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Evo Morales é um político boliviano que foi presidente da Bolívia de 2006 a 2019. Ele nasceu em uma família pobre de indígenas aimarás que sobreviviam da agricultura, e teve uma longa e sólida carreira como sindicalista dos cocaleros (produtores da planta de coca). Sua atuação como sindicalista rendeu-lhe projeção política.
Ingressou no Movimiento al Socialismo (MAS), tornando-se um dos políticos mais prestigiados do país no começo do século. Foi o vencedor das eleições presidenciais de 2005, 2009 e 2014. Em 2019, venceu uma nova eleição, mas sofreu um golpe que o forçou a renunciar à presidência. Foi o primeiro presidente indígena da história da Bolívia.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre Evo Morales
- 2 - Biografia de Evo Morales
- 3 - Trajetória política de Evo Morales
- 4 - Governo de Evo Morales
- 5 - Ideologia de Evo Morales
Resumo sobre Evo Morales
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Evo Morales é um político boliviano que ficou marcado por ter sido presidente da Bolívia entre 2006 e 2019.
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Nasceu em uma família pobre de agricultores indígenas aimarás.
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Tornou-se um sindicalista cocalero e defendia os interesses dos produtores que cultivavam coca no país.
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Ingressou na política e aderiu ao Movimiento al Socialismo (MAS), tornando-se um dos políticos mais promissores da Bolívia no começo do século XX.
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Foi eleito presidente em 2005, sendo o primeiro presidente indígena da Bolívia.
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Foi destituído da presidência por um golpe em 2019.
Biografia de Evo Morales
Juan Evo Morales Ayma nasceu no vilarejo de Isallawi, no dia 26 de outubro de 1959. Ele nasceu em uma família indígena de origem aimará, e seus pais, Dionisio Morales Choque e María Ayma Mamani, eram camponeses que tiravam todo o seu sustento da agricultura. Evo Morales teve seis irmãos, porém só ele e mais dois sobreviveram à infância.
Como cresceu em uma família aimará, Evo Morales aprendeu a falar o idioma aimará. Teve uma infância marcada pela pobreza, ajudando os seus pais no cultivo agrícola, mas também reservando tempo para que pudesse estudar. Ele fez o ensino básico e depois ingressou em uma instituição de ensino agrário.
Ele desejava ingressar em uma universidade para estudar jornalismo, mas nunca fez o curso. Em 1977, ele ingressou no serviço militar obrigatório da Bolívia e cumpriu um ano como militar. Encerrado o serviço militar, ele retornou para sua família, que havia se mudado para Villa 14 de Septiembre.
Ele trabalhou como camponês junto de sua família, cultivando uma série de itens agrícolas e a planta de coca, bastante tradicional como item medicinal e religioso na cultura andina. Foi nesse momento que Evo Morales deu início a sua trajetória como sindicalista, pois entrou para o sindicato dos cocaleros, os produtores da planta de coca.
Trajetória política de Evo Morales
Na década de 1980, Evo Morales tornou-se uma figura importante no sindicato cocalero e se opôs radicalmente à posição estadunidense de tentar erradicar a produção de coca na Bolívia. Ele atuou em uma série de ações, que incluíram o bloqueio de estradas, a ocupação de prédios governamentais e grandes protestos.
A atuação de Morales no sindicato cocalero e seu envolvimento com diferentes protestos fizeram com que ele fosse vítima da Unidad Móvil Policial para Áreas Rurales (Umopar), que o espancou e levou seu corpo para as montanhas para que ele morresse. No entanto, ele foi resgatado por seus companheiros de sindicato.
A questão da coca foi uma pauta importante na Bolívia durante toda a década de 1980 e 1990, sobretudo pela pressão que os Estados Unidos mantiveram sobre o governo boliviano para que o cultivo da planta fosse proibido. Evo Morales chegou a ser preso pela defesa que fazia do cultivo cocaleiro no país.
No final da década de 1980, os sindicatos cocaleros ingressaram na política e Evo Morales apoiou esse movimento. Inicialmente, esse ingresso deu origem à Asamblea por la Soberanía de dos Pueblos (ASP). Alguns anos depois, Evo Morales abandonou a ASP e passou a fazer parte do Instrumento Político por la Soberanía de los Pueblos (IPSP). Esse partido, depois, teve seu nome alterado para Movimiento al Socialismo (MAS), que sustenta até hoje. O MAS ganhou bastante força a partir dos anos 2000, atuando como uma força que protestava ativamente contra a desigualdade social e o descaso dos políticos tradicionais com a pobreza do povo boliviano.
Em 2002, Evo Morales já era uma das grandes lideranças do MAS na Bolívia. Na eleição presidencial de 2002, Morales reforçou o discurso crítico ao descaso dos políticos tradicionais da Bolívia. O resultado foi surpreendente e transformou o MAS na segunda força política da Bolívia.
Nessa eleição, Evo Morales obteve 20,49% dos votos, contra 22,46% dos votos do político conservador Gonzalo Sánchez de Lozada. Os anos seguintes foram de grande instabilidade política e social, sobretudo por conta da Guerra do Gás. Essa “guerra” foi, na verdade, uma série de protestos de ativistas que se posicionaram contra a privatização das reservas de gás natural da Bolívia pelas empresas estadunidenses.
O governo boliviano reprimiu violentamente os protestos, resultando em dezenas de vítimas. Evo Morales era um forte crítico da atuação do governo e se opôs à privatização de um dos recursos mais importantes do país. A Guerra do Gás fez o presidente Lozada renunciar em 2003, 14 meses depois de ter assumido a presidência.
O vice-presidente, Carlos Mesa, assumiu a presidência no lugar de Lozada e organizou um referendo sobre a questão do gás em 2004. A população boliviana demonstrou sua insatisfação com a privatização da exploração do gás e afirmou que o recurso deveria ser usado pelos próprios bolivianos em benefício do país.
Evo Morales e o MAS foram forças atuantes no contexto da Guerra do Gás, liderando inúmeros protestos. A pressão social e os protestos intensos fizeram Carlos Mesa também renunciar à presidência boliviana. Eduardo Rodríguez Veltzé, chefe da Suprema Corte, assumiu a presidência de maneira interina, organizando uma nova eleição presidencial em 2005.
Governo de Evo Morales
Na eleição de 2005, Evo Morales foi eleito presidente da Bolívia ao obter 53,74% dos votos, tornando-se o primeiro presidente boliviano de origem indígena. Evo Morales assumiu a presidência em 22 de janeiro de 2006, e seu governo se estendeu até 10 de novembro de 2019, quando sofreu um golpe militar que forçou sua renúncia.
Uma vez na presidência, Evo Morales anunciou que colocaria fim no estado colonial que existia na Bolívia e também no neoliberalismo, prometendo uma “refundação” do país. Seu governo foi pautado por um discurso anti-imperialista, nacionalista, antineoliberalista e socialista. Na economia, promoveu algumas mudanças significativas.
Uma delas foi a proposta de nacionalização de diversas áreas da economia, como a eletricidade, mineração e telefonia. Além disso, deu grande importância à exploração do gás e petróleo, forçando as empresas estrangeiras a entregarem grande parte de seus lucros na exploração de ambos os itens em forma de imposto.
A arrecadação do governo aumentou, a economia se fortaleceu, e programas sociais foram criados para combater a pobreza no país. Seu governo conseguiu reduzir as taxas de pobreza no país, baixando-as de 59% para 35% no período de uma década. Além disso, ele conseguiu controlar a inflação e garantiu um bom crescimento econômico para a Bolívia.
Seu governo também foi marcado por uma revolta iniciada por quatro estados bolivianos com intenções separatistas — Santa Cruz, Beni, Pando e Tarija; e foi criticado por manter alguns privilégios ao presidente, por enfraquecer as leis de proteção ambiental, por fazer algumas promessas e não cumpri-las etc.
A grande crítica a Evo Morales foi a pouca disposição do presidente em preparar um sucessor para seu cargo. A Constituição da Bolívia permitia que ele se reelegesse uma vez, o que ele fez em 2009, quando venceu a eleição presidencial, com mais de 64% dos votos. Em 2014, ele conseguiu uma nova Constituição, possibilitando que disputasse uma segunda reeleição.
Evo Morales disputou uma segunda reeleição presidencial em 2014, conquistando-a com mais de 61% dos votos. O presidente boliviano tentou mudar novamente o texto constitucional para que se reelegesse para um quarto mandato, mas a população rejeitou a possibilidade. Ainda assim, ele conquistou o direito de disputar uma nova eleição presidencial por uma decisão da Suprema Corte boliviana.
Mais uma eleição presidencial aconteceu em 2019 e foi marcada por uma grande polêmica na apuração dos votos. Houve divergência nos resultados da apuração, e o resultado final foi apresentado como uma vitória de Evo Morales por 47,07% contra 36,51% de Carlos Mesa, indicando vitória do político do MAS no primeiro turno.
A polêmica da apuração fez com que a Organização dos Estados Americanos (OEA) rejeitasse o resultado, sob a alegação de que ele estava sob suspeita de fraude. A OEA recomendou uma nova eleição presidencial, e Evo Morales anunciou que convocaria um novo pleito para acabar com qualquer suspeita.
Os oponentes de Evo Morales aproveitaram a situação para realizar protestos contra o presidente e a possível fraude eleitoral. Houve revoltas de policiais por toda a Bolívia, e um general do exército, chamado Williams Kallima, sugeriu que Morales renunciasse para pacificar o país. A violência tomou conta da Bolívia, e, para evitar a escalada da situação, Morales renunciou ao cargo.
Ele se exilou, primeiro, no México, e, por último, na Argentina. O ex-presidente boliviano foi acusado de sedição e terrorismo pelo governo provisório e foi proibido de concorrer às eleições para o Senado em 2020. Ainda em 2020, o Human Rights Watch, observatório internacional dos Direitos Humanos, anunciou que as acusações contra Evo Morales foram politicamente motivadas, não havendo comprovação de fraude eleitoral.
O governo provisório foi formado por Jeanine Áñez, opositora de Evo Morales e conhecida por ser uma política conservadora e cristã. Ela governou o país entre 2019 e 2020, quando nova eleição presidencial elegeu um político do MAS. O novo presidente da Bolívia, Luis Arce, contou com amplo apoio de Evo Morales para se eleger. No ano seguinte, Jeanine Áñez foi presa por conspiração. No ano de 2024, Evo Morales denunciou uma tentativa de golpe militar contra o presidente Arce.
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Ideologia de Evo Morales
Evo Morales é apresentado como um político socialista, mas suas ações à frente do governo boliviano o enquadraram como um político social-democrata dentro das ciências humanas. Ele atuou no combate à desigualdade social, promovendo ações de distribuição de renda; atuou para integrar a economia boliviana no mercado global; e tomou medidas econômicas que não romperam com o capitalismo na Bolívia. Além disso, tem um forte discurso indigenista, posicionando-se em defesa dos povos indígenas bolivianos.
Crédito de imagem
Fontes
BLAIR, Laurence e COLLYNS, Dan. Evo Morales: indigenous leader who changed Bolivia but stayed too long. Disponível em: https://www.theguardian.com/world/2019/nov/15/evo-morales-indigenous-leader-who-changed-bolivia-but-stayed-too-long.
MILLER, Michael. The rise of Evo Morales. Disponível em: https://library.brown.edu/create/modernlatinamerica/chapters/chapter-6-the-andes/moments-in-andean-history/the-rise-of-evo-morales/.
REDAÇÃO. Evo Morales renuncia à presidência da Bolívia. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2019/11/10/evo-morales-renuncia-a-presidencia-da-bolivia.ghtml.
REDAÇÃO. HRW: Terrorism charges against Morales ‘politically motivated’. Disponível em: https://www.aljazeera.com/news/2020/9/11/hrw-terrorism-charges-against-morales-politically-motivated.
REIS, Guilherme Simões. A social-democracia do MAS boliviano. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rsocp/a/H6DZBq76374kkyT8DmRsNWJ.