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Durante o final do século XVIII e durante a primeira metade do século XIX, principalmente, as duas principais cidades brasileiras, Rio de Janeiro e Salvador, ouviram em suas ruas talvez a primeira expressão de uma genuína música popular produzida no Brasil: a música dos barbeiros.
Profissão exercida por escravos de ganho ou por negros forros, o ofício de barbear e cortar cabelos era de rápida execução, garantindo tempo livre a esses trabalhadores. A função era também decorrente da divisão social do trabalho urbano que surgia nas duas cidades, importantes centros comerciais da colônia e do Império. Além do barbear e da música, os barbeiros eram ainda utilizados para a extração de dentes e para a aplicação de sanguessugas.
Os barbeiros, ou os ternos de barbeiros, utilizavam instrumentos de corda, sopro e percussão. Geralmente aprendiam com um mestre barbeiro a utilizar os instrumentos. Não havia também a utilização de partituras ou coisa do gênero, sendo que os africanos aprendiam “de ouvido” tanto a forma de tocar os instrumentos como a executar as músicas, evidenciando um autodidatismo na prática.
Os ternos de barbeiros foram ainda os grupos sociais que passaram a oferecer um serviço urbano que não tinha nessas cidades, a música destinada ao entretenimento público. As festas religiosas, as portas das igrejas onde se celebravam as missas e outras solenidades públicas eram os locais onde havia as apresentações dos barbeiros.
Loja de Barbeiros, de Jean-Baptiste Debret (1768-1848)
A forma de tocar era caracterizada pela espontaneidade e pela adequação das músicas compostas por outros ao próprio estilo de tocar dos barbeiros. Cronistas europeus que passaram pelas cidades apontaram em vários momentos a dissonância, falta de ritmo e o modo peculiar de tocar dos barbeiros. Os gêneros musicais tocados incluíam polcas, chulas populares e o lundu.
Na segunda metade do século XIX, a música de barbeiros foi perdendo espaço na cena urbana. No Rio de Janeiro, os ternos de barbeiros foram substituídos principalmente pelos grupos de choro que surgiram na cidade. Em Salvador, senhores de escravos passaram a criar bandas e orquestras com africanos que passariam a ocupar o espaço antes detido pelos barbeiros, mediante pagamento para as apresentações.
Com o fim da música de barbeiros encerrava-se a primeira forma de produção musical popular nas cidades brasileiras, surgindo outros grupos sociais que expressariam suas produções artísticas, com novas formas estéticas e novos conteúdos.
Por Tales Pinto
Graduado em História