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O surgimento de uma nação, em tese, envolve a definição de um território onde um grupo de pessoas dotado de um conjunto mínimo de características culturais e históricas consolidam certo sentimento de unidade entre si. No entanto, vemos que em diversos casos específicos, uma mesma nação pode agrupar grupos étnicos, culturais ou religiosos que não partilham dessa mesma sensação de pertencimento. Em geral, os grupos alheios à nação sofrem casos de discriminação ou, em outros casos, formam um movimento de independência.
Na região ibérica, a questão do povo basco exemplifica esse tipo de inadequação de um povo frente um determinado Estado Nacional. Os bascos, encravados na fronteira entre a Espanha e a França, correspondem a um povo dotado de uma cultura e língua própria. Estabelecendo um movimento nacionalista desde o século XIX, os bascos começaram organizar um movimento de emancipação durante a ditadura militar do general espanhol Francisco Franco (1939 – 1975). Durante o governo de Franco os nacionalistas bascos sofreram forte opressão, sendo proibidos de expressar qualquer traço de sua cultura.
Mediante tamanha opressão surgiu, em 1959, um movimento em prol da libertação do povo basco chamado Euskadi Ta Askatasuna (“Pátria Basca e Liberdade”), mais conhecido como ETA. Inicialmente buscando lutar contra a ditadura de Franco, o ETA foi desde sempre influenciado pelo socialismo. Com a queda do regime ditatorial, algumas conquistas políticas foram concedidas ao povo basco. No ano de 1979, o Tratado de Guernica concedeu algumas liberdades administrativas ao povo basco.
Essa primeira ação rumo à autonomia basca freou alguns setores do movimento, que se fragmentou em diferentes partidos políticos. No entanto, as alas mais radicais, mantiveram vivo o movimento e fundaram um partido político próprio: o Partido Batasuna. Agindo por meio de atentados terroristas o ETA volta e meia criava forte tensão dentro da Espanha. Ao longo de sua história, o ETA conseguiu a libertação de alguns de seus integrantes e assassinou cerca de trinta personalidades políticas.
Na década de 1990, diversos de seus líderes foram capturados pelas autoridades, o que acabou reduzindo o grupo a cerca de 200 integrantes. Mesmo assim, em 1999, alguns atentados fizeram do grupo uma ameaça à estabilidade naquela região. Em resposta, autoridades da França e da Espanha uniram-se contra os terroristas do ETA. No ano de 2003, o poder judiciário espanhol decretou a ilegalidade do Partido Batasuna.
Em 2004, as novas eleições na Espanha e um grande atentado colocaram o ETA e a Questão Basca mais uma vez em evidência. Após a explosão de vários trens no dia 11 de março, o candidato conservador e então primeiro-mininstro José Maria Aznar responsabilizou o ETA pela autoria dos atentados. No entanto, logo em seguida, documentos comprovaram que as explosões eram de responsabilidade da Al Qaeda. Notando que Aznar utilizou dos atentados buscando promover sua candidatura, a população espanhola deu a vitória ao candidato socialista José Luís Zapatero.
Zapatero, que desde sua campanha se mostrou aberto ao diálogo com os bascos, tenta hoje amenizar a possibilidade de novos atos de terrorismo por meio da revitalização do ETA. Em 2006, o lideres do ETA anunciaram o fim da atuação terrorista do movimento. No início de 2007, o movimento voltou atrás e anunciou o fim do cessar fogo e o rompimento com o governo de Zapatero. Sem uma definição final ou a criação de um Estado Independente, a questão basca assinala um foco de tensão que, vez ou outra chama a atenção dos noticiários internacionais.
Por Rainer Sousa
Graduado em História