiprofissionais, com metodologias específicas de terapia e intervenção medicamentosa para que possam retornar para a sociedade.
  • No Brasil, dentre as drogas sintéticas, destaca-se o uso do MDMA e do MDA.

O que são drogas sintéticas?

Drogas sintéticas são substâncias que foram produzidas em laboratório, por ação direta do ser humano. Sua estrutura química pode ser tanto idêntica quanto diferente das drogas naturais, sendo que são produzidas para que mimetizem ou intensifiquem os efeitos causados por drogas naturais.

Tipos de drogas sintéticas

Os canabinoides sintéticos e as catinonas sintéticas são as principais classes de drogas sintéticas. Contudo, outras classes devem ser citadas, como é o caso dos benzodiazepínicos, os opioides sintéticos, as fenciclidinas e as anfetaminas estimulantes. Confira a seguir.

→ Canabinoides sintéticos

Cigarro eletrônico à base de hexa-hidrocanabinol, um canabinoide sintético.

Canabinoides sintéticos são conhecidos como “maconha sintética” ou “marijuana sintética”, são pensados para simular os mesmos efeitos causados pelo principal metabólito da maconha, o THC (tetra-hidrocanabinol), nos usuários. Tais drogas são popularmente conhecidas como drogas K (K2, K4 e K9), Spice, Blaze e Black Mamba.

→ Catinonas sintéticas

Catinonas sintéticas são estimulantes sintéticos produzidos com o intuito de afetar o sistema nervoso central, impactanto de forma análoga a drogas como a cocaína e as anfetaminas (como metanfetamina e ecstasy). Sua forma de administração pode ser por meio de inalação (pó), injeção intravenosa ou por via oral. Um nome muito comum para drogas desse grupo é “sais de banho” e, em geral, contêm na composição MDPV (3,4-metilenodioxipirovalerona), mefedrona e metilona.

→ Benzodiazepínicos

Benzodiazepínicos são fármacos usados para diversas enfermidades, como para sedação e tratamento de sintomas da ansiedade, donde se destacam o Xanax, o Diazepam, o Clonazepam e o Etizolam.

→ Opioides sintéticos

Opioides sintéticos são anestésicos ou medicamentos voltados para o alívio da dor. Dessa classe, o mais conhecido de todos é o fentanil, além dos seus análogos oxicodona e metadona.

→ Fenciclidinas

Fenciclidinas são anestésicos, e a cetamina é a mais famosa substância desse grupo.

→ Anfetaminas estimulantes

Pequeno comprimido de MDMA, popularmente conhecido como ecstasy.

Anfetaminas estimulantes são drogas clássicas no que diz respeito a substâncias psicoativas, como a anfetamina, a metanfetamina e o MDMA (3,4-metilenodioxianfetamina), popularmente conhecido como ecstasy.

Importante: Algumas outras drogas sintéticas comuns também são interessantes de citar, embora não estejam nesse grupo, como é o caso do LSD (ácido lisérgico) e o GHB (ácido gama-hidroxibutírico), utilizado no “Boa noite, Cinderela”.

Efeitos das drogas sintéticas no organismo

Drogas sintéticas são responsáveis por diversos efeitos adversos ao usuário.

Obviamente que o número de drogas sintéticas aumenta ano após ano no mundo, dada a velocidade e facilidade de produção. Contudo, uma análise da literatura de referência nos permite elencar algumas das principais questões físicas e psíquicas gerais que são observadas por usuários de drogas sintéticas.

  • Principais efeitos físicos das drogas sintéticas no organismo:
    • Sistema cardiovascular: taquicardia, hipertensão, dores no peito, miocardite, parada cardíaca, hipovolemia.
    • Sistema nervoso central: dores de cabeça, insônia, tontura, convulsões, tremores, confusão mental, hiperreflexia, sonolência.
    • Sistema hematológico: anemia, trombocitopenia, coagulação intravascular disseminada.
    • Sistemas gastrointestinal e hepático: náusea, vômitos, dores abdominais, insuficiência hepática.
    • Sistema pulmonar: piora na respiração, taquipneia, parada respiratória, acidose respiratória.
    • Sistema renal: aumento da creatinina sérica, danos aos rins, falha renal aguda, hiponatremia, hipercalemia, hiperuricemia.
    • Sistema musculoesquelético: creatinina quinase elevada, rabdomiólise, vasoconstrição periférica.
    • Sistema oftalmológico: midríase, vista borrada e nistagmo.
    • Gargantas, olhos e nariz: bruxismo, trismo, epistaxe.
  • Principais efeitos psíquicos das drogas sintéticas no organismo:
    • agitação e agressividade;
    • ansiedade;
    • ataques de pânico;
    • anorexia;
    • paranoia;
    • alucinações;
    • psicose;
    • depressão;
    • pensamentos suicidas e de automutilação;
    • desorientação;
    • efeitos cognitivos adversos;
    • confusão mental.

É claro que, como drogas recreativas, os efeitos desejados pelos seus usuários também são observados. Usuários de canabinoides sintéticos, por exemplo, relatam efeitos semelhantes ao do uso da maconha, como analgesia, melhora no humor, diminuição da atividade motora e imprecisão.

Dentre as catinonas sintéticas mais famosas, é possível citar alguns efeitos relatados também. No caso da mefedrona, percebe-se que os efeitos psicoativos duram de uma a quatro horas, lembrando bastante a metanfetamina. Entre seus efeitos estão: euforia, melhora no humor, aumento do estado de alerta, aumento da concentração, empatia, comunicação, um maior “desejo de se mover”, uma maior apreciação de sons e músicas, além de um leve estímulo sexual. Contudo, quanto maior a dose de mefedrona, ou mais longo for o uso da substância, maior a probabilidade de surgimento de efeitos indesejáveis.

Já o MDPV tem efeitos análogos à cocaína, com duração esperada de três a quatro horas. A baixa duração dos efeitos faz com que usuários tomem a droga repetidamente, até para afastar as sensações ruins causadas pela diminuição dos efeitos. Usuários de MDPV são propensos a desenvolver comportamentos bizarros, como alucionações suicidas e a síndrome do delírio excitado, uma condição que traz comorbidades graves, como hipertermia, rabdomiólise (destruição das fibras musculares), falhas nos rins e, até mesmo, morte.

A metilona tem efeitos bem semelhantes ao ecstasy (MDMA). Em doses de 100 mg a 200 mg, a metilona pode causar euforia, aumento do estado de alerta, inquietação e grande sentimento de empatia. Sua utilização combinada com outras drogas, como a mefedrona, pode causar diversos efeitos adversos, entre eles a morte.

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Como surgiram as drogas sintéticas?

As drogas sintéticas têm origens diversas, não sendo possível organizar o seu surgimento em um bloco único. Mesmo assim, vale contar o surgimento de algumas dessas drogas sintéticas.

  • Canabinoides sintéticos: seu desenvolvimento se iniciou em 1960, quando laboratórios farmacêuticos os sintetizavam para pesquisar o sistema endocanabinoide do corpo humano. Foi o caso do HU-210, a nabilona e a dronabinol. A ideia inicial para esses compostos era utilizá-los para poder investigar receptores de canabinoides e suas interações, assim como explorar possíveis aplicações médicas. Por exemplo, nos anos 1980, os laboratórios da Pfizer, na tentativa de desenvolver novos analgésicos, criaram a série ciclo-hexilfenol com base no canabinoide sintético HHC. Apesar de nunca terem chegado a ser comercializados, tais compostos são usados para o estudo do sistema endocanabinoide.
  • Catinonas sintéticas: a catinona é um alcaloide estimulante encontrado nas folhas de um arbusto conhecido como khat, cujo nome científico é Catha edulis. Essa planta foi descoberta no Iêmen, no século XVIII, por um botânico conhecido como Peter Forksal. As folhas de khat eram mastigadas e, por vezes, utilizadas na preparação de chás na Península Árabe e em algumas regiões da África Oriental por conta de seus efeitos estimulantes. Posteriormente, percebeu-se que a catinona é quimicamente semelhante à efedrina, à catina e outras anfetaminas. A primeira catinona sintética preparada foi a metcatinona, já na primeira metade do século XX, sob a óptica de pesquisar novos medicamentos. A metcatinona, inclusive, chegou a ter relatos de uso abusivo já nessa época. Contudo, as principais catinonas sintéticas, como MDPV e mefedrona, começaram a se difundir apenas no começo do século XXI, por meio de usuários que buscavam alternativas para o ecstasy (MDMA).
  • LSD (ácido lisérgico): Foi sintetizado em 1943, pelo cientista suíço Albert Hofmann, embora a substância seja produzida por um fungo, que, por sua vez, cresce como um parasita no centeio e em outros cereais. O LSD se tornou muito popular nos EUA a partir das décadas de 1950 e 1960, fora do contexto médico, dado seus efeitos alucinógenos.
  • Ecstasy, MDMA: Foi inicialmente sintetizado pela farmacêutica Merck, em 1914, como um moderador de apetite. Contudo, dado seus efeitos colaterais, foi muito pouco utilizado e sequer foi comercializado. Em 1965, o MDMA volta à tona, graças ao bioquímico norte americano Alexander Shulgin, que o produziu em laboratório e relatou o seu efeito prazeroso. Posteriormente, muitos pesquisadores se demonstraram entusiasmados com o uso terapêutico do MDMA. O MDMA chegou a ser legalizado nos EUA até 1984, em uma época que ele podia ser comprado em bares. Ao Brasil, o MDMA chega por meio do contexto das festas de música eletrônica, conhecidas popularmente como “raves”.

Tratamento para viciados em drogas sintéticas

As drogas sintéticas têm como um dos principais efeitos o vício, ou seja, a dependência química. O tratamento de usuários que já se encontram nesse estado passa por metodologias terapêuticas. Basicamente o dependente, inicialmente acolhido, tem o acesso suprimido à droga (a chamada desintoxicação). Essa etapa é de extrema importância, pois o usuário pode demonstrar abstinência e assim desenvolver sintomas como desconforto, tremores, ansiedade e hipertensão.

Por isso, é comum a administração de ansiolíticos e antidepressivos para aliviar a sensação de fissura. Outros medicamentos também podem ser usados nessa etapa, como os responsáveis por conter convulsões ou interferirem nos mecanismos cerebrais associados à euforia e ao prazer.

Em seguida, ocorre a identificação e o tratamento de possíveis doenças de base. O processo passa ainda por reeducação, com o apoio de equipes que trabalhem na esfera psicossocial. Aqui o objetivo é fazer com que o paciente entenda a raíz do seu vício e evitar novos descontroles. Por exemplo, uma pessoa com fobia social pode fazer uso recreativo dessas substâncias para conseguir se inserir mais socialmente.

É importante notar que o paciente, nessa etapa, deve ter seus comportamentos ansiogênicos controlados, transformando o comportamento de modo geral e, assim, fazendo com que o usuário entenda as origens de seu vício e combata os seus gatilhos.

Tratamentos terapêutico e medicamentoso são formas importantes de se auxiliar na reinserção de viciados na sociedade.

Por fim, gradativamente, o paciente vai sendo reinserido na sociedade, tendo contatos com amigos e familiares, além de atividades de rotina, como estudo e trabalho, mas com um trabalho contínuo para evitar recaídas.

Alguns países trabalham ainda com técnicas de redução de danos, que consistem na utilização de drogas em locais especializados. Nesses locais, limpos e com assistência médica disponível no caso de uma overdose, os usuários utilizam as substâncias de modo que o consumo não leve ao surgimento de novas doenças.

Drogas sintéticas no Brasil

O panorama das drogas sintéticas no Brasil pode ser observado por meio da análise do relatório anual produzido pelo Instituto Nacional de Criminalística.

O Brasil já figura no mapa de drogas por ser uma região de trânsito estratégico para a cocaína, a qual sai de países andinos com destino à Europa e à Africa. Segundo o relatório do ano de 2022, foram feitos 1952 registros de drogas sintéticas no Brasil, um aumento de 197% em relação ao ano anterior.

Contudo, o relatório especifica que o aumento pode ser consequência de implementação de novos mecanismos que conseguiram tornar o sistema de criminalística mais eficiente. Isso possibilitou que o ano de 2022 fosse um ano de maior produção de laudos, o que não necessariamente refletiu a realidade do ano em si.

No relatório de 2022, os registros de drogas sintéticas corresponderam a 17% dos laudos forenses emitidos pela Polícia Federal. Ainda nesse documento, foi reportado que a Polícia Federal (PF) indicou que foram identificadas 61 diferentes substâncias psicoativas no universo das drogas sintéticas, sendo que nove substâncias foram identificadas pela primeira vez. O MDMA (ecstasy) foi, como em outros anos, a droga sintética mais reportada nos laudos emitidos pela PF, com 66% das detecções, seguida pelo MDA, com 11% das detecções.

Diferenças entre drogas naturais e drogas sintéticas

A tabela a seguir traz algumas diferenças entre drogas naturais e drogas sintéticas.

Drogas naturais

Drogas sintéticas

Ocorrem na natureza, em geral em plantas (porém também podem ocorrer em fungos e animais).

Produzidas artificialmente pelo ser humano, utilizando-se insumos químicos (embora alguns possam ser derivados de plantas).

A concentração de alcaloides é, em geral, limitada por conta dos processos de extração e refinamento rudimentares.

Os produtores conseguem produzir substâncias de elevado grau de pureza, por meio de melhorias nos processos de síntese e refinamento.

Podem ser alteradas por seres humanos para originarem novos compostos de maior potência (drogas semi-sintéticas).

A potência pode variar, mas, em geral, é bem maior se comparada a uma droga natural.

A descoberta de novos compostos ocorre na natureza e de forma lenta.

Novos compostos são rapidamente descobertos em laboratórios ou por meio de simulações em computadores.

Fontes

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Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

NOVAIS, Stéfano Araújo. "Drogas sintéticas"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/drogas/drogas-sinteticas.htm. Acesso em 15 de março de 2025.

De estudante para estudante