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O Brasil desenvolveu e consolidou durante o século XX um modelo de matriz de energia elétrica pautado na hidroeletricidade, apontado por muitas décadas como uma prática eficiente por ser capaz de gerar uma grande quantidade de energia e ser pouco nociva ao meio ambiente, porque utiliza a água, um recurso renovável, e, ao mesmo tempo, não emite grandes quantidades de poluentes atmosféricos, diferentemente das usinas que utilizam o carvão mineral e os derivados do petróleo para gerar energia.
Diversos megaprojetos foram construídos a fim de aproveitar o potencial natural dos rios brasileiros que possuem grande volume de água e do relevo planáltico presente em diversas regiões. A associação dos rios caudalosos com as quedas impostas pelos planaltos oferece a força hidráulica do Brasil, reconhecida em todo o mundo e referenciada em usinas como Itaipu, no rio Paraná, e Tucuruí, no rio Tocantins.
A crise no setor energético evidenciada durante o início da década de 2000 obteve enorme repercussão nos meios de comunicação, que denominaram de Apagão o programa de racionamento de energia instituído no ano de 2001. Após a crise, muito daquilo que foi propagado a respeito das usinas hidroelétricas passou a ser questionado. Até então, havia a sensação de que o país era sustentado por uma matriz energética limpa, renovável e que em nenhuma hipótese poderia ser abalado por qualquer dificuldade para produzir e transmitir energia elétrica para abastecer as indústrias e o mercado consumidor em geral.
Nos anos 2000 foram propostos novos programas institucionais para o setor energético. No ano de 2003 foi lançado o projeto Luz para Todos, criado para atender as localidades que não são atendidas por transmissão de energia elétrica. Inicialmente previsto para ser encerrado em 2010, foi prorrogado até 2014. Em 2007, o governo federal criou o PAC (Programa de Aceleração de Crescimento Econômico) para nortear e financiar projetos de infraestrutura, como a geração de energia. Já em 2010, a criação do PAC 2 ofereceu suporte para vários projetos, como o Luz para Todos e a construção das usinas do Rio Madeira (Jirau e Santo Antônio) e Belo Monte.
Mesmo com as políticas recentes, o Brasil ainda está sujeito a falhas no sistema de transmissão de energia, e vários apagões ocorreram nos últimos anos, cujas justificativas variaram entre problemas técnicos, falhas humanas e a atuação de forças da natureza, tais como as tempestades de raios, que supostamente foi o motivo de um grande apagão na região Sudeste em outubro de 2009.
Mais recentemente, em 2012, ocorreram inúmeros blecautes. Foram centenas de interrupções consideradas pequenas, entre 15 MW e 100 MW, capazes de deixar sem energia elétrica alguns bairros ou cidades de até 400 mil habitantes, e pelo menos 4 interrupções intensas, com mais de 100 mil MW, capazes de deixar dezenas de milhões de pessoas sem energia elétrica, afetando todas as regiões brasileiras, sempre com justificativas pontuais, como incêndios em linhas de transmissão ou curtos-circuitos esporádicos. Tais ocorrências demonstram que, mesmo após o esclarecimento das autoridades e órgãos gestores após o Apagão em 2001, o setor necessita de mais investimentos, pois é nítida a dependência em poucos centros geradores e as falhas na manutenção e distribuição das linhas de transmissão.
Júlio César Lázaro da Silva
Colaborador Brasil Escola
Graduado em Geografia pela Universidade Estadual Paulista - UNESP
Mestre em Geografia Humana pela Universidade Estadual Paulista - UNESP