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O ataque terrorista que vitimou 12 pessoas – 11 membros do jornal satírico francês Charlie Hebdo e um policial –, no dia 7 de janeiro de 2015, em Paris, foi promovido pelos irmãos Saïd e Chérif Kouachi, que portavam rifles de assalto do modelo kalashnikov, mais conhecidos pela sigla AK-47. Sabe-se que os irmãos Kouachi eram radicais islâmicos ligados à ramificação da rede terrorista Al-Qaeda no Iêmen e que o massacre foi promovido em razão (alegada pelos terroristas) das ofensivas charges do profeta Maomé feitas pelo referido jornal satírico.
Um fato interesse é que o antigo líder da Al-Qaeda, Osama Bin Laden, idealizador dos ataques do 11 de setembro, usava sempre, a tiracolo, um exemplar do mesmo rifle, o AK-47. Essa arma, volta e meia, aparece como “detalhe” de notícias trágicas, como objeto de imponência em algozes de eventos mortíferos, seja em membros de grupos terroristas, em traficantes do Rio de Janeiro ou em rebeldes de países da África Subsaariana. Há uma razão para que ela figure em vários cantos do mundo: sua versatilidade. Mas para entender essa sua característica, é necessário voltar à época de sua criação: o contexto da Segunda Guerra Mundial.
A AK-47, ou Avtomat Kalashnikova, 1947 (Rifle Automático Kalashnikov, modelo de 1947), leva o nome de seu fundador e o ano em que começou a operar. O russo Mikhail Kalashnikov (1919-2013) foi sargento da 108ª Divisão de Tanques do 24º Regimento do Exército Vermelho da URSS, então sobre a direção de Stalin, durante a Segunda Guerra. Após testemunhar várias baixas no Exército Vermelho, sobretudo nas campanhas contra os nazistas, Kalashnikov percebeu que uma das principais razões das sucessivas perdas em combate se dava pela falta de um rifle de assalto (de precisão e portado a tiracolo) leve, automático, que não emperrasse e que se adaptasse tanto ao clima árido quanto ao úmido. Se o Exército Vermelho da URSS dispusesse de um tal rifle, intuía Kalashnikov, os nazistas poderiam ser derrotados com maior facilidade.
Nos anos finais da guerra, M. Kalashnikov empenhou-se em elaborar um projeto para o desenvolvimento dessa arma. A inspiração veio de vários modelos de rifles de assalto, mas um em especial que havia sido produzido pelos rivais alemães: o Sturmgewehr 44. No entanto, o projeto de Kalashnikov só foi levado a cabo após o fim da Segunda Guerra, em 1947, quando os primeiros modelos de AK-47 começaram a ser produzidos.
A partir da década de 1950, o AK-47 tornou-se notório em todos os principais combates travados entre as potências da Guerra Fria. Já na Guerra da Coreia, o sucesso que essa arma proporcionou aos norte-coreanos apoiados pela URSS tornou-se um pesadelo para quem não detinha a tecnologia empregada por Kalashnikov. O modelo foi posteriormente comprado por várias forças armadas do mundo. Entretanto, após o fim da URSS, na década de 1980, uma grande quantidade de AK-47 passou a circular como produto no “mercado negro”. O rifle passou então a alimentar contingentes de narcotraficantes, mafiosos, rebeldes e terroristas de todo o mundo, tornando-se a arma mais confiável para combate “homem a homem”. O grupo terrorista do Líbano, Hezbollah, por exemplo, ostenta em sua bandeira uma silhueta do AK-47.
A popularidade do AK-47 deve-se tanto ao seu uso por exércitos em guerras convencionais quanto pelo uso em situações de guerra civil, terrorismo, etc. Em vários países africanos da região subsaariana, o AK-47 é frequentemente a principal arma de combate adotada pelos rebeldes nas guerras civis. Crianças de 12 anos de idade são capazes de portá-lo sem grande dificuldade, dada sua leveza e facilidade de manuseio.
Além disso, o AK-47 tornou-se um símbolo pop, frequentemente retratado em filmes de Hollywood, como Jackie Brown (1997), de Quentin Tarantino, e O senhor das Armas (2005), de Andrew Niccol. Seu inventor, M. Kalashnikov, quando perguntado sobre o que sentia e pensava ao saber que sua invenção havia se tornado a arma mortífera mais usada no mundo, respondeu: “Eu durmo bem. A culpa é dos políticos por não chegarem a acordos e recorrerem à violência.”
*Créditos da imagem: Shutterstock e Olga Popova
**Créditos da imagem: Commons
Por Me. Cláudio Fernandes