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O pronome você nos conduz a uma relevante discussão acerca dos postulados gramaticais: seria ele pertencente à segunda ou à terceira pessoa do discurso? Mediante tal indagação, distinguiremos dois aspectos básicos: um diz respeito à pessoa do discurso e outro faz referência à pessoa gramatical.
As chamadas pessoas do discurso se definem pelo seu posicionamento frente ao ato comunicativo, ou seja: primeira, representando aquela que fala (eu/nós); segunda, representando aquela com quem se fala (tu/vós/você, o senhor); e a terceira, demarcada por aquela de quem se fala (ele/eles/ela/elas). Como percebeu (ou seria como percebeste?), o pronome “você” retrata uma das opções que a língua portuguesa oferece para designarmos a pessoa com quem estamos falando, portanto ele integra a chamada “segunda pessoa indireta”. Mas por quê?
Voltemos ao uso dos verbos “percebeu” e “percebeste”, destacados no parágrafo anterior. Eles nos conduzirão ao segundo aspecto de nossa discussão: as pessoas gramaticais. Elas, por sua vez, indicam qual flexão verbal usaremos, pois para cada pessoa existe uma forma verbal correspondente. Assim sendo, analisemos:
Tu percebeste – tal forma verbal se adequa à segunda pessoa gramatical, ou seja, “tu”. Diferentemente do que ocorre em:
Você percebeu – constatamos que mesmo em se tratando da segunda pessoa do discurso, a ela foi atribuída uma forma verbal pertencente à terceira pessoa gramatical – “percebeu”.
Dessa forma, se dissermos “você percebeu que seu tempo está contado”, isso se assemelha à mesma forma que se estivéssemos fazendo referência a um pronome de tratamento, ou seja, “Vossa Excelência percebeu que seu tempo está contado?”.
Eis aí a grande diferença que impera nesse relevante impasse linguístico!
Por Vânia Duarte
Graduada em Letras