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Mario Quintana. O poeta que nasceu na pequena cidade de Alegrete, no Rio Grande do Sul, certamente é um dos escritores mais respeitados e queridos pelo público. O alcance de sua obra é digno de nota (vide sua popularidade nas redes sociais), sobretudo em um país onde o gênero poema ainda é pouco lido e divulgado. Embora não seja considerado um poeta “além-fronteiras” (sempre apelamos para o gentílico “gaúcho” antes de mencioná-lo), Quintana possui leitores cativos em todas as faixas etárias. Sua obra poética é marcada por uma simplicidade e lirismo inconfundíveis, pois era da vida cotidiana que o poeta extraía sua matéria-prima.
Mario de Miranda Quintana nasceu no dia 30 de julho de 1906. Foi poeta, tradutor e jornalista. A estreia na literatura aconteceu em 1940, com a publicação do livro de poemas “A Rua dos Cataventos”. Além de sua obra poética, o escritor deixou também uma considerável contribuição como tradutor, com destaque para a tradução dos livros “Mrs. Dalloway”, de Virginia Woolf, e “Em Busca do Tempo Perdido”, de Marcel Proust. Embora tenha concorrido por três vezes a uma das vagas de imortal na Academia Brasileira de Letras, Quintana nunca foi eleito, recusando, inclusive, o quarto convite (esse feito sob a promessa de uma eleição por unanimidade). Em 1980, recebeu o prêmio Machado de Assis – principal prêmio literário brasileiro –, oferecido pela ABL a escritores brasileiros pelo conjunto da obra.
Definir o poeta Mario Quintana seria reduzi-lo, crime maior das definições. Quem poderia fazê-lo era o próprio, e o fez, em 1984:
“Nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! Eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente. Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão. Nasci no rigor do inverno, temperatura: 1 grau; e ainda por cima prematuramente, o que me deixava meio complexado, pois achava que não estava pronto. Até que um dia descobri que alguém tão completo como Winston Churchill nascera prematuro — o mesmo tendo acontecido a sir Isaac Newton! Excusez du peu… Prefiro citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que acho que nunca escrevi algo à minha altura. Porque poesia é insatisfação, um anseio de auto-superação. Um poeta satisfeito não satisfaz. Dizem que sou tímido. Nada disso! Sou é caladão, introspectivo. Não sei porque sujeitam os introvertidos a tratamentos. Só por não poderem ser chatos como os outros? Exatamente por execrar a chatice, a longuidão, é que eu adoro a síntese. Outro elemento da poesia é a busca da forma (não da fôrma), a dosagem das palavras. Talvez concorra para esse meu cuidado o fato de ter sido prático de farmácia durante cinco anos. Note-se que é o mesmo caso de Carlos Drummond de Andrade, de Alberto de Oliveira, de Erico Verissimo — que bem sabem (ou souberam) o que é a luta amorosa com as palavras”.
Os poemas, publicado originalmente no livro Esconderijos do Tempo, publicado em 1980
Sua biografia é tão singela quanto seus poemas: não casou, não teve filhos, viveu boa parte da vida em quartos de hotéis, passeava pelas ruas de Porto Alegre como qualquer anônimo e da cidade foi figura lendária. Faleceu na capital gaúcha no dia 05 de maio de 1994, aos 87 anos, em decorrência de problemas cardíacos e respiratórios, deixando uma inestimável e singular contribuição para a literatura brasileira.
Por Luana Castro
Graduada em Letras