Lei Seca nos Estados Unidos

A Lei Seca nos Estados Unidos funcionou entre 1920 e 1933. Nesse período, a produção e comercialização de bebida alcoólica foram proibidas.

Mosto para produção de cerveja sendo despejado no esgoto por autoridades norte-americanas durante a Lei Seca.
Mosto para produção de cerveja sendo despejado no esgoto por autoridades norte-americanas durante a Lei Seca.

A Lei Seca nos Estados Unidos vigorou entre 1920 e 1933. Durante esse período, a produção, transporte, venda, importação e exportação de bebidas alcoólicas era proibida nos Estados Unidos.

Desde o início do século XIX diversos movimentos defendiam a proibição da comercialização e consumo de bebidas alcoólicas. Esses movimentos eram ligados principalmente a igrejas do sul dos Estados Unidos.

Durante a Lei Seca, grupos de traficantes de bebidas surgiram. Com o tempo esses grupos entraram em conflito pelo monopólio do comércio de bebidas, provocando grande violência nas grandes cidades norte-americanas. Em 1933, durante a Grande Depressão, a Lei Seca foi revogada.

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Resumo sobre a Lei Seca nos Estados Unidos

  • A Lei Seca nos Estados Unidos foi o período no qual a produção e comercialização de bebidas alcoólicas eram consideradas ilegais.
  • Antes da aprovação da lei federal de proibição, diversas cidades e estados haviam aprovado leis que proibiam a produção e venda de bebidas alcoólicas.
  • A 18ª Emenda, que proibiu a produção e comercialização de bebidas alcoólicas em todo território dos Estados Unidos, foi aprovada pelos estados norte-americanos em 1919 e passou a entrar em vigor em janeiro de 1920.
  • A Lei Volstead foi aprovada pelo Congresso dos Estados Unidos logo após a aprovação da 18ª Emenda. A lei criou as normas para aplicação da emenda recém-criada.
  • Após a Crise de 1929 provocar grande recessão na economia norte-americana, a Lei Seca foi revogada em 1933. O objetivo da revogação era o de melhorar a economia e a arrecadação de impostos.

Contexto histórico da Lei Seca nos Estados Unidos

O ser humano consome bebidas alcoólicas há milhares de anos. No Antigo Egito e na Mesopotâmia o consumo de cerveja e de vinho já eram populares em todas as camadas sociais. Os egípcios tinham inclusive uma grande festa relacionada à bebedeira, em homenagem à deusa Hathor, o Festival da Embriaguez. No dia do festival os egípcios se embriagavam durante todo o dia, festejando a vida.

Na América, antes mesmo da chegada dos europeus, diversos povos indígenas produziam e consumiam bebidas alcoólicas feitas à base de mandioca, milho, agave, entre outras plantas.

No início do século XIX surgiram nos Estados Unidos os primeiros movimentos que defendiam a proibição de consumo de bebidas alcoólicas, por considerarem-nas prejudiciais aos indivíduos e à sociedade. A maior parte desses movimentos foi organizada por igrejas protestantes, principalmente dos estados do sul.

A Sociedade Americana de Temperança, a ATS, foi fundada em 1826 e passou a defender a proibição do consumo de bebidas alcoólicas. Em dez anos a entidade já possuía mais de 1 milhão de membros. Em 1874, foi fundada a União Feminina de Temperança Cristã, que defendia a proibição do consumo de álcool para a redução da violência praticada pelos maridos.

Em 1881 o Kansas foi o primeiro estado norte-americano a proibir a produção, comercialização e consumo de bebidas alcoólicas nos Estados Unidos. Mas a lei não foi respeitada, e diversos estabelecimentos continuaram a vender bebidas alcoólicas, com as autoridades não fiscalizando e não punindo os infratores.

Nesse momento passou a ganhar fama Caroline Carrier Nation, ativista do movimento de temperança que passou a invadir bares e a destruir garrafas e barris de bebidas com uma machadinha. Ela ficou conhecida como Vovó da Machadinha e passou a ser temida por donos de estabelecimentos que vendiam bebida alcoólica. Nation acreditava que cumpria uma missão divina ao fazer isso.

 “Nove etapas do progresso do bêbado” em um cartaz do movimento de temperança. Abaixo, a família destruída pela bebida.

Após o Kansas outros estados passaram a aprovar leis semelhantes, e a discussão da proibição chegou até o Congresso norte-americano. Durante a Primeira Guerra Mundial, o movimento pela proibição ganhou força. O movimento argumentava que a proibição garantiria grãos, cevada e trigo, principalmente, para o esforço de guerra.

Em 1918 uma lei que proibia a produção temporária de bebidas foi aprovada para garantir os grãos para o esforço de guerra. A principal bebida consumida no período era a cerveja, e a maior parte das cervejarias tinha nome e proprietários alemães, por isso beber passou a ser considerado um ato antipatriótico

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O que foi a Lei Seca nos Estados Unidos?

Uma emenda à Constituição e uma lei federal foram responsáveis pela proibição da comercialização de bebidas alcoólicas nos Estados Unidos. A 18ª Emenda à constituição foi ratificada pelos estados norte-americanos em janeiro de 1919 e entrou em vigor um ano depois. A 18ª Emenda previa a “proibição de produção, transporte, importação ou exportação e venda de bebidas intoxicantes”, entre elas o vinho, cerveja e todos os tipos de destilados.

Em 28 de outubro de 1919 o Congresso norte-americano aprovou a Lei Volstead, a qual era um complemento da 18ª Emenda. A lei proibiu a produção, venda e transporte de bebidas que tivessem teor alcoólico maior do que 0,5%. A lei ainda previa penas para quem a descumprisse, que variavam de multas a pena de prisão. A lei passou a entrar em vigor em janeiro de 1920, juntamente com a 18ª Emenda.

Por que foi criada a Lei Seca nos Estados Unidos?

Os movimentos de temperança defendiam que as bebidas alcoólicas levavam ao vício, fazendo com que a pessoa deixasse de ser produtiva e passando a viver somente em função da bebida.

O consumo de álcool era acusado de ser o grande responsável pelos altos índices de criminalidade no período, pela violência doméstica, pelos acidentes de trabalho e de automóveis, pelo grande número de pessoas em situação de rua, entre diversos outros problemas sociais.

Como funcionava a Lei Seca nos Estados Unidos

A 18ª Emenda e a Lei Volstead entraram em vigor em 17 de janeiro de 1920. Nesse dia, mais de 1500 agentes federais ficaram responsáveis por fiscalizar estabelecimentos de diversas cidades do país. Agentes estaduais e distritais também foram convocados para a fiscalização.

Como as leis proibitivas foram aprovadas em 1919 e só entraram em vigor um ano depois, houve uma grande corrida em 1919 pela compra de bebidas alcoólicas. Famílias de posses compraram estoques inteiros, com o objetivo de armazenar bebidas para durar anos. Muitos afirmam que o próprio presidente Woodrow Wilson, que era contrário à Lei Seca, estocou bebidas para o futuro.

A aplicação da lei exigiu grandes gastos para os governos federal, estaduais e municipais. Somente nos seis primeiros meses da lei, mais de 7.500 pessoas foram autuadas por descumprimento. Em 1921, foram mais de 30 mil.

Muitas pessoas começaram a beber álcool puro durante a Lei Seca, o que levou o governo a obrigar que as empresas adicionassem produtos químicos que deixavam o seu gosto ruim e até mesmo envenenado. A historiadora Debora Blum afirma que mais de 10 mil pessoas morreram envenenadas por tomar álcool modificado durante a Lei Seca.

Problemas causados pela Lei Seca nos Estados Unidos

O primeiro grande problema provocado pela Lei Seca foi de caráter econômico. Com a entrada em vigor da Lei Seca, diversas fábricas de cerveja, de vinho e de outras bebidas alcoólicas foram instantaneamente fechadas, causando grande desemprego.

Também foram fechados todos os bares e tabernas e diversos serviços relacionados às bebidas alcoólicas, como motoristas de caminhões, carregadores, fabricantes de barris, de garrafas, entre diversos outros.

Ao contrário do que se pensava antes da aprovação da lei, o turismo caiu após a aprovação da lei, assim como o lucro de restaurantes, parques, cinemas e outras atividades relacionadas ao entretenimento. O governo federal e os estaduais também tiveram grande redução nas arrecadações de impostos, uma vez que as bebidas alcoólicas tinham altos impostos.

Outra consequência da Lei Seca foi o tráfico. Com a proibição, diferentes grupos passaram a traficar bebidas do Canadá, do México e do Caribe, regiões onde elas continuavam na legalidade. Com o tempo esses grupos se fortaleceram e começaram a lutar pelo controle do tráfico em diversas regiões do país, gerando extrema violência.

Al Capone é o criminoso mais famoso do período, ele e seu bando traficavam bebida, principalmente do Canadá para Chicago, e de lá para todos os Estados Unidos. Traficantes como Al Capone promoviam a corrupção policial, dos membros do Judiciário e de parte da imprensa, praticando livremente crimes como o de assassinato de membros de quadrilhas rivais.

Um dos crimes mais famosos do período foi o Massacre do Dia de São Valentino, praticado em 1929. Nele, membros do grupo de Al Capone vestidos com uniformes da polícia assassinaram sete pessoas de um grupo rival.

A maior parte das pesquisas relacionadas à Lei Seca destacam que houve uma redução no consumo de bebidas alcoólicas nos anos iniciais da lei, mas com o crescimento do mercado paralelo os índices de consumo voltaram aos níveis anteriores à lei.

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Fim da Lei Seca nos Estados Unidos

A Crise de 1929 levou a economia dos Estados Unidos a uma grande recessão. Diversos congressistas passaram a defender a revogação da 18ª Emenda para estimular a economia, uma vez que com sua revogação fábricas seriam construídas, assim como uma nova rede de transportes, de bares e diversos outros serviços.

Em 1919, um ano antes de a Lei Seca ser aprovada, cerca de 14% dos impostos arrecadados nos Estados Unidos se relacionavam à produção e consumo de bebidas alcoólicas. Revogar a 18ª Emenda também era uma forma de aumentar a arrecadação. Pensando nisso, Roosevelt assinou em março de 1933 a Lei Cullen-Harrison, que permitiu a produção de cervejas com até 4,0% de álcool, em todo o território dos Estados Unidos.

Em 5 de dezembro a 18ª Emenda foi revogada pelo Congresso dos Estados Unidos. Essa foi a única vez na história que uma emenda foi revogada no país. A revogação colocou fim à Lei Seca.

Curiosidades sobre a Lei Seca nos Estados Unidos

  • Quando Carrie Nations começou a destruir bares utilizando sua machadinha, um dos bares atacados colocou uma placa na sua fachada, “Todas as nações são bem-vindas, menos Carrier”, em alusão ao seu sobrenome. Com o tempo diversos bares dos Estados Unidos passaram a exibir placas com a frase.
Placa de 1910 com a frase em referência a Carrie Nations: “Todas as nações são bem-vindas, menos Carrier”.
  • Em 1844, quando uma cidade de Massachussets aprovou uma lei que proibia a venda de bebida alcoólica, um dono de bar passou a vender ingresso de entrada em seu estabelecimento para que os clientes pudessem ver um porco listrado. Como brinde os clientes podiam beber livremente. Dessa forma o comerciante burlou a lei que proibia a venda de bebidas.
  • Morris Sheppar foi o autor da 18ª Emenda da Constituição do Estados Unidos, a emenda responsável pela Lei Seca. Durante a Lei Seca a polícia descobriu uma fábrica de bebida alcoólica na fazenda de Sheppar, no Texas. A fábrica tinha capacidade para produzir quase 600 litros de bebida por dia.
  • Todo mundo doente. Durante a vigência da Lei Seca o uso medicinal de bebidas alcoólicas era permitido. Os médicos ganharam mais de 40 milhões de dólares somente com a prescrição de uísques para tratamento na década de 1920. A venda dessas prescrições criou um mercado paralelo de falsificadores nos Estados Unidos.
  • Todo mundo religioso. Durante a Lei Seca, igrejas e outras entidades religiosas podiam comprar bebidas alcoólicas que eram utilizadas em seus rituais, como o vinho. Durante os anos de Lei Seca o número de igrejas e sinagogas registradas dobrou nos Estados Unidos.
  • Durante a Lei Seca a venda de suco concentrado de uva quadruplicou nos Estados Unidos. As pessoas deixavam a garrafa em repouso por alguns meses e o suco se transformava em vinho, com cerca de 12% de álcool. Algumas embalagens continham o aviso para que as pessoas não armazenassem o suco, para que ele não se transformasse em vinho.

Fontes

GAZIER, Bernard. A crise de 1929. São Paulo: L&PM, 2009.

KARNAL, Leandro. As histórias dos Estados Unidos. São Paulo: Contexto, 2007.

MCGIRR, Lisa. The War on Alcohol: Prohibition and the Rise of the American State. New York: W. W. Norton & Company, 2015.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

JUNIOR, Jair Messias Ferreira. "Lei Seca nos Estados Unidos"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiag/lei-seca-nos-estados-unidos.htm. Acesso em 14 de março de 2025.

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