Conheça a história de Patrícia e João Pedro, jovens da Rondônia e de Niterói que conquistaram seus espaços na política internacional
Em 20/04/2024 08h00
, atualizado em 25/04/2024 17h57
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O Dia do Diplomata é hoje, 20 de abril. Muitos jovens sonham em se tornar diplomatas e embaixadores, mas não sabem muito bem como fazer isso. É um sonho que, muitas vezes, parece distante. Mas, na verdade, é uma realidade possível.
Para entender o passo a passo para se tornar uma diplomata, conversamos com dois diplomatas: Patrícia Camargo, nascida em Porto Velho, Rondônia, formada em Direito pela Universidade Federal de Rondônia (UNIR), terceira-secretária no Itamaraty e com João Pedro Portella de Niterói, Rio de Janeiro, formado em Direito, pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e também terceiro-secretário.
Dia do diplomata: como virar um?
Patrícia nos explica que para se tornar diplomata, é necessário ser aprovado em um concurso público. É uma prova aplicada anualmente que aborda assuntos como economia, direito, política externa, história e línguas estrangeiras.
Ela detalha o processo seletivo e nos diz que são três fases. A primeira é uma prova de caráter eliminatório, é objetiva e conhecida como teste pré-seleção, são 73 questões em que duas erradas anulam uma certa.
Já a segunda prova, é discursiva e aplicada em dois dias de um fim de semana. No sábado, é a prova de português, com duração de 5 horas, conta com 3 exercícios: uma redação, um resumo e uma interpretação de texto. No domingo, é a prova de inglês, também dura 5 horas, mas, são 4 exercícios: uma redação, uma tradução do português para o inglês, outra do inglês para o português e um resumo.
A terceira fase também é discursiva e cobra uma gama mais ampla de matérias, são aplicadas provas de:
História do Brasil
Geografia
Política Internacional
Economia
Direito
Língua estrangeira (espanhol e francês)
São três dias de realização de provas, geralmente, sexta, sábado e domingo. As provas de conteúdo em português cobram redações de 30 e 60 linhas, as de língua estrangeira cobram uma tradução e um resumo.
Para fazer a classificação, são somadas as notas da segunda e da terceira fase. Os aprovados vão para o Instituto Rio Branco, onde é ministrado o curso de formação com a duração média de 1 ano e meio.
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O sonho de ser diplomata
Perguntamos a Patrícia e João Pedro como eles descobriram que queriam ser diplomatas. Patrícia nos fala que como vem de Porto Velho, na Rondônia, ela não tinha muito acesso à informação relacionada a este assunto.
Mas, a prima dela trabalhava na Universidade Federal da Rondônia (UNIR) e teve um evento na instituição em que um diplomata de ascendência barbadiana foi participar de uma pesquisa e o tradutor não compareceu. Por isso, Patrícia foi convidada pela prima para ajudar na relação com o diplomata. Nessa experiência, ela descobriu a carreira diplomática.
João Pedro conta que, desde o Ensino Médio, tinha este interesse, pois sempre foi um entusiasta de línguas estrangeiras e disciplinas de humanidades. Mas, foi durante a graduação que ele estabeleceu o sonho de ser diplomata como um objetivo.
Então, ele começou a estudar sobre a carreira e sobre o concurso de acesso, logo decidiu que era isso que queria para sua vida. João Pedro estudou por 3 anos focado na prova do Instituto Rio Branco.
Preparação para o concurso do Instituto Rio Branco
Na cidade da Patrícia, não havia curso de relações internacionais, então, ela seguiu com uma graduação em Direito. Mas, após formada, ela continuou com o desejo de se tornar diplomata, estudou por anos para o concurso e conquistou a aprovação.
Ela conta que, no começo, foi muito complicado, pois, seu estudo era feito apenas por livros, e por não ter professores e nem aconselhamento, ela estudava os textos na sua integridade. Com a chegada da pandemia, muitos conteúdos e aulas foram disponibilizados na internet e ela teve acesso a planos de estudos focalizados, o que a ajudou muito.
João Pedro afirma que já tinha mais familiaridade com alguns assuntos em relação a outros, por isso, sua preparação envolveu tanto o estudo independente a partir de livros, como a realização de cursos com professores. Ele afirma que procurou pelo apoio de professores nos assuntos em que sentiu necessidade de ter uma introdução à matéria e que seguiu com livros nos temas em que ele tinha mais facilidade.
Questionamos João se é necessário ser fluente em todas as línguas estrangeiras (inglês, francês e espanhol) cobradas para ser aprovado no exame, ele responde que a fluência certamente ajudará na resolução das questões, mas que não é indispensável. Pois, a prova exige competências determinadas, então, é possível ter um bom desempenho ainda que posteriormente haja espaço para melhorar as habilidades orais, por exemplo.
Dia a dia dos Diplomatas
João Pedro afirma que a rotina de um diplomata depende bastante da secretaria e do departamento onde se vai trabalhar. Ele está na divisão de Nações Unidas, que pertence ao departamento de organismos internacionais na secretaria de assuntos multilaterais políticos do Ministério.
Ele afirma que faz atividades variadas, pois, são muitos assuntos tratados nesta divisão. Os temas que ele trabalha vão desde descolonização até assuntos administrativos, orçamentários e jurídicos.
Patrícia fala que a palavra que define os diplomatas é "abrangente". Ela explica que é preciso ser uma pessoa com a cabeça aberta, curiosa e disposta a estudar vários temas diferentes, ela exemplifica:
Eu estou na coordenação para assuntos da ASEAN (Associação de Nações do Sudeste Asiático). No começo da semana, na segunda-feira, eu estava pesquisando como faz etanol a partir de microalgas. Hoje, eu já estava pesquisando sobre a entrada de empresas brasileiras no mercado asiático. Então, é um leque de assuntos muito distantes um do outro e você precisa transitar bem entre vários temas.
Conselhos para quem quer ser diplomata
O primeiro conselho de Patrícia para jovens que querem se tornar diplomatas é pesquisar sobre a carreira. Ela explica a importância:
Para a maioria das pessoas parece uma coisa muito distante. No meu caso, que estava em Porto Velho, parecia que eu queria ser astronauta, sabe? Uma coisa completamente impossível!
Mas, não é. Não é impossível. O que a gente tem que ter é informação.
Patrícia explica que estão sendo feitos esforços para mostrar que a carreira de diplomata é factível, é um concurso público e pode ser feito por qualquer um com graduação. Ela diz ser necessário ter resiliência e dedicação, por exemplo, a diplomata estudou por 4 anos e meio para passar na prova e há colegas seus que se dedicaram por 9 anos.
Confira o gráfico com a evolução da média do tempo de estudo dos aprovados no Instituto Rio Branco:
Segundo ela, é um comprometimento longo que pode ser oneroso, mas é alcançável. O conselho principal dela é este:
Lembrar que é possível
João Pedro aconselha os jovens aspirantes a diplomatas a lerem a lei do serviço exterior brasileiro que define quais são as funções do diplomata. Além disso, ele ressalta a importância de se interessar e conhecer o Brasil, João afirma:
Se essa pessoa puder dedicar o seu tempo para se tornar um grande entusiasta da história do próprio país, da geografia, da língua, da literatura e da cultura. Eu acho que isso é fundamental para que ela se torne um diplomata de excelência.
Por fim, Patrícia nos conta que as turmas formadas no Instituto Rio Branco produzem um guia de estudos com as melhores respostas da prova, dados sobre a turma, média de notas, entre outras informações muito úteis para quem se prepara para este concurso.