Literatura de informação é como classificamos os primeiros textos de caráter informativo produzidos sobre o Brasil, no século XVI. Esses relatos são caracterizados pelo eurocentrismo, teocentrismo e descritivismo. E a principal obra desse tipo de literatura é a famosa Carta de Pero Vaz de Caminha.
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A literatura de informação ou de viagens, no século XVI, tinha a função de informar sobre a nova terra descoberta, o Brasil.
Ela é caracterizada pela visão eurocêntrica e teocêntrica de seus autores ou cronistas.
A Carta de Pero Vaz de Caminha é a principal obra desse tipo de literatura.
Os textos informativos trazem relatos e descrições referentes ao Brasil no primeiro século da colonização portuguesa.
Também chamada de literatura de viagens, é uma literatura informativa que tem apenas uma função utilitária: informar. Esses textos têm origem nos relatos de alguns viajantes que chegaram ao Brasil, no século XVI, e eram destinados aos europeus, com o intuito de mostrar as características da nova terra invadida pelos portugueses.
Os relatos feitos pelos viajantes têm algumas características marcantes. Eles apresentavam uma visão eurocêntrica e desvalorizam a cultura dos indígenas brasileiros. Há também neles um caráter teocêntrico, já que esses viajantes, ou cronistas, professavam a fé cristã e acreditavam que os indígenas deviam ser catequizados.
O valor desses textos é mais histórico do que estético, apesar de apresentarem elementos do gênero narrativo. Eles são bastante descritivos, já que pretendem retratar pessoas, animais, objetos e paisagens do Brasil. É também evidente a especulação dos cronistas acerca da existência de ouro em terras brasileiras.
O caráter exótico do país é explicitado por meio da descrição da fauna e da flora, vistas com admiração pelos autores dessas crônicas históricas, de forma a sugerir que o Brasil era uma espécie de paraíso.
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Américo Vespúcio (1454-1512)
Manuel da Nóbrega (1517-1570)
Jean de Léry (1536-1613)
Pero de Magalhães Gândavo (1540-1579)
Gabriel Soares de Sousa (1540-1591)
Fernão Cardim (1540-1625)
Carta de Pero Vaz de Caminha (1500), de Pero Vaz de Caminha
Carta de Lisboa (1502), de Américo Vespúcio
Diálogo sobre a conversão dos gentios (1557), de Manuel da Nóbrega
Duas viagens ao Brasil (1557), de Hans Staden
Tratato da terra do Brasil (1570), de Pero de Magalhães Gândavo
História da província de Santa Cruz (1576), de Pero de Magalhães Gândavo
Viagem à terra do Brasil (1578), de Jean de Léry
Narrativa epistolar (1583), de Fernão Cardim
Tratados da terra e da gente do Brasil (1583-1601), de Fernão Cardim
Tratado descritivo do Brasil (1587), de Gabriel Soares de Sousa
O 22 de abril de 1500 é conhecido como o dia da descoberta do Brasil. Nesse dia, a frota de Pedro Álvares Cabral (1467-1520) chegou à Bahia. Era o primeiro contato entre os portugueses e os indígenas brasileiros. Nas décadas que se seguiram, foi intensificada a exploração do território nacional.
No início, o pau-brasil era o principal produto explorado pelos colonizadores. No entanto, a exploração portuguesa não se deu pacificamente. Não estamos falando só da violência dos colonizadores portugueses em relação aos povos indígenas, mas também da tentativa de colonização francesa iniciada a partir de 1504.
Assim, em 1534, teve início o processo massivo de colonização portuguesa, com a criação das capitanias hereditárias. Já em 1549, a cidade de Salvador foi sede do primeiro Governo Geral. Era uma tentativa da Coroa portuguesa de combater os indígenas rebeldes e os piratas franceses. Nesse ano, chegaram também os jesuítas para a catequização dos indígenas.
Nesse contexto, foram feitos os primeiros relatos sobre as terras brasileiras, como a Carta de Pero Vaz de Caminha, que é considerada o primeiro texto da literatura de informação no Brasil.
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Pero Vaz de Caminha estava na frota de Cabral e tinha a função de relatar detalhes da viagem para D. Manuel I, o rei de Portugal. Esse relato escrito em forma de carta, portanto, é o primeiro texto a falar sobre o Brasil, já sob o domínio português. Nessa longa carta, Caminha menciona o dia da partida, uma segunda-feira, 9 de março.
A frota passou pelas Ilhas Canárias, além de Cabo Verde. Na travessia, a nau de um tal Vasco de Ataíde se perdeu das demais embarcações e jamais foi encontrada. A chegada da frota cabralina ao Brasil se deu no dia 22 de abril de 1500, em uma quarta-feira. E os portugueses chamaram o novo país de Terra de Vera Cruz.
No dia seguinte, avistaram os primeiros habitantes indígenas, “uns sete ou oito”. Caminha descreve o que viu:
“Eram eles pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Nas mãos traziam arcos e setas. Vinham todos rijamente sobre o batel. Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os pousaram”1.
Em 24 de abril, o número de indígenas na praia era bem maior, em torno de “sessenta ou setenta homens”:
“A feição deles é parda, um tanto avermelhada, com bons rostos e bons narizes, bem-feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura. Não fazem o menor caso de encobrir ou de mostrar suas vergonhas, e nisso têm tanta inocência como em mostrar o rosto.”
Assim, começou o intercâmbio cultural que transformaria para sempre a vida dos povos indígenas do Brasil. Dessa forma, no domingo, em 26 de abril, “determinou o Capitão de ir ouvir missa e pregação naquele ilhéu”. Caminha encerra seu relato no dia 1º de maio, sexta-feira, quando o frei Henrique rezou outra missa.
Dessa vez, segundo o escrivão relata: “estiveram conosco cerca de cinquenta ou sessenta deles [os indígenas], que ficaram de joelhos, assim como nós”.
Desde o início, o relato de Caminha mostra a intenção dos portugueses em catequizar os indígenas e explorar as riquezas da nova terra:
[...], não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem o vimos. Porém, a terra em si é de muitos bons ares, [...]. As águas são muitas, infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-se aproveitá-la, dar-se-á nela tudo, por causa das águas que tem.
Caminha faz a seguinte observação: “Porém, o melhor fruto que dela se pode tirar me parece que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza nela deve lançar.” Observa-se, dessa forma, que quando afirma “salvar esta gente”, o escrivão está se referindo à catequização. Já a “semente” a que ele faz referência é a fé cristã.
Nota
1 TUFANO, Douglas. A carta de Pero Vaz de Caminha: comentada e ilustrada. São Paulo: Moderna, 1999.
Créditos da imagem
[1] Oscar Pereira da Silva / Acervo do Museu Paulista / Wikimedia Commons
Por Warley Souza
Professor de Literatura
Fonte: Brasil Escola - https://brasilescola.uol.com.br/literatura/literatura-informacao.htm