PUBLICIDADE
Após a Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945), percebemos que os territórios coloniais foram sendo paulatinamente deixados pelas nações europeias que os dominavam. Afinal de contas, após ir contra as imposições dos regimes totalitários, as grandes potências europeias não tinham justificativas para continuar dominando as regiões africanas e asiáticas que, em grande parte, fomentaram o desenvolvimento das duas maiores guerras de todo o século XX.
Nesse processo, o governo espanhol decidiu, em 1975, abrir mão dos domínios que tinha na região do chamado Saara Ocidental. Ao sair da região, o governo espanhol acabou impondo seu último ato imperialista ao dividir o território saarauí entre os governos do Marrocos e da Mauritânia. Naquele instante, a população local não foi consultada sobre os destinos daquele território. Passaram assim da dominação hispânica à dominação de seus vizinhos africanos de modo desastrosamente autoritário.
Assim que a mudança foi oficializada, a população saarauí organizou forças militares que teriam como missão fundamental resistir ao novo processo de ocupação do território. Foi nessa situação que a Frente Popular para a Libertação de Saguia el Hamra e Rio de Oro tomaram a frente na resistência que conseguiu vencer a ocupação moura e ainda lutam contra a ocupação marroquina. Popularmente, esse movimento armado ficou mais conhecido no cenário internacional como a Frente Polisário.
De lá para cá foram vários os conflitos entre os membros da Frente Polisário e as tropas marroquinas. No ano de 1987, o governo marroquino enrijeceu o seu projeto de dominação do Saara Ocidental realizando a construção de um muro de mil e oitocentos quilômetros separando as terras dominadas pelas forças polisárias e marroquinas. Do ponto de vista econômico, esse conflito se assenta na rica presença de ferro, cobre, fosfato e urânio nesse território.
No ano de 1991, a ONU negociou um cessar-fogo em que ambas as partes se comprometeram a realizar um referendo no qual a população do Saara Ocidental votasse e decidisse sobre o destino político da região. No entanto, a votação ainda não foi realizada porque o Marrocos e a Frente Polisário não chegaram a um acordo sobre quem tem direito ao voto. Os polisários defendem a votação exclusiva do povo saarauí, já os marroquinos almejam incluir o voto de todos seus cidadãos que pra lá migraram nos últimos 30 anos.
Em 2007, Muhammad VI, rei do Marrocos, propôs que o Saara Ocidental fosse integralmente anexado ao Marrocos em troca da autonomia política local. Mediante a proposta, os membros da Frente Polisário acusam o governo do Marrocos de empregar uma estratégia que vai contra a legitimidade da autonomia política plena do Saara Ocidental. Desde então, as negociações chegaram a uma indefinição que ainda hoje sustenta a última das regiões coloniais do continente africano.
Por Rainer Sousa
Mestre em História