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O ano de 1964 foi um ano marcado por grandes transformações no cenário político brasileiro. A deflagração do golpe militar, em 31 de março, estabelecia a crise do populismo, a mobilização das frentes conservadoras e a derrota dos vários partidos e movimentos considerados de esquerda na época. Juscelino Kubitschek, Carlos Lacerda e João Goulart poderiam ser vistos, respectivamente, como as três grandes figuras políticas da época que representavam cada uma dessas situações.
Apesar das diferentes tendências, o golpe militar acabou sendo igualmente decepcionante entre todas essas figuras aqui citadas. Na medida em que os Atos Institucionais eram divulgados, as liberdades políticas se restringiam cada vez mais e a ação dos partidos políticos se tornava praticamente inexpressiva. Sendo assim, o governo militar fugia da missão de reorganizar a vida política e pública da nação para então controlá-la de modo cada vez mais rígido.
Usando de sua maior arma, a imprensa, Lacerda lançou em 1966, um manifesto criticando as ações da ditadura militar. Logo em seguida, foi até Portugal encontrar o ex-presidente JK, com quem firmou um pacto de aliança com a chamada “Declaração de Lisboa”. Por fim, executando o último passo de sua trajetória, Lacerda, antigo apoiador do Golpe de 1964, se dirigiu até o Uruguai para lavrar o “Pacto de Montevidéu” junto ao ex-presidente deposto João Goulart.
Realizadas essas ações, essas três figuras políticas distintas superaram suas diferenças de opinião política para lançar um movimento em favor da democracia e do desenvolvimento econômico nacionalista. Nascia, assim, a chamada “Frente Ampla”: um movimento de ordem civil que pretendia combater as ações enrijecedoras que centralizavam a situação política nacional nas mãos do Poder Executivo, assumido pelos militares, e artificializavam a vida política através do sistema bipartidário.
Em seu aspecto mais geral, a Frente Ampla não tinha intenções de estabelecer um movimento de combate incisivo e direto contra as autoridades militares. Eles aceitavam as necessidades que determinaram o golpe, mas buscavam realizar uma ponte que repensasse as relações entre o poder militar instaurado e a sociedade civil. Para que isso fosse possível, o movimento contava com a força política de seus líderes heterogêneos e o possível apoio da população.
No ano de 1967, a ação da “Frente” – que se limitava à realização dos manifestos e à publicação de artigos de jornal – começou a promover os seus primeiros comícios em algumas cidades do interior do Centro Sul. Naquele instante, a confirmação de João Goulart no movimento empolgava outras lideranças políticas que haviam se conformado com a via de participação política dada através do MDB, o único partido de “oposição” reconhecido oficialmente pelos militares.
Em 1968, a Passeata dos Cem Mil, estabeleceu uma das mais importantes manifestações contra a radicalização do regime. Obviamente, a ocorrência de tal fato poderia fortalecer ainda mais a presença da Frente Ampla como via de oposição política. Contudo, antes que isso ocorresse, o governo militar já havia anunciado uma portaria proibindo toda e qualquer manifestação do movimento. Falar em nome ou a favor da “Frente Ampla” se tornou um ato criminalizado pelas instâncias do poder militar.
No fim daquele mesmo ano, mais especificamente no dia 13 de dezembro de 1968, o estabelecimento do Ato Institucional n° 5 enterrou de vez qualquer pretensão de mudanças no regime vigente. A cassação dos mandatos, as prisões arbitrárias e o exílio compuseram a rotina que fomentou a desmobilização política da nação. Sendo assim, a “Frente Ampla” teve suas aspirações dilaceradas pela saída dos seus líderes da vida política da nação brasileira. A democracia haveria de esperar por mais tempo.
Por Rainer Sousa
Mestre em História
Equipe Brasil Escola