Dia Internacional da Mulher: conversa com a escritora Aline Bei
Dia Internacional da Mulher: conversa com a escritora Aline Bei
Neste Dia Internacional da Mulher, conversamos com Aline Bei, autora com centenas de milhares de exemplares vendidos e obras que dão protagonismo à figura feminina.
Em 08/03/2024 00h01
, atualizado em 08/03/2024 09h25
Ouça o texto abaixo!
PUBLICIDADE
O Dia Internacional das Mulheres, 8 de março, é um momento de reflexão para, entre outras coisas, se pensar sobre os desafios e as conquistas das mulheres ao longo dos anos. É necessário reafirmar que as mulheres são protagonistas das suas próprias histórias e não devem viver às margens da sociedade.
Para compreender melhor a relevância dessa data e o protagonismo feminino, conversamos com a escritora Aline Bei. Ela é autora das obras “O peso do pássaro morto”, vencedor do prêmio São Paulo de Literatura e do prêmio Toca,e escreveu a obra “Pequena Coreografia do Adeus”, finalista do prêmio Jabuti.
Veja o que descobrimos nesta conversa!
Importância do Dia Internacional da Mulher
Primeiro, questionamos qual a relevância de haver uma data dedicada às mulheres. Aline disse que, no seu ponto de vista, esse é um momento para refletir e aprofundar-se no que significa ser mulher no Brasil e no Mundo.
Além das reflexões, a escritora disse que também é hora de enaltecer as mulheres que fazem parte da nossa vida. Tanto as pessoas próximas, amigas e familiares; como aquelas que fizeram parte da história e dedicaram suas vidas à conquista de direitos.
Aline ressaltou a importância da criação de repertório com mulheres que ampliam o debate e atendem aos seus interesses de se aprofundar nos pensamentos políticos.
Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)
Ser mulher e a escrita
Procuramos entender como ser mulher influenciou a escrita da Aline. Ela explicou que, em razão de suas experiências anteriores no teatro, a sua escrita parte muito do corpo. Dessa maneira, a dimensão performática do corpo acaba por ser estender nas suas manifestações literárias.
Como consequência, os temas dela tratam sobre o ser mulher no mundo em diversas idades.
Ela disse:
Não só a idade que eu tenho. Mas, mulheres mais velhas e mais jovens que eu. Tentando organizar ali na folha uma espécie de vivência sensível, desse corpo que é reconhecido do lado de fora e, às vezes, também do lado de dentro, como uma mulher.
Dificuldades de ser mulher no mercado literário
Perguntamos à Aline se ela enfrentou desafios no mercado literário por ser mulher. Ela revela que enfrentou resistência quanto aos temas que desejava abordar e também em relação ao seu modo de escrita, que é muito singular.
O livro, O Peso do pássaro morto, por exemplo, conta a história de uma mulher que enfrenta muitas dores desde a mais tenra idade. Morte, violência, solidão e tristeza são alguns dos desafios que se impõe à personagem do livro, mas, ainda assim, a leitura se desenrola com certa leveza durante a história.
Isso muito por conta da estrutura que a autora opta por construir seu livro. As linhas dispostas quase que como versos, conseguem cumprir a função de um poema sem perder as características que um bom romance têm.
Essa marca do livro de Aline Bei ajuda tanto em tornar mais digeríveis os momentos de dor, como também faz com que passagens (a princípio) simples ganhem uma pungência marcante.
Para além dos desafios, ela também conta que recebeu muito apoio e, nesse momento, ela nos conta sobre um professor seu, Marcelino Freire, que ofereceu bastante ajuda e compreensão a ela durante a produção da sua primeira obra.
Lições da obra de Aline Bei
Quisemos saber da Aline quais lições que as mulheres podem tirar da obra “O Peso do pássaro morto”. A escritora nos conta que o livro é sobre uma mulher que silenciou uma violência praticada contra ela, diz a autora:
Esse silenciamento fez ela parar de viver. Ela não conseguiu mais se relacionar com outras pessoas, também não consegue se relacionar com ela mesma. Eu acho que nem sempre as coisas acontecem com a gente. Mas, acontecem no nosso entorno e é muito importante a gente ser apoio, ser escuta.
Ela diz que talvez se a protagonista do livro dela tivesse tido apoio, tivesse tido ajuda profissional, se ela tivesse sido acolhida, tudo poderia ser diferente. Pois, existem situações que não são para lidar sozinha.
Ela diz que o livro é sobre isso também, sobre falar das dores e violências que são impostas às mulheres. Ao invés de transformar o que aconteceu em segredo, em vergonha ou em culpa.
O livro é o oposto do que ele desenha em cena, ele quer que as mulheres possam contar, dizer, se apoiar e se sentir vistas também. Em todas as frentes, seja nas coisas boas, mas também nas coisas ruins.
A importância da leitura
Perguntamos à Aline como a escrita e a leitura podem ajudar as mulheres a enfrentar os desafios que lhes são impostos. Ela disse:
A leitura, ela acaba nos dando uma linguagem para certas impressões, sensações que a gente têm e que ficam sem nome em nós.
Aí quando a gente lê alguma coisa, a gente começa a perceber, quase como se a gente começasse a construir o que nos aconteceu. Porque usar a palavra, a linguagem para narrar a nossa própria existência e a nossa emoção (e tudo que vem dentro) é organizar isso com linguagem. É super importante para a gente conseguir se mover e seguir em frente
Ela também fala que a leitura tem um papel de ampliar a mente, pois, a experiência literária não é só sobre nós. Temos contato com outras vivências, outras emoções, outras histórias e outras compreensões de mundo. Isso cria uma empatia, uma escuta menos preconceituosa, balança nossas certezas e nos faz perguntas que tínhamos medo de fazer.
Leitura: uma arma contra a violência?
Questionamos a autora como a escrita e a leitura podem se tornar ferramentas de resistência à violência que aflige as mulheres. A autora disse que a escrita traz para a luz as coisas que acontecem às escondidas.
Pois, tira do campo da individualidade e da culpa e traz para o debate político e estrutural da sociedade. Dessa forma, é debatido de maneira coletiva o que acontece com as mulheres. Aline fala:
Não é algo isolado, não é uma coisa que aconteceu infelizmente a uma pessoa. É uma coisa que acontece o tempo todo de diversas formas, com muitas mulheres que, inclusive, às vezes estão super perto da gente.
São a nossa mãe, que nunca nos contou, a nossa vó, uma amiga... Então a literatura, como estávamos conversando, também por trazer linguagem, por trazer a materialização de medo, de um segredo, de uma angústia, ela vai nos deixando mais fortes para elaborar coletivamente esses processos e traumas.
Então, ela diz que com a leitura, os ambientes se tornam mais abertos à escuta e mais acolhedores.
Conselho para futuras escritoras
Pedimos para a escritora Aline Bei dar conselhos para meninas que queiram se tornar escritoras. Ela disse:
Eu acho que escrever e ler muito é a primeira coisa. Porque, às vezes, a gente quer alguma coisa, mas fica só sonhando com isso, não coloca em prática; fica imaginando que alguém vai nos encontrar em algum momento e vai fazer a coisa acontecer por nós. Mas a gente precisa mesmo é pôr a mão na massa!
A autora também destaca que podemos acreditar que os livros são feitos por autores consolidados. Quando, na verdade, é um processo que acontece em etapas. Segundo, Aline, a escrita é um processo solitário, em algum momento, para todos os escritores.
Em seguida, ela fala da relevância de se frequentar bibliotecas, se cercar de pessoas que leem, participar de saraus e “trocar ideias” para expandir suas vivências. Além de frequentar teatros e consumir outros tipos de arte, pois, afinal, as artes estão sempre conectadas.
Ela conclui ao dizer ser necessário insistir nos seus objetivos.