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Verossimilhança

A verossimilhança é a propriedade do que é semelhante à realidade. Ela pode ser interna ou externa.

Imagem explicando o que é verossimilhança.
A verossimilhança é aquilo que se parece com a verdade ou com a realidade. Do contrário, temos a inverossimilhança.
Crédito da Imagem: Brasil Escola
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Verossimilhança é uma propriedade das obras artísticas ou literárias e se refere àquilo que é verossímil, crível, semelhante à verdade ou à realidade. Ela pode ser interna, se a obra tem coerência narrativa, ou externa, se a narrativa apresenta elementos externos ou preexistentes. Portanto, a verossimilhança é uma das responsáveis pelo sentido de uma obra.

Leia também: Intertextualidade — o fenômeno linguístico caracterizado pela relação entre os textos

Tópicos deste artigo

Resumo sobre verossimilhança

  • A verossimilhança é a semelhança de elementos de uma obra fictícia com a realidade.

  • Ela pode ser interna ou externa.

  • A verossimilhança interna está relacionada à coerência da narrativa.

  • A verossimilhança externa está relacionada a elementos externos ou preexistentes à obra.

  • A verossimilhança é responsável pela coerência e existência de sentido da obra artística.

O que é verossimilhança?

Verossimilhança é uma propriedade das obras artísticas ou literárias e se refere àquilo que é verossímil, crível, semelhante à verdade ou à realidade. Uma obra artística verossímil é aquela que apresenta semelhanças com a realidade ou com a verdade. Desse modo, ela retrata ou discute algo que se parece com a realidade ou se aproxima da verdade. Assim, as obras literárias ou artísticas apresentam verossimilhança quando mostram uma realidade fictícia muito parecida com o mundo real.

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Tipos de verossimilhança

Existem dois tipos de verossimilhança: a interna e a externa.

Verossimilhança interna

A verossimilhança interna é o tipo que está relacionado à coerência da narrativa. Para exemplificar, imaginemos que um personagem chamado Alonso comprou um bilhete de loteria premiado e ficou rico. Apesar de ser um fato raro, comprar um bilhete de loteria premiado e então ficar rico é um acontecimento coerente; mas se o narrador dissesse que Alonso ficou rico por vender 10 pés de alface por dia, isso seria incoerente, ou seja, inverossímil.

Verossimilhança externa

A verossimilhança externa é o tipo que está relacionado a elementos exteriores ou preexistentes à obra, como fatos históricos. Para exemplificar, imaginemos que um personagem chamado Daniel nasceu no Brasil em 1840 e lutou na Guerra do Paraguai, conflito que durou de 1864 a 1870. Se o narrador dissesse que Daniel lutou na Guerra do Vietnã, isso só seria verossimilhante se Daniel fosse personagem de um romance de ficção científica e viajasse em uma máquina do tempo.

Principais características da verossimilhança

A verossimilhança está relacionada às palavras “verdade” e “semelhança”. Portanto, o que caracteriza a verossimilhança é a semelhança que o conteúdo de um texto mantém com a verdade ou realidade. Isso quer dizer que a semelhança (a parecença, a similitude) é elemento essencial para a verossimilhança.

De acordo com o pesquisador João de Pina Cabral, “a semelhança é condição da verossimilhança”. Nessa perspectiva, o(a) receptor(a) de uma obra reconhece a semelhança com alguma verdade ou realidade se tal obra apresenta verossimilhança. A verossimilhança torna crível a obra ficcional, faz com que aceitemos a verdade retratada em uma obra e de acordo com um contexto ficcional.

Portanto, são características da verossimilhança:

  • coerência;

  • semelhança com a verdade;

  • existência de sentido.

Como identificar verossimilhança?

A identificação da verossimilhança depende muito do conhecimento de mundo ou saber intelectual do(a) receptor(a) da obra. Sem esse conhecimento, não é possível saber se uma obra é ou não coerente. Portanto, perceber a verossimilhança pode ser tão trabalhoso quanto criá-la. A seguir, veja exemplos.

  • Exemplo 1:

Os autores Audemaro Taranto Goulart e Oscar Vieira da Silva, em seu livro Introdução ao estudo da literatura, mostram um elemento inverossímil no romance Amor de perdição, do português Camilo Castelo Branco:

Do porão da nau foi trazida uma pedra, que um marujo lhe atou às pernas com um pedaço de cabo. O comandante contemplava a cena triste com os olhos úmidos, e os soldados que guarneciam a nau, tão funeral respeito os impressionara, que insensivelmente se descobriram.

Mariana estava, no entanto, encostada ao flanco da nau, e parecia estupidamente encarar aqueles empuxões que o marujo dava ao cadáver, para segurar a pedra na cintura.

Dois homens ergueram o morto ao alto sobre a amurada. Deram-lhe o balanço para o arremessarem longe. E, antes que o baque do cadáver se fizesse ouvir na água, todos viram, e ninguém já pôde segurar Mariana, que se atirara ao mar.

[...]

Viram-na, um momento, bracejar, não para resistir à morte, mas para abraçar-se ao cadáver de Simão, que uma onda lhe atirou aos braços. O comandante olhou para o sítio donde Mariana se atirara, e viu, enleado no cordame, o avental, e à flor d’água um rolo de papéis, que os marujos recolheram na lancha. Eram, como sabem, a correspondência de Teresa e Simão.|1|

Nesse trecho, segundo os autores, é incoerente ou inverossímil o fato de o cadáver estar à tona já que estava amarrado a uma pedra, como destacamos no texto. Ele, portanto, deveria ter afundado. No entanto, se o(a) leitor(a) não tem esse conhecimento de mundo, não conseguirá identificar a verossimilhança ou inverossimilhança.

  • Exemplo 2:

Ao analisar a pintura Salvator mundi, atribuída a Leonardo da Vinci, o escritor Walter Isaacson diz:

Entretanto, há uma anomalia intrigante na imagem, que parece ser um lapso incomum ou uma falta de disposição de Leonardo para combinar arte e ciência. Ela diz respeito à esfera de cristal na mão de Jesus. Por um lado, ela foi reproduzida com belíssima precisão científica. Vemos três bolhas irregulares dentro dela que teriam o mesmo formato das pequenas brechas existentes nos cristais, chamadas de inclusões. [...].

Por outro lado, Leonardo deixou de pintar a distorção que ocorre quando se olha através de uma esfera sólida e transparente para objetos que não são tocados por ela. Vidro ou cristal sólido, seja na forma de uma esfera ou de uma lente, produzem imagens aumentadas, invertidas e de cabeça para baixo. Em vez disso, Leonardo retratou a esfera como uma bola de vidro oca, que não refrata nem distorce a luz que passa por ela.|2|

O receptor, Walter Isaacson, precisou de conhecimentos científicos para perceber a verossimilhança referente às “bolhas irregulares” dentro da esfera e a inverossimilhança no fato de a esfera não mostrar “a distorção que ocorre quando se olha através” dela.

A seguir, veja a obra Salvator mundi:

Obra “Salvator mundi”, usada para dar exemplo a respeito de verossimilhança e inverossimilhança.

Qual a importância da verossimilhança?

A verossimilhança traz credibilidade a uma obra que se propõe a retratar a realidade, mesmo que seja de forma fictícia. Imagine um romance em que, depois de receber 30 tiros, o personagem ainda sobrevive. Esse exagero ou inverossimilhança faz o(a) leitor(a) colocar em dúvida a qualidade da obra e a competência do(a) autor(a).

Afinal, a inverossimilhança mostra que o(a) autor(a) de uma obra não tem a habilidade necessária para construir a trama, já que recorre a fatos inverossímeis para conseguir o desfecho desejado. Além disso, a inverossimilhança contribui para a falta de sentido da obra artística.

A princípio, a verossimilhança, no entanto, não se aplica ao realismo fantástico, já que essa forma de criação permite extrapolar a realidade e apresentar fatos sem explicação racional. Desse modo, é admissível que o famoso personagem Brás Cubas, de Machado de Assis, possa escrever um romance após a morte, por exemplo.

No entanto, se entendemos “verossímil” como aproximação da verdade, uma obra de realismo fantástico é verossímil na medida em que se aproxima de uma verdade ou realidade fantástica. Portanto, no contexto do realismo fantástico, o acontecimento absurdo é verossímil, ou seja, é aceitável, é crível, é possível.

Veja também: O que é realismo mágico ou fantástico?

Diferenças entre verdade e verossimilhança

  • Verdade: é aquilo que existe de fato na realidade, seja no campo material, seja no conceitual. Cientificamente, o que é verdadeiro pode ser comprovado.

  • Verossimilhança: é uma reprodução de elementos da realidade em uma obra fictícia, a ponto de os personagens e acontecimentos dessa obra parecerem verdadeiros, reais, críveis, plausíveis.

Notas

|1| BRANCO, Camilo Castelo. Amor de perdição. 5. ed. Porto: Moré, 1879.

|2| ISAACSON, Walter. Leonardo da Vinci. Tradução de André Czarnobai. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2017.

Fontes

BRANCO, Camilo Castelo. Amor de perdição. 5. ed. Porto: Moré, 1879.

CABRAL, João de Pina. Semelhança e verossimilhança: horizontes da narrativa etnográfica. Mana, Rio de Janeiro, v. 9, n. 1, abr. 2003.

DÜREN, Ricardo Luís. Mais real que a realidade: a obra 1808 e o uso de elementos da narrativa literária pelo jornalismo. 2013. Dissertação (Mestrado em Letras) – Universidade de Santa Cruz do Sul, Santa Cruz do Sul, 2013.

FLORY, Alexandre Villibor. A literatura austríaca como questão para a historiografia literária alemã: a provocação formal em Heldenplatz, de Thomas Bernhard. Pandaemonium Germanicum, São Paulo, v. 16, 2010.

GOULART, Audemaro Taranto; SILVA, Oscar Vieira da. Introdução ao estudo da literatura. Belo Horizonte: Lê, 1994.

ISAACSON, Walter. Leonardo da Vinci. Tradução de André Czarnobai. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2017.

Escritor do artigo
Escrito por: Warley Souza Professor de Português e Literatura, com licenciatura e mestrado em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SOUZA, Warley. "Verossimilhança"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/verossimilhanca.htm. Acesso em 21 de dezembro de 2024.

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