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Será que o vinagre neutraliza os efeitos do gás lacrimogêneo? Primeiramente, vejamos a composição de cada um e então verificaremos se isso é verdade ou mito.
O gás lacrimogêneo faz parte do grupo dos haletos orgânicos – compostos que possuem algum halogênio ligado a uma cadeia carbônica. Os haletos de ácido ou haletos de acila (grupo derivado dos haletos orgânicos e o mais comumente utilizado como gás lacrimogêneo) são compostos orgânicos que apresentam o seguinte grupo funcional em sua estrutura:
“X” é algum elemento químico do grupo dos halogênios (elementos da família VII A ou 17 da Tabela Periódica, F (flúor), Cℓ (cloro), Br (bromo) ou I (iodo).
Geralmente a Polícia Militar utiliza como gás lacrimogêneo a α-cloroacetofenona:
Outras substâncias usadas como gases lacrimogênios são a cloropropanona e o cianeto de bromobenzila (BBC). Suas respectivas fórmulas estruturais estão representadas abaixo:
O nome “gás lacrimogêneo” vem do latim lacrima, que significa “lágrima”, o que é bem apropriado, pois esse composto causa nas pessoas a vontade involuntária de “chorar”, isto é, ocorrem fortes reações de lacrimejo em virtude da grande sensação de queimação das terminações nervosas. Pode provocar também tosse, queimaduras e vômito. Em pessoas com problemas cardíacos e respiratórios, o gás lacrimogêneo pode até levar à morte.
O gás lacrimogêneo causa fortes reações de lacrimejo e irritação aos olhos[2]
Já o vinagre é, na realidade, uma solução aquosa de cerca de 4% em volume de ácido acético. O ácido acético ou ácido etanoico é um composto orgânico da família dos ácidos carboxílicos e sua estrutura está mostrada abaixo:
Ele foi obtido pela primeira vez por meio do etanol do vinho, que se oxida com o oxigênio presente no ar. Daí a origem do seu nome, pois vinho azedo vem do latim acetum que significa “vinagre”.
Quando os manifestantes inalam o vinagre, sentem uma sensação de alívio. Entretanto, isso é momentâneo e é um efeito muito pequeno em comparação aos provocados pelo gás lançado pelos policiais. Portanto, não há nenhuma comprovação científica de que o vinagre reage com o gás lacrimogêneo, neutralizando-o. Isso é um mito e pode até fazer mal para a pessoa, pois já que o vinagre é um ácido e todos os ácidos são bastante reativos, o vinagre pode causar maior irritação na pele, nariz e boca.
Visto que o gás lacrimogêneo apresenta baixa toxidade, a irritação ou incapacidade sensorial desaparece cerca de 20 a 45 minutos depois que a pessoa deixa de estar exposta a esse gás. Assim, a melhor saída para acabar com os seus efeitos é afastar-se do local onde o gás se espalhou, respirar ar puro e manter a calma. Quanto às queimaduras, lave a pele com água e sabão, além de não voltar ao lugar em que ele foi solto, pois os seus componentes ficam no ar.
Os componentes do gás lacrimogêneo lançado pelos policiais ficam no ar[3]
Não se descobriu ainda nenhuma substância que acabe totalmente com os sintomas do gás lacrimogêneo, mas existem alguns métodos de prevenção que podem amenizar seus efeitos:
- Queimaduras na pele: Protetor físico, pasta d’água e produtos contra assaduras de crianças podem ser utilizados.
- Ardência e lacrimejamento dos olhos: Visto que o gás lacrimogêneo reage com a água dos olhos, usar óculos de proteção individual pode ser de grande ajuda. Devem ser óculos que vedem completamente os olhos, tais como os de motociclistas, de mergulho e de natação; mas não devem ser óculos normais e nem lentes, pois, nesses casos, pode haver risco de contaminação, porque as substâncias do gás podem ficar impregnadas neles.
- Respiração: Para ajudar na respiração, carvão ativado moído, que é vendido em lojas de produtos químicos, pode ser utilizado, pois ele tem a capacidade de absorver gases e líquidos. Ele pode ser colocado em um pano e ser aproximado da boca e nariz.
Créditos editoriais das imagens:
[1] Anônimo com máscara do filme “V de Vingança” em protesto contra a lei de reforma trabalhista do Partido Popular em Madri, Espanha, em 19 de fevereiro de 2012: Pedro Rufo /Shutterstock.com;
[2] Choque entre manifestantes e polícia que usou de violência e bombas de gás lacrimogêneo, em 01 de junho de 2013, em Istambul: Emine Dursun / Shutterstock.com;
[3] Polícia ataca manifestantes com gás lacrimogêneo e canhões de água em 01 de junho de 2013 em Istambul: fulya atalay /Shutterstock.com.
Por Jennifer Fogaça
Graduada em Química