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Ainda estou aqui

"Ainda estou aqui" é uma obra de Marcelo Rubens Paiva que descreve a experiência da família Paiva com a Ditadura Militar no Brasil.

Folha branca em máquina de escrever: Texto na imagem: "Ainda estou aqui | Marcelo Rubens Paiva".
Ainda estou aqui narra a experiência da família Paiva durante a Ditadura Militar. A obra foi adaptada para o cinema em 2024.
Crédito da Imagem: Shutterstock.com
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Ainda estou aqui é uma obra literária lançada em 2015, de autoria de Marcelo Rubens Paiva, que foi adaptada para o cinema em 2024, alcançando uma grande repercussão nas mídias. A história é de cunho autobiográfico, pois aborda as experiências da família do autor, principalmente da mãe, para enfrentar o período da Ditadura Militar e o desaparecimento do pai.

O texto percorre a infância feliz do narrador e vai se tensionando a partir das movimentações políticas que culminam na Ditadura, iniciada em 1964. Nesse contexto, a família do narrador passa a ser vigiada e perseguida, até que o pai é levado para o interrogatório e não retorna mais. A partir daí, o narrador conta como a mãe se empenhou para manter a família bem, mesmo em condições precárias, até, após 20 anos, conseguir o reconhecimento da morte do seu esposo.

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Tópicos deste artigo

Resumo sobre Ainda estou aqui (livro)

  • Ainda estou aqui é uma obra do escritor Marcelo Rubens Paiva.
  • É um texto de cunho biográfico e histórico.
  • A narrativa discute os temas da memória individual e coletiva.
  • O texto aborda os impactos da Ditadura Militar no Brasil.
  • O texto possui um narrador-personagem.
  • O tempo da narrativa é cronológico e também psicológico.

Videoaula sobre Ainda Estou aqui

Análise da obra Ainda estou aqui

O livro Ainda estou aqui retrata a história da família Paiva, mais especificamente da matriarca Eunice, a partir da perspectiva do único filho homem, o qual conta a trajetória que vai de sua infância segura e feliz, passando por uma juventude conturbada, marcada pelo contexto da Ditadura Militar e do desaparecimento e morte do pai, até o tempo presente, no qual o personagem-narrador, já adulto, cuida da mãe com Alzheimer.

Pôster oficial do filme Ainda estou aqui, adaptação da obra de Marcelo Rubens Paiva. (Créditos: reprodução)
Pôster oficial do filme Ainda estou aqui, adaptação da obra de Marcelo Rubens Paiva. (Créditos: reprodução)

A obra é uma narrativa de caráter subjetivo e histórico, pois mostra o ponto de vista do personagem e de suas emoções e pensamentos diante das mudanças na vida pessoal, ao mesmo tempo que apresenta informações históricas sobre as características desse regime político e como ele afetou diversas famílias. Dessa forma, podemos afirmar que essa é uma obra complexa e de múltiplas temáticas, tendo em vista que aborda a memória pessoal e coletiva, os modelos de relações familiares, o contexto político da Ditadura Militar, a desigualdade social no Brasil, entre outros tópicos mais pontuais, porém igualmente relevantes para a riqueza do texto.

É uma literatura de cunho autobiográfico, ou seja, está relacionada às vivências reais do autor, Marcelo Rubens Paiva, e é dividido em três partes, as quais se concentram em fases temporais mais específicas. No entanto, a maioria dos capítulos intercalam diferentes tempos por meio do fluxo de consciência do narrador e da retomada de memórias de tempos anteriores ou posteriores ao fato principal narrado.

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  • Personagens da obra Ainda estou aqui

Os personagens principais são Marcelo (o narrador-personagem), Eunice (sua mãe), Rubens Paiva (seu pai) e suas irmãs. Como personagens secundários mais relevantes, destacam-se os demais familiares (principalmente tias e avós). No entanto, é importante frisar que a obra possui muitos personagens, pois o narrador cita não apenas seus familiares mais próximos, como também colegas de colégio, amigos do bairro, garotas por quem se apaixonou, artistas, militantes, políticos e militares. Todos, de forma mais ou menos presente, influenciam no enredo da obra.

  • Tempo da obra Ainda estou aqui

A narrativa não se constitui apenas em ordem cronológica, pois o narrador usa o tempo psicológico e o fluxo de consciência para relembrar períodos fora do momento no qual está narrando. Sendo assim, transitamos por diferentes momentos em um mesmo capítulo. Ainda, há uma espécie de separação histórica entre os capítulos, pois são divididos em três partes.

A primeira foca no tempo presente e na infância do narrador; a segunda parte aborda principalmente o período da Ditadura Militar e da morte do seu pai; por fim, a terceira parte centra-se na realidade da família após a perda do patriarca.

É importante destacar também que há, em diferentes momentos do texto, menção a datas específicas, demarcando essa característica de mistura de tempos no livro.

  • Espaço da obra Ainda estou aqui

A narrativa apresenta vários espaços que podem ser divididos, didaticamente, como espaço geográfico, espaço histórico e espaço pessoal. Em relação ao espaço geográfico, a história concentra-se principalmente nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro dos anos de 1960 e 1970, além de deslocar-se para Brasília em alguns momentos.

O espaço histórico pode ser compreendido como esse contexto político-social que determina aspectos da vida pessoal dos personagens, além de caracterizar o ambiente conflituoso e hostil que envolve a família. A respeito do espaço pessoal, destacam-se as casas, ruas e bairros nos quais a família viveu, elementos que são importantes, pois caracterizam as fases da família tanto financeiramente como politicamente.

Outro aspecto relevante sobre o espaço da obra é que a mudança de ambiente está sempre relacionada a influências externas, principalmente os conflitos políticos que envolviam o período. Em determinados momentos, o patriarca e sua família mudam-se de São Paulo ao Rio de Janeiro para evitar uma imagem estigmatizada de “comunista”; em outros momentos, eles se deslocam para outros bairros também por influências do contexto político. Sendo assim, o espaço não é apenas um cenário onde os acontecimentos se desenrolam, é também um elemento constituinte do enredo.

  • Enredo da obra Ainda estou aqui

Ainda estou aqui narra a história da família Paiva, centrada na figura da mãe Eunice, a partir da experiência do filho Marcelo, relatando como uma família de classe média foi abalada pelo desaparecimento do pai, após ser capturado por militares, e quais as consequências desse acontecimento para os sobreviventes.

A partir desse fio condutor, o narrador-personagem relata desde a pequena infância até seu presente com a mãe já idosa e com Alzheimer, abordando tanto os aspectos subjetivos e familiares quanto os sociais e políticos.

  • Narrador da obra Ainda estou aqui

Ainda estou aqui apresenta um narrador-personagem, ou seja, aquele que relata fatos nos quais ele está envolvido. A história é contada a partir do ponto de vista de Marcelo, único filho homem, o qual recebe a responsabilidade de assumir um papel de proteção e cuidado com suas irmãs e mãe, visto que se torna o “homem da família”.

A utilização do narrador-personagem contribui para que a obra não apenas seja um registro histórico, mas principalmente uma narrativa subjetiva sobre a experiência da Ditadura Militar para diversas famílias. A partir das emoções do filho, acessamos o contexto externo e interno que envolve os personagens.

Leia também: Romance histórico — tipo de narrativa que mistura ficção com fatos históricos

Moral da história de Ainda estou aqui

Ainda estou aqui é uma obra complexa e crítica, por isso mesmo não apresenta respostas reducionistas aos conflitos propostos pela narrativa. O texto promove reflexões sobre o impacto de governos ditatoriais para a população, principalmente as mais carentes, mas amplia essa discussão para contextos também contemporâneos, demonstrando que o Estado, de diferentes formas, ainda permanece atuando em desfavor de muitos dos seus cidadãos.

Em determinado momento da obra, por exemplo, o narrador propõe uma análise do desaparecimento do seu pai, durante a Ditadura, em relação ao desaparecimento de Amarildo, em 2013. Dessa forma, o autor discute como, mesmo em contextos tão diferentes, práticas de violência são cometidas e acobertadas contra parte da população.

Características da obra Ainda estou aqui

  • Estrutura da obra Ainda estou aqui

A obra é dividida em três partes, nomeadas de parte 1, 2 e 3. A parte 1 tem 5 capítulos e centram-se na figura da mãe, tanto no presente como durante a infância de Marcelo. A parte 2 tem 6 capítulos, os quais abordam principalmente as experiências da família durante a Ditadura Militar. A parte 3 tem 8 capítulos e aborda as consequências do desaparecimento do pai para a família e a luta pelo reconhecimento oficial de sua morte.

  • Estilo literário da obra Ainda estou aqui

A obra mescla relato pessoal com histórico por meio de uma literatura de natureza autobiográfica, e recorre a uma organização não linear para estruturar o tempo dos acontecimentos e seus impactos para os personagens. O autor utiliza uma linguagem acessível e uma escrita fluida, o que facilita a compreensão pelo leitor. Além disso, embora não exponha de modo demasiado explícito, consegue descrever a tensão e o horror da repressão do período, causada pelo regime político.

Em alguns capítulos, há trechos de documentos oficiais que fortalecem o caráter histórico da obra, ao mesmo tempo que contribuem para a compreensão das experiências emocionais dos personagens.

  • Contexto histórico da obra Ainda estou aqui

A obra se passa durante o período pré, durante e pós-Ditadura Militar. No entanto, a maior ênfase se dá ao momento do regime político em questão. No relato anterior à Ditadura, relata-se um Brasil efervescente politicamente, movido por muitas reivindicações sindicais. Nesse momento, João Goulart (Jango) é eleito, em 1961, o que acelera o processo de golpe de Estado.

Durante a instauração e permanência do regime militar, o país passa a enfrentar forte censura e repressão política, justificadas pelo governo como medidas para conter a ordem e a democracia. A princípio, a promessa era de que a posse do poder seria temporária, no entanto o regime permaneceu por mais de 20 anos, marcando grande parte da população devido à repressão, à tortura, ao exílio e ao “desaparecimento” de pessoas que eram consideradas, mesmo sem provas, comunistas ou aliados. 

Marcelo Rubens Paiva, autor de Ainda estou aqui

Marcelo Rubens Paiva. Crédito da Imagem: Instagram @marcelorubenspaiva | Reprodução
Marcelo Rubens Paiva. Crédito da Imagem: Instagram @marcelorubenspaiva | Reprodução

Marcelo Rubens Paiva nasceu em 1959, em São Paulo, e é o filho mais novo de Eunice e Rubens Paiva. Formou-se em Rádio e TV pela Universidade de São Paulo (USP) e em Teoria Literária pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

É escritor e já publicou outras obras, como Blecaute (1982), Feliz Ano Velho (1982), Ua Brari (1990), Bala na Agulha (1992), Não és Tu Brasil (1996), Malu de Bicicleta (2003), O Homem que Conhecia as Mulheres (2006), A Segunda Vez que Te Conheci (2008), entre outras. O escritor também escreveu peças e trabalhou como colunista, além de outras atuações na área das artes e comunicação. Para saber mais sobre ele, clique aqui.

Fontes:

PAIVA, Marcelo Rubens. Ainda estou aqui [recurso eletrônico] / Marcelo Rubens Paiva. – 1. ed. – Rio de Janeiro: Objetiva, 2015.

SOUZA, Warley. "Marcelo Rubens Paiva"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/marcelo-rubens-paiva.htm. Acesso em 23 de novembro de 2024.

RIBEIRO, Aline. Marcelo Rubens Paiva: “Minha mãe foi a grande heroína desta história”. Época. Vida. 06 ago 2015.

STAINLE, Stéfano. Teoria da literatura. Londrina : Editora, 2017. 272 p.

Escritor do artigo
Escrito por: Talliandre Matos Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

MATOS, Talliandre. "Ainda estou aqui"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/ainda-estou-aqui.htm. Acesso em 10 de dezembro de 2024.

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