Revolta de Beckman

A Revolta de Beckman foi um movimento organizado no Maranhão, entre 1684-1685, motivado pela insatisfação da população com a administração colonial.

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A Revolta de Beckman foi uma revolta organizada pelos homens-bons de São Luís, por conta de suas insatisfações com medidas tomadas pela Coroa em questões relacionadas ao comércio local e o trato dos indígenas. Iniciou-se em 1684 e se estendeu até 1685, quando uma esquadra portuguesa conseguiu restabelecer o domínio português sobre a cidade maranhense. Os envolvidos com o movimento foram punidos de diferentes maneiras.

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Antecedentes da Revolta de Beckman

A Revolta de Beckman aconteceu no Maranhão, estado criado por intermédio dos espanhóis, em 1621. A ordem veio do rei que ocupava o trono espanhol e português nos tempos da União Ibérica, o rei Filipe II da Espanha, resultando na criação do Estado do Grão-Pará e Maranhão, com o objetivo de colocar fim às invasões estrangeiras que aconteciam na região.

Na década de 1630, a região foi conquistada pelos holandeses, mas, depois que eles foram expulsos, a economia local começou a sofrer problemas de abastecimento, pois a economia local era muito simples. A reconquista realizada pelos portugueses fez com que o local passasse a ser chamado de Estado do Maranhão e Grão-Pará, a partir de 1654. Essa província incorporava territórios que iam do Ceará ao estado do Amazonas.

O que sustentava a economia local eram as atividades de subsistência ligadas à agricultura e ao extrativismo. Na agricultura, produzia-se, principalmente, algodão, mas também existiam produções de cacau e tabaco, por exemplo. Alguns poucos se arriscavam na produção de açúcar. No extrativismo, destacam-se as drogas do sertão, que resultava na extração de itens, como canela.

Essas atividades traziam um retorno financeiro muito pequeno, portanto, a economia do Maranhão não era muito desenvolvida. Por isso, os habitantes dessa província não tinham condições de comprar grande número de escravos africanos. De toda forma, a segunda metade do século XVII presenciou a chegada dos primeiros escravos africanos à região, fruto dos desentendimentos entre colonos e jesuítas. Esses conflitos eram em decorrência da ação dos jesuítas em “proteger” os nativos da escravização realizada pelos colonos. Os jesuítas procuravam ter o controle do trato dos nativos para catequizá-los e explorá-los em suas missões.

O primeiro registro que se tem da entrada de africanos no Maranhão e Grão-Pará é de março de 1662 e, a partir da década de 1680, essa entrada ficaria sob encargo da Companhia de Comércio do Maranhão, criada em 1682, principalmente para regular e organizar a entrada de escravos africanos na região.

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Essa companhia tinha como promessa entregar, ao menos, 500 escravos por ano no Maranhão, mas nunca conseguiu cumprir sua promessa. Essa companhia também tinha como atribuição o monopólio do comércio no Maranhão. Isso foi uma determinação régia, portanto, vinha de uma ordem real.

A Companhia de Comércio do Maranhão era a única autorizada a comprar as mercadorias produzidas pelos locais e ela era a responsável por realizar a venda dessas mercadorias adquiridas. Outros itens relacionados ao abastecimento do Maranhão também eram trazidos e vendidos exclusivamente pela companhia. Esse monopólio recebeu o nome de estanco.

Leia mais: Governo-Geral – a estrutura centralizadora implantada por Portugal na década de 1540

Causas da Revolta de Beckman

A razão direta que explica o início da Revolta de Beckman foi a insatisfação dos habitantes de São Luís com a administração colonial. As causas da insatisfação dos colonos estavam em torno da questão da escravização dos indígenas e do monopólio comercial realizado pela Companhia de Comércio do Maranhão, principalmente.

Na questão da escravização dos indígenas, a insatisfação era pelo fato de que os membros da Companhia de Jesus, os jesuítas, posicionavam-se contra os colonos, impedindo-os de escravizar os indígenas. A ação dos jesuítas fez com que o regente de Portugal d. Pedro, rei de Portugal, a partir de 1683 e conhecido como d. Pedro II (não confundir com o d. Pedro II do Brasil), autorizasse, em 1680, uma lei que impedia a escravização de nativos no Estado do Maranhão.

A Revolta de Beckman, que se estendeu durante 15 meses, aconteceu em São Luís entre 1684-1685.
A Revolta de Beckman, que se estendeu durante 15 meses, aconteceu em São Luís entre 1684-1685.

Com essa lei, o trato e o controle dos indígenas ficavam exclusivamente nas mãos dos jesuítas, que os mantinha em suas missões, ensinando-lhes a cultura portuguesa e o catolicismo. Isso irritava os colonos, porque os escravos africanos prometidos pela Companhia de Comércio do Maranhão não eram entregues e só havia condições de escravizar os indígenas.

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Na questão econômica, o estanco prejudicava os interesses comerciais dos colonos. Além disso, havia denúncias de favorecimentos de terceiros por parte da Companhia de Comércio do Maranhão; outras denúncias falavam que a companhia pagava valores muito baixos pelas mercadorias trazidas pelos locais e abastecia São Luís com produtos de baixa qualidade.

A rivalidade existente entre São Luís e Belém também repercutiu para o início da Revolta de Beckman. Os habitantes da cidade maranhense sentiam-se prejudicados pelo fato de o governador da província, Francisco de Sá e Menezes, preferir morar em Belém. Do ponto de vista popular, a miséria, na qual uma parte da população era obrigada a viver, também serviu de motivação para a revolta.

Principais acontecimentos da Revolta de Beckman

Todos esses fatores levaram alguns habitantes a conspirarem contra a autoridade colonial. Entre os conspiradores, estavam homens-bons, cidadãos comuns e até mesmo clérigos (não eram jesuítas). Entre os principais articuladores da revolta contra a administração colonial, estavam os irmãos Manuel e Tomás Beckman, cujo sobrenome foi utilizado para nomear a revolta,

Manuel era dono de engenho e foi um dos grandes líderes da Revolta de Beckman. Já Tomás era advogado e cumpriu um papel secundário no desenrolar do movimento. Foi Manuel um dos responsáveis por convencer outros habitantes de São Luís a rebelarem-se contra a administração local.

A revolta em São Luís iniciou-se no dia 24 de fevereiro de 1684, exatamente a data em que acontecia uma procissão religiosa na cidade. Os cidadãos rebelados renderam os guardas que tomavam conta da Casa de Estanco para, em seguida, controlar locais estratégicos da cidade. O capitão-mor do Maranhão, Balthasar Fernandes, foi preso durante a revolta.

Com a cidade de São Luís tomada, os rebeldes formaram um governo chamado de Junta Geral de Governo e a entregaram para o comando de Tomás Beckman, João de Sousa de Castro e Manuel Coutinho. O novo governo de São Luís tomou algumas medidas como a deposição do capitão-mor, a expulsão do jesuítas e a abolição da Casa de Estanco.

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O governo formado era composto por representantes de diferentes grupos presentes em São Luís: os homens-bons, cidadãos comuns e clérigos. Os líderes do movimento tentaram levá-lo para outros lugares da província, mas não conseguiram apoio. Durante mais de um ano, o governo da capital maranhense ficou sob comando dos rebelados.

Existem relatos que contam que, pouco a pouco, o comando da Revolta de Beckman foi enfraquecendo-se, muito por conta de Manuel Beckman, dono de uma personalidade entendida por alguns de seus colegas como controladora.

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Desfecho da Revolta de Beckman

A Revolta de Beckman durou mais de um ano, mas, sem o apoio de outras cidades do estado, ruiu. Em maio de 1685, os portugueses enviaram uma esquadra para São Luís, e o comando da cidade foi recuperado sem muitas dificuldades. A esquadra portuguesa trazia Gomes Freire de Andrade, o novo governador do Maranhão. Muitos cidadãos de São Luís fugiram por medo de punições.

A chegada do governador fez com que a normalidade (do ponto de vista da Coroa) fosse restabelecida. O novo governador emitiu as ordens para prender os envolvidos com a revolta, e as punições foram ditadas. Manuel Beckman e Jorge de Sampaio de Carvalho foram condenados à forca. Tomás Beckman e Eugênio Ribeiro Maranhão foram presos, Belquior Gonçalves foi açoitado e degredado de volta para Portugal. Outros envolvidos foram multados.

Com o fim da revolta, os jesuítas retornaram e continuaram explorando a mão de obra dos indígenas. A Companhia de Comércio do Maranhão foi extinta, pois a rejeição popular a ela era muito grande (a revolta em si foi um sinal disso). Por fim, a proibição acerca da escravização dos indígenas foi revista pela Coroa no Maranhão.

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Em 1688, uma nova lei entrou em vigor a partir do mês de abril. Com essa lei, foram criados critérios para escravização de indígenas e o controle sobre essas questões foi atribuído à Fazenda Real e à Corte. Com essa lei, retomaram-se as expedições (chamadas de “descimentos”) para realizar a captura de indígenas. A escravização de indígenas no Brasil só foi terminantemente proibida em 1755, por ordem do Marquês de Pombal.

 

Por Daniel Neves
Professor de História

Escritor do artigo
Escrito por: Daniel Neves Silva Formado em História pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) e especialista em História e Narrativas Audiovisuais pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Atua como professor de História desde 2010.
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SILVA, Daniel Neves. "Revolta de Beckman"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiab/revolta-beckman.htm. Acesso em 10 de dezembro de 2025.
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Exercício 1

Qual era a situação vivida no Maranhão ao longo do século XVII?

Exercício 2

Estabeleça os principais objetivos que a Companhia de Comércio do Maranhão, criada em 1682, deveria cumprir.

Exercício 3

Relacione o desempenho da Companhia de Comércio do Maranhão com a deflagração da Revolta dos Beckman

Exercício 4

Quais foram as principais ações do governo provisório que tomou a cidade de São Luís na Revolta dos Beckman?