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O cortiço, de Aluísio Azevedo

O cortiço é um livro naturalista do autor brasileiro Aluísio Azevedo. Conta a história dos moradores do cortiço de São Romão, no Rio de Janeiro do século XIX.

Capa do livro O cortiço, de Aluísio Azevedo, publicado pela editora Moderna.[1]
Capa do livro O cortiço, de Aluísio Azevedo, publicado pela editora Moderna.[1]
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O cortiço é a obra mais famosa do escritor brasileiro Aluísio Azevedo. Essa narrativa apresenta uma diversidade de personagens, todos analisados por um olhar objetivo segundo as teorias científicas da época. Suas histórias se passam em um cortiço carioca de propriedade do ambicioso João Romão.

Aluísio Azevedo é o principal nome do naturalismo brasileiro. Portanto, o romance em questão apresenta visão determinista e zoomorfização. Nessa obra, os personagens são comandados pelo instinto em detrimento da razão. Assim, sobressai o instinto sexual, mostrado de forma explícita pelo narrador.

Leia também: O Ateneu — outra obra do naturalismo brasileiro

Tópicos deste artigo

Resumo sobre O cortiço

  • O cortiço conta as histórias dos personagens de um cortiço carioca.

  • A narrativa se passa no Segundo Reinado, antes da abolição da escravatura.

  • Romance naturalista, a obra apresenta determinismo e zoomorfização.

  • Seu autor, Aluísio Azevedo, nasceu em 1857 e faleceu em 1913.

Videoaula sobre o O cortiço

Análise da obra O cortiço

  • Personagens da obra O cortiço

    • Agostinho
    • Alexandre
    • Ana das Dores
    • Augusta Carne Mole
    • Bertoleza
    • Botelho
    • Bruno
    • Estela
    • Firmo
    • Florinda
    • Henrique
    • Isabel
    • Isaura
    • Jerônimo
    • João da Costa
    • João Romão
    • Jujú
    • Leandra (ou Machona)
    • Leocádia
    • Léonie
    • Leonor
    • Libório
    • Marciana
    • Miranda
    • Nenen
    • Pataca
    • Paula (ou Bruxa)
    • Piedade
    • Pombinha
    • Porfiro
    • Rita Baiana
    • Valentim
    • Zé Carlos
    • Zulmira
  • Tempo da obra O cortiço

Na obra, não há especificação do ano exato dos acontecimentos, mas, pelo contexto, concluímos que são fatos ocorridos na segunda metade do século XIX, porém antes da abolição da escravatura, em 1888. Já o tempo da narrativa é cronológico.

  • Espaço da obra O cortiço

A história se passa no bairro de Botafogo, na cidade do Rio de Janeiro.

  • Resumo da obra O cortiço

João Romão prospera após o patrão deixar-lhe, “em pagamento de ordenados vencidos, nem só a venda com o que estava dentro, como ainda um conto e quinhentos em dinheiro”.|1| Ao seu lado, está Bertoleza, uma mulher negra e escravizada. Ela tem uma quitanda, onde vende angu, peixe frito e iscas de fígado.

Do que ganha, paga “a seu dono vinte mil-réis por mês, e, apesar disso, tinha de parte quase que o necessário para a alforria”. Ela acaba amigada com João Romão e confia no homem para que ele guarde suas economias e envie para o “senhor” dela os vinte mil-réis mensais. Com a ajuda de Bertoleza, João Romão enriquece e constrói o cortiço de São Romão.

Ao lado do cortiço, mora um negociante português e sua família. Miranda é casado com Estela, uma mulher adúltera. A filha do casal se chama Zulmira. E os moradores do cortiço acabam sendo um grande incômodo para Miranda.

Mas não é só com isso que ele tem que se preocupar, pois está ciente do comportamento adúltero da mulher. E quando o jovem Henrique, de quinze anos, “filho de um fazendeiro importantíssimo que dava belos lucros à casa comercial de Miranda”, se hospeda na casa do comerciante, Estela decide seduzir o rapaz.

Na casa do Miranda, também moram as criadas Isaura, “mulata ainda moça, moleirona e tola”, e Leonor, “negrinha virgem, [...], muito ligeira e viva, lisa e seca como um moleque”; além de Valentim, “filho de uma escrava que foi de Dona Estela e a quem esta havia alforriado”. A casa conta também com outro hóspede: o velho Botelho, um “parasita” amigo do Miranda.

No cortiço, vive Leandra (apelidada de Machona), uma “portuguesa feroz, berradora, pulsos cabeludos e grossos, anca de animal do campo”. Ela é mãe de Ana das Dores, Nenen e Agostinho. Já Augusta Carne Mole é “brasileira, branca” e casada com Alexandre, “um mulato de quarenta anos, soldado de polícia, pernóstico”. Eles são pais da Jujú.

A pequena Jujú mora “na cidade com a madrinha que se encarregava dela”. A madrinha se chama Léonie, “uma cocote de trinta mil-réis para cima”, de procedência francesa, que visita sempre o cortiço, onde mora também Leocádia, portuguesa casada com Bruno, um ferreiro.

Há também Paula ou Bruxa, “uma cabocla velha, meio idiota, a quem respeitavam todos pelas virtudes de que só ela dispunha para benzer erisipelas e cortar febres por meio de rezas e feitiçarias”. Outra moradora é Marciana, “mulata antiga, muito séria e asseada em exagero”, mãe de Florinda.

A dona Isabel é mãe de Pombinha, uma jovem bonita, “posto que enfermiça e nervosa ao último ponto; loura, muito pálida, com uns modos de menina de boa família”. A jovem é noiva de João da Costa, “moço do comércio, estimado do patrão e dos colegas, com muito futuro”.

Pombinha, com aproximadamente 18 anos, ainda não menstrua, “apesar do zelo da velha e dos sacrifícios que esta fazia para cumprir à risca as prescrições do médico e não faltar à filha o menor desvelo”. Outro morador do cortiço é Albino, “um sujeito afeminado, fraco, cor de espargo cozido [...]. Era lavadeiro e vivia sempre entre as mulheres, com quem já estava tão familiarizado que elas o tratavam como a uma pessoa do mesmo sexo”.

No cortiço, também vive o velho Libório, que “andava sempre a fariscar os sobejos alheios, filando aqui, filando ali, pedindo a um e a outro, como um mendigo, chorando misérias eternamente, apanhando pontas de cigarro para fumar no cachimbo, cachimbo que o somítico roubara de um pobre cego decrépito”.

João Romão também é dono de uma pedreira e contrata o português Jerônimo para trabalhar lá. Jerônimo é um homem sério e traz a esposa, de nome Piedade, para viver com ele no cortiço. Mas, depois de meses de ausência, Rita Baiana volta a viver no cortiço de São Romão.

Ela chega com “seu farto cabelo, crespo e reluzente, puxado sobre a nuca, [...]. E toda ela respirava o asseio das brasileiras e um odor sensual de trevos e plantas aromáticas. [...], saracoteando o atrevido e rijo quadril baiano, [...], pondo à mostra um fio de dentes claros e brilhantes que enriqueciam a sua fisionomia com um realce fascinador”.

Ela “agora vivia metida” com o Firmo, mestre capoeirista, amigo de um tal de Porfiro. No entanto, o português Jerônimo cai de amores por Rita Baiana. Enquanto isso, Leocádia, “num lugar plantado de bambus e bananeiras, onde havia o resto de um telheiro em ruínas”, se entrega a Henrique, hóspede do Miranda, em troca de um coelho.

Ela também pede ao rapaz para lhe fazer “um filho, que eu preciso alugar-me de ama de leite”, pois “estão pagando muito bem as amas”. No entanto, com a chegada de Bruno, o rapaz e o coelho fogem. Vendo a mulher ali, o ferreiro a agride violentamente. Bruno e Leocádia viram o assunto do momento, pois a briga deles continua no cortiço, e Leocádia vai embora.

Quando João Romão tem a notícia de que seu vizinho Miranda se tornou barão, o vendeiro sente inveja. A sordidez do lugar onde vive (pois não gasta o dinheiro que tem) e sua relação com Bertoleza começam a incomodar o homem. Ele passa a desejar honrarias e reconhecimento.

Firmo percebe o interesse de Jerônimo em Rita Baiana. Quando, no “meio do pagode, a baiana caíra na imprudência de derrear-se toda sobre o português e soprar-lhe um segredo, requebrando os olhos”, Firmo reage, e os dois homens começam uma briga; os socos do português contra o gingado do capoeirista.

Depois de agredir o outro com um varapau, Jerônimo é ferido gravemente, pois Firmo lhe rasga o ventre com uma navalha, antes de fugir. Isso acaba fazendo Rita Baiana se apaixonar pelo português. Em seguida, o narrador conta o que aconteceu naquele dia, na casa de Léonie, quando dona Isabel e Pombinha foram visitar a cocote (prostituta).

Enquanto dona Isabel dormia, depois da refeição, Léonie seduziu Pombinha. No dia seguinte após a relação sexual com a cocote, Pombinha tem sua primeira menstruação: “sentiu o grito da puberdade sair-lhe afinal das entranhas, em uma onda vermelha e quente”. Dias depois, ocorre o seu casamento com João da Costa.

João Romão estreita amizade com Miranda e fica noivo de sua filha. Já Jerônimo, após sair do hospital, paga Pataca e Zé Carlos para o ajudar a matar o Firmo, em um assassinato bastante violento. Agora Rita Baiana só pertence a Jerônimo, para a infelicidade de Piedade.

Para vingar a morte de Firmo, integrantes do cortiço rival vão até o cortiço de São Romão, e ocorre ali uma verdadeira batalha. Aproveitando a confusão, a Bruxa coloca fogo no cortiço. Assim, “conseguira afinal realizar o seu sonho de louca: o cortiço ia arder”, mas à “meia-noite estava já completamente extinto o fogo e quatro sentinelas rondavam a ruína das trinta e tantas casinhas que arderam”.

Abandonada pelo marido, Piedade se entrega ao álcool. Pombinha, depois de dois anos de casada, se transforma em prostituta. E Bertoleza se torna um grande estorvo na vida de João Romão, até o dia em que o filho de seu “proprietário” aparece. Como João Romão embolsou o dinheiro da alforria, para não voltar a ser escrava, Bertoleza comete suicídio.

  • Narrador da obra O cortiço

A obra conta com um narrador onisciente, que conhece todos os detalhes da vida e dos pensamentos de cada personagem.

Características da obra O cortiço

O romance O cortiço é composto por 23 capítulos. Essa obra do naturalismo brasileiro possui as principais características desse estilo:

  • linguagem objetiva;

  • cientificismo;

  • caráter determinista;

  • zoomorfização;

  • personagens comandados pelo instinto;

  • prevalência do instinto sexual;

  • análise do comportamento de indivíduos marginalizados;

  • visão racista e homofóbica.

Saiba mais: Naturalismo — a corrente mais extremada do realismo

Contexto histórico da obra O cortiço

O romance O cortiço tem como pano de fundo o Segundo Império. Comandado por D. Pedro II (1825-1891), o Brasil assistiu ao crescimento dos movimentos abolicionistas, que contribuíram para o advento da abolição da escravatura, em 1888. Contudo, também viu a economia abalada pela dispendiosa participação na Guerra do Paraguai (1864-1870).

Assim, a obra de Aluísio Azevedo deixa transparecer também elementos associados ao capitalismo, assunto em voga no final do século XIX. Afinal, o Brasil fazia a transição do regime escravocrata para o regime capitalista. João Romão, personagem da obra, é um símbolo desse novo regime.

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Aluísio Azevedo

Aluísio Azevedo nasceu em São Luís, no estado do Maranhão, em 14 de abril de 1857. Era filho de um português. Ainda adolescente, o escritor trabalhou como caixeiro e guarda-livros. Já em 1876, decidiu morar no Rio de Janeiro, onde estudou na Academia Imperial de Belas Artes.

O escritor Aluísio Azevedo.
O escritor Aluísio Azevedo.

Dois anos depois, o autor voltou para São Luís, onde, em 1879, publicou seu primeiro livro: Uma lágrima de mulher. O romancista retornou ao Rio de Janeiro, em 1881, após o sucesso de seu primeiro romance naturalista: O mulato. Ingressou na diplomacia em 1895, carreira que manteve até sua morte, em 21 de janeiro de 1913.

Nota

|1| AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. 30. ed. São Paulo: Ática, 1997.

Créditos da imagem

[1] Editora Moderna (reprodução)

 

Por Warley Souza
Professor de Literatura

Escritor do artigo
Escrito por: Warley Souza Professor de Português e Literatura, com licenciatura e mestrado em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SOUZA, Warley. "O cortiço, de Aluísio Azevedo"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/o-cortico-de-aluisio-azevedo.htm. Acesso em 28 de março de 2024.

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