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Bicho-papão

O bicho-papão é um ser imaginário muito popular no Brasil e presente em diversas culturas do mundo. Sua lenda surgiu há séculos e ainda hoje amedronta crianças.

Pelas sombras projetadas em uma parede, vê-se a mão do bicho-papão perseguindo uma criança.
O bicho-papão é um ser imaginário secular muito popular no Brasil e em diversos outros países. Sua aparência, a depender da cultura, pode variar.
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O bicho-papão é um ser imaginário conhecido por quase todas as crianças do Brasil, sendo ainda hoje personagem comum nas histórias contadas pelos adultos a elas. Está presente em livros infantis, em canções de ninar e em cantigas escolares.

O bicho-papão é um ser imaginário presente em culturas de todos os continentes, recebe diversos nomes e é representado ou imaginado de diversas formas. A lenda é contada para crianças há muitos séculos e quase sempre teve uma função pedagógica, fazendo com que elas obedeçam às regras estabelecidas pelos adultos para que não tenham que acertar as contas com o monstro.

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Tópicos deste artigo

Resumo sobre bicho-papão

  • Bicho-papão é um ser imaginário pertencente ao folclore brasileiro e com data e local de origem incertos.
  • Seu nome se relaciona a algumas versões da lenda nas quais ele se alimenta de crianças desobedientes.
  • Existem fontes do século XV, da Península Ibérica e da Grã-Bretanha, que o citam, mas sua lenda provavelmente já era contada há muito antes.
  • “Nana neném”, uma das canções de ninar mais conhecidas do nosso país, possui uma versão com o bicho-papão.
  • Em 2023, estreou nos cinemas o filme Bicho-papão – o conto, baseado em um conto de Stephen King.
  • Francisco Goya, em 1799, pintou uma obra sobre o bicho-papão.

O que diz a lenda do bicho-papão?

A lenda do bicho-papão é contada para crianças em diversos países do mundo há séculos. Como é uma lenda que ocorre há muito tempo e em diversos lugares, ela também possui diversas versões, alterando-se de geração a geração. Mesmo dentro de uma mesma comunidade, ou da mesma família, a lenda do bicho-papão e a aparência dele podem variar.

De modo geral, o bicho-papão é um ser mítico que pune, por algum motivo, as crianças, geralmente por meio de violência física, rapto ou mesmo devorando-as. Daí o nome no Brasil ser “bicho-papão”, ou seja, o bicho que papa, que se alimenta.

A lenda geralmente é utilizada para amedrontar as crianças, fazendo com que obedeçam às ordens dos adultos e evitando que frequentem lugares perigosos ou que pratiquem ações que possam colocá-las em risco.

A aparência do bicho-papão varia bastante. No Brasil, ele é geralmente representado como um ser bípede, com dois braços e aparência monstruosa. Em algumas culturas, ele é descrito apenas como um vulto, como algo visto apenas pela visão periférica. Em outras culturas, eles são seres pequenos, semelhantes aos duendes, e podem se esconder dentro de casa, em gavetas ou armários por exemplo.

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Origem da lenda do bicho-papão

Por se tratar de uma manifestação cultural muito antiga e abrangente geograficamente, é impossível estabelecer a época e o local de origem do bicho-papão. O mais provável é que a história se originou de forma independente, em diversas regiões e momentos diferentes. É possível que crianças que estejam amedrontadas, e que nunca ouviram falar em bicho-papão, criem seres semelhantes em sua imaginação.

Existem fontes sobre o bicho-papão do século XV, na Inglaterra, onde ele é chamado de boogeyman, e da Espanha, onde ele é chamado de el coco.

Música do bicho-papão

“Nana neném
Que a cuca vem pegar
Papai foi na roça
Mamãe, no cafezal
Bicho-papão
Sai de cima do telhado
Deixa o nenemzinho dormir sossegado”

A canção anterior, talvez a mais conhecida música de ninar do Brasil, é cantada por todo o país há gerações, possuindo algumas variações a depender da região. Não existem registros que indiquem a data de origem da canção, mas sabemos que as canções de ninar chegaram ao Brasil pelos portugueses, no período colonial.

No Brasil, essas canções se modificaram, ganhando influência da cultura indígena e africana. A canção “Nana neném” mostra dois personagens do folclore brasileiro, a cuca e o bicho-papão. A canção ainda faz referência a duas atividades da zona rural: o trabalho na roça e no cafezal.

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Diferenças entre o bicho-papão e a cuca

Cuca e bicho-papão são personagens do folclore brasileiro muito populares em todas as regiões do país. Possuem uma grande característica em comum: são seres punitivos, ou seja, que punem crianças que não cumprem as regras estabelecidas pelos mais velhos.

Alguns pesquisadores do folclore defendem que os mitos da cuca e do bicho-papão têm uma origem, sendo a personificação masculina e feminina desse único ser mitológico ancestral.

Além do gênero, bicho-papão e cuca se diferem pela aparência. Aquele, mesmo no Brasil, é representado e imaginado de formas diferentes, podendo ser uma figura humana, um monstro, um vulto e ainda ter outras formas; já esta, no Brasil contemporâneo, não sofre muita alteração em sua representação.

Na Península Ibérica, onde o mito da cuca se originou, ela era representada de diversas maneiras, principalmente como uma idosa ou um ser híbrido com características humanas e de dragão. No Brasil, após o Sítio do Pica Pau Amarelo, escrito por Monteiro Lobato a partir da década de 1920, ela passou a ser representada como uma figura feminina, com longos cabelos loiros e com corpo, cabeça e cauda de jacaré. Para saber mais sobre a Cuca, clique aqui

Filme sobre o bicho-papão

Em junho de 2023, foi lançado nos Estados Unidos, pela 20th Century Studio, o filme The boogeyman, que, no Brasil, recebeu o nome de Bicho-papão – o conto. O filme foi baseado na obra de Stephen King, considerado um dos mestres do suspense.

No filme, as irmãs Sadie e Sawyer são atormentadas pelo bicho-papão, e algumas pessoas próximas a elas são feridas por ele. As duas irmãs e o pai, o terapeuta Will, passam a buscar formas de eliminar a ameaça.

O filme teve boa recepção do público norte-americano. No primeiro mês de apresentação nos cinemas, a produção arrecadou 82 milhões de dólares em todo o mundo.

Curiosidades sobre o bicho-papão

  • Em 1799, Francisco Goya pintou a obra Lá vem o bicho-papão, do original, em espanhol, Que viene el coco. Alguns escritos do artista da mesma época da produção dessa obra discorrem sobre educação. A interpretação mais aceita da obra defende que Goya fez uma crítica à educação do período, baseada no medo e na coerção, muitas vezes violenta. Goya recebeu muitas influências iluministas, uma delas foi justamente a ideia de que a educação não deveria ser baseada no medo e na violência.
Obra “Lá vem o bicho-papão”, de Goya.
Na obra “Lá vem o bicho-papão”, de Goya, as crianças estão aterrorizadas com a presença do bicho-papão e uma mulher tenta protegê-las.
  • Na língua portuguesa, a expressão “bicho-papão” possui diversos significados, dependendo do contexto na qual é utilizada. A expressão pode ser utilizada para demostrar superioridade, geralmente de um atleta ou equipe esportiva, como em “Pelé foi o bicho-papão do futebol brasileiro”. A expressão pode também se referir a uma pessoa que come muito, “ele é um bicho-papão, comeu três pães”. A palavra pode ainda indicar uma situação de medo ou de preocupação, como em “Física é o bicho-papão do vestibular”.

Outras lendas do folclore brasileiro

  • Saci-pererê
  • Mãe do ouro
  • Curupira
  • Negrinho do pastoreio
  • Boitatá
  • Mula sem cabeça
  • Caipora
  • Cuca
  • Matinta perera
  • Maria degolada

Fontes

CASCUDO, Luís da Câmara. Folclore do Brasil. Editora Global, Rio de Janeiro, 2017.

MAGALHÃES, Basílio de. O folclore do Brasil. Edições do Senado Federal, Brasília, 2006.

NETO, Simões Lopes. Contos gauchescos e lendas do Sul. Editora l&PM, Porto Alegre, 1998.

Escritor do artigo
Escrito por: Jair Messias Ferreira Junior Pós-graduado em História pela Unicamp e professor da Educação Básica há mais de 20 anos. Também é formador de professores e produtor de materiais didáticos há mais de 10 anos.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

JUNIOR, Jair Messias Ferreira. "Bicho-papão"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/folclore/bichopapao.htm. Acesso em 29 de março de 2024.

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