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Procurando incrementar ainda mais essa discussão, torna-se viável recorrer a algumas considerações ora atribuídas ao pronome em referência (“vós”). Em se tratando das pessoas do discurso, ele representa a 2ª do plural (com quem se fala), ao lado do “tu”, o qual representa a forma singularizada. Partindo de tais princípios, pretende-se determinar se realmente o uso desse pronome é recorrente ou não.
Percebe-se que ambos os pronomes (tu e vós) se encontram cada vez mais extintos no linguajar dos brasileiros. No que se refere ao “tu”, há de se constatar que ele ainda se faz presente em algumas regiões do Sul e Norte do país, no entanto a predominância se dá mais com a forma “você”, sobretudo no tratamento informal. Já quanto ao uso do “vós” a constatação a que se chega é que seu uso ficou restrito à linguagem literária, aos dizeres da Bíblia e a alguns discursos extremamente formais.
Certifiquemo-nos, pois, de algumas considerações acerca do pronome em questão:
* O uso do pronome “vós” singular:
Mesmo pertencendo à categoria pluralizada, o “vós” pode ser usado fazendo referência a uma só pessoa, como podemos constatar em uma das criações de Castro Alves, intitulada A D. Joana:
SENHORA, eu vos dou versos, porque apanho
Das flores d'ahna um ramalhete agreste
E são versos a flora perfumada,
Que de meu seio a solidão reveste.
E vós que amais a parasita ardente,
Que abre como um suspiro em pleno maio,
E o aroma que anima o cálix rubro
— Talvez de uma alma perfumoso ensaio,
E esse vago tremer de níveas pétalas,
Que faz das flores meias borboletas,
O escarlate das malvas presumidas,
A modéstia infantil das violetas,
E essa linguagem transparente e meiga
Que a natureza fala nas campinas
Pelas vozes das brisas suspirosas,
Pela boca rosada das boninas ...
Hoje, na vossa festa, em vosso dia,
Em meio aos vossas íntimos amores...
Juntai aos ramalhetes estes versas,
Pois versas de afeição... também são flores!
* O uso do “vós” plural:
A título de ilustrar tal ocorrência, atenhamo-nos a uma criação parnasiana, sob a autoria do célebre Olavo Bilac:
Via Láctea
"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite, enquanto
A Via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e entender estrelas"
Por Vânia Duarte
Graduada em Letras