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Claramente influenciado pelo sistema divino de ascendência africana, o Xangô de Pernambuco é uma religião marcada pela adoração a vários orixás, santos e deuses ligados à cultura ioruba. Entre as várias entidades adoradas, podemos destacar as devoções prestadas à Iemanjá, Iansã, Orixalá Nana, Ogum, Ode, Exu. Além desses santos, devemos salientar o culto a Orumilá, senhor do jogo de búzios que determina a vontade dos deuses em relação aos homens.
Entre as características que diferenciam o Xangô de Pernambuco das outras religiões afro, podemos notar que os deuses não são colocados de uma forma distante ou misteriosa. Cada um dos devotos assume para si a pertença de um determinado santo, chegando ao ponto de assimilar alguns comportamentos, gostos e preferências que são usualmente ligadas à divindade que lhes guia. Temos assim, uma relação de intimidade cercada por ações que extrapolam os limites do lugar de adoração.
Ciente de que o orixá lhe acompanha para o resto da vida, o devoto do Xangô de Pernambuco se impõe ao pagamento de várias “obrigações” que reforçam seu elo e a subordinação ao santo. Em geral, as “obrigações” são pagas com a realização do sacrifício de animais. Na medida em que se torna um devoto regular, recebe a bênção e proteção para que os grandes problemas na esfera financeira, afetiva, profissional e amorosa sejam solucionados.
Além do uso de sacrifícios, o ritual do xangô também é pontuado pela realização de danças, empregadas com o objetivo de se alcançar o estado de transe. Quando alcançam essa condição, os devotos realizam a mistura entre a sua personalidade e a personalidade do santo que lhes guia. Nesse instante, a capacidade de racionalizar a experiência religiosa dá lugar a um estado de congraçamento, em que o indivíduo tem todas as suas instâncias físicas e psíquicas tomadas pela força do guia.
Durante sua longa trajetória, o Xangô de Pernambuco foi intensamente perseguido pelas autoridades coloniais e republicanas. Apesar das perseguições, tal religião começou a firmar suas características gerais na passagem dos séculos XIX e XX, momento em que a existência de terreiros nas regiões de Pernambuco e Alagoas tornou-se mais regular. Alcançado os anos de 1920, os rituais do xangô tomam cores mais vivas, graças à busca por referências realizada pelo Pai Adão Ventura.
Nas últimas décadas, muito se discute sobre as feições e destinos que o Xangô de Pernambuco pôde ter com o passar do tempo. Sob tal aspecto, a proliferação dos discursos de resistência e preservação pode ser fundamental para que essas e outras tradições religiosas daquela região prolongassem a sua existência.
Ao mesmo tempo em que se reafirma um certo tipo de credo, o Xangô de Pernambuco liga-se progressivamente à construção de outras identidades de natureza étnica e social.
Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola