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04 de Setembro – Sequestro de Charles Burke Elbrick

O sequestro de Charles Burke Elbrick, o embaixador dos Estados Unidos no Brasil, ocorreu em 04 de setembro de 1969, no Rio de Janeiro.

Cartaz do filme “O Que é isso companheiro?”, de Bruno Barreto (LC Barreto Produções Cinematográficas), 1997
Cartaz do filme “O Que é isso companheiro?”, de Bruno Barreto (LC Barreto Produções Cinematográficas), 1997
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O dia 04 de setembro de 1969 ficou marcado, no Brasil, pelo sequestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick (1908-1983), no contexto da radicalização da esquerda revolucionária durante a vigência do Regime Militar (1964-1985). Esse evento teve repercussão internacional à época e até hoje permanece nas discussões públicas, travadas tanto entre os participantes da ação quanto entre militares, jornalistas e historiadores.

Os grupos revolucionários de esquerda atuantes no Brasil após o golpe de 1964, como a AP (Ação Popular), que já havia sido mencionada no atentado a bomba ao Aeroporto de Guararapes, em Recife, em 1966, e a ALN (Ação Libertadora Nacional) – uma dissidência do Partido Comunista Brasileiro) –, haviam optado pela luta armada, que incluía assaltos a bancos para levantar fundos, roubo de armas, fabricação de bombas e sequestros. Os objetivos alegados por tais grupos eram, a priori, libertar outros integrantes das facções que haviam sido presos pelos militares. Os objetivos maiores estavam assentados em ideologias revolucionárias com pretensões de efetivar uma revolução no Brasil. Essa ideologia tinha matrizes variadas, indo desde o maxismo-leninismo ao foquismo guevarista (inspirado nas ideias de Che Guevara).

O grupo que idealizou o sequestro de Elbrick era conhecido como DI-GB, isto é, a Dissidência Guanabara, atuante no Rio de Janeiro e com larga influência entre os estudantes. O objetivo inicial da DI-GB era libertar da prisão, valendo-se de uma invasão armada, um dos integrantes do grupo, Vladimir Palmeira. Entretanto, os idealizadores da ação, Franklin Martins e Cid Benjamin, após uma série de elaborações de planos, optaram não apenas pelo sequestro do embaixador, mas também pela troca do representante americano no Brasil por mais 14 presos políticos, além do mencionado Vladimir Palmares. Para tanto, o grupo DI-GB, que, naquele ano, em homenagem à data da morte do guerrilheiro cubano Che Guevara, mudara o nome para MR-8, Movimento Revolucionário 08 de outubro, precisou do auxílio de integrantes da ALN.

A ação do sequestro ocorreu às 14h30, na rua Marquês, no bairro carioca do Humaitá. Os principais envolvidos na operação do sequestro foram Joaquim Câmara Ferreira (conhecido como Toledo), da ALN, Virgílio Gomes da Silva (conhecido como Jonas), Franklin Martins, Monoel Cyrillo, Paulo de Tarso Venceslau, Vera Sílvia Magalhães, Cláudio Torres, Fernando Gabeira, Cid Benjamin e Daniel Aarão Reis Filho, todos do DI-GB/MR-8. O período de cativeiro durou quase três dias, momento em que ocorreu a notificação da autoria por parte da ALN e do MR-8, bem como as exigências que tais organizações impuseram como condição para a libertação do embaixador. No manifesto lançado pelos sequestradores, estavam as seguintes exigências:

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a) A libertação de quinze prisioneiros políticos. São quinze revolucionários entre os milhares que sofrem as torturas nas prisões-quartéis de todo o país, que são espancados, seviciados, e que amargam as humilhações impostas pelos militares. Não estamos exigindo o impossível. Não estamos exigindo a restituição da vida de inúmeros combatentes assassinados nas prisões. Esses não serão libertados, é ilógico. Serão vingados, um dia. Exigimos apenas a libertação desses quinze homens, líderes da luta contra a ditadura. Cada um deles vale cem embaixadores, do ponto de vista do povo. Mas um embaixador dos Estados Unidos também vale muito, do ponto de vista da ditadura e da exploração.”

b) A publicação e a leitura desta mensagem, na íntegra, nos principais jornais, rádios e televisões de todo o país. Os quinze prisioneiros políticos devem ser conduzidos em avião especial até um país determinado – Argélia, Chile ou México –, onde lhes seja concedido asilo político. Contra eles não devem ser tentados quaisquer represálias, sob pena de retaliação.”

Os nomes dos presos políticos escolhidos pela ALN e pelo DI-GB/MR-8 foram: Luís Travassos, José Dirceu, José Ibrahim, Onofre Pinto, Ricardo Vilas, Maria Augusta, Ricardo Zarattini, Rolando Frati, João Leonardo, Afonalto Pacheco, Vladimir Palmeira, Ivens Marchetti, Flávio Tavares, Mário Zanconato e Gregório Bezerra (esse último, um histórico militante do Partido Comunista Brasileiro). Todos os escolhidos eram ou tinham conexões com lideranças de facções revolucionárias.

O embarque das quinze pessoas escolhidas ocorreu em um avião da FAB (Força Aérea Brasileira), um Hércules 56, que os conduziu até o México, onde foram libertados. Todos os militantes foram convidados por Fidel Castro a irem para Cuba e lá ficarem, se tivessem interesse em treinamentos de guerrilha, clandestinidade, etc., ou, de lá, seguirem para onde quisessem.

O sequestro do embaixador Elbrick foi contado, de forma ficcionalizada, no livro “O que é isso companheiro?”, de Fernando Gabeira, que foi levado ao cinema por Bruno Barreto em 1997. Os detalhes do evento são contados também pelos próprios sequestradores no documentário “Hércules 56”, de Sílvio Da-Rin, de 2006.


Por Me. Cláudio Fernandes

Escritor do artigo
Escrito por: Cláudio Fernandes Escritor oficial Brasil Escola

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FERNANDES, Cláudio. "04 de Setembro – Sequestro de Charles Burke Elbrick"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/datas-comemorativas/sequestro-charles-elbrick.htm. Acesso em 19 de abril de 2024.

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