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A saída de Nestor Kirchner e a entrada de sua esposa Cristina Kirchner, em 2007, praticamente não mudou o cenário político interno da Argentina, ainda mais com a ausência de um projeto de oposição ao chamado “casal Kirchner” capaz de convencer o eleitorado argentino. Diversas medidas protecionistas foram tomadas, como as restrições à exportação de trigo para garantir o atendimento ao consumo interno, o que gerou protestos e paralizações por parte de produtores rurais.
A presidente, Cristina Kirchner, reeleita em 2011, procurou utilizar alguns símbolos nacionais como as Ilhas Malvinas para acalmar as manifestações sociais. Britânicos e argentinos foram os protagonistas da Guerra das Malvinas, conflito ocorrido no ano de 1982 quando a ditadura argentina tentou, em vão, recuperar a partir do uso da força militar a posse do arquipélago, o que permanece até os dias atuais como uma lembrança amarga para o povo argentino.
Com as recentes descobertas de petróleo nas Malvinas, que ainda estão sob o controle da Inglaterra, Kirchner tem exigido algum tipo de compensação econômica ou até mesmo a devolução completa das ilhas, algo não cogitado pelos ingleses. Falar em Malvinas e nos heróis que lutaram pela tentativa de reconquistá-la representa um estereótipo de ideal de nação, o que tem se mostrado uma ótima estratégia para manter a população unida ao projeto de governo em momentos de crise social.
Em 2012, mais uma vez o populismo apareceu em medidas políticas. O governo expropriou a empresa petrolífera YPF, nacionalizando os 57% das ações da empresa que estavam sob o controle da transnacional espanhola Repsol. Na prática, essa manobra pode ser traduzida como a expulsão da empresa espanhola do controle da YPF, sem qualquer tipo de compensação financeira. O argumento para um ato tão radical foi uma suposta falta de compromisso da Repsol em promover investimentos no setor. Com a medida, 51% das ações da empresa passaram a ser controladas pelo governo federal, enquanto 49% das ações foram distribuídas entre as províncias do país.
O ano de 2013 começou com a ameaça de um novo calote da dívida argentina, mais uma consequência da crise histórica de 2001. Naquele ano, o país realizou uma renegociação das dívidas com diversas instituições financeiras internacionais, algo lícito e conhecido como moratória. O processo foi bem simples: trocar os títulos que não seriam mais pagos (por isso muitos denominaram de calote) por novos títulos, com prazos mais longos e condições menos rentáveis. A corte de Nova Iorque decidiu, ainda em 2012, que o governo da Argentina iria precisar remunerar alguns credores que não aceitaram essas condições, o que deve somar uma quantia de aproximadamente 1,3 bilhão de dólares, algo que, num curto prazo, o país não vai poder pagar.
A nacionalização da YPF diminuiu ainda mais as confianças dos investidores na Argentina, que desde a crise dos anos 2000 perdeu boa parte de sua credibilidade junto ao mercado internacional. A imagem do país está cada vez mais atrelada à instabilidade política e à fragilidade econômica. Dessa forma, fica cada vez mais difícil para o país adquirir novos empréstimos e modernizar setores como o petrolífero, fundamental para a sua recuperação econômica.
Júlio César Lázaro da Silva
Colaborador Brasil Escola
Graduado em Geografia pela Universidade Estadual Paulista - UNESP
Mestre em Geografia Humana pela Universidade Estadual Paulista - UNESP