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O Brasil atravessou uma fase de desnacionalização e abertura de sua economia no início da década de 1990, comandados pelo então presidente Fernando Collor de Mello. Seus efeitos foram positivos para alguns setores, que se tornaram mais competitivos, mas nocivos para outros, devido à falta de credibilidade das instituições envolvidas nesse processo e pela maneira como foram conduzidas algumas políticas públicas, principalmente no que tange às privatizações. A falta de investimentos em pesquisa e desenvolvimento, essenciais para o desenvolvimento econômico de uma nação, também não foram privilegiados.
Em 1991, Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai assinaram o Tratado de Assunção, que fundou o bloco econômico Mercosul (Mercado Comum do Sul), para por fim a algumas barreiras alfandegárias e fomentar políticas econômicas entre os países membros. A criação do bloco representou mais uma etapa da abertura econômica brasileira, ainda que a integração permanecesse restrita aos países vizinhos e com os quais o Brasil já detinha muitos laços comerciais.
As transformações decorrentes das políticas do governo Collor introduziram no país algumas ideias neoliberais, que podem ser sintetizadas como sendouma redução da participação do Estado como regulador da economia e maior liberdade de atuação de empreendedores privados e do capital internacional. A curta passagem de Itamar Franco como presidente, após o impeachment de Collor em 1992, ficou caracterizada como uma preparação para o Plano Real, que culminou na eleição do sociólogo e professor Fernando Henrique Cardoso em 1994, um dos idealizadores desse projeto.
Na esfera ideológica, FHC, como ficou conhecido o ex-presidente, buscou uma política nitidamente sintonizada com as práticas neoliberais, acelerando o processo de privatizações e buscando descentralizar a administração em diversos segmentos da sociedade. A política de juros altos – o Brasil até os dias atuais pratica as maiores taxas de juros do mundo – foi fortalecida para impedir a desvalorização do Real e combater a inflação. Com os juros altos, o país poderia atrair uma maior quantidade de dólares para o mercado brasileiro. Com mais reservas em dólares, o dinheiro brasileiro ficava relativamente valorizado e o país também ganhava confiabilidade junto aos credores internacionais.
Infelizmente, nem todo investimento que chegou até o Brasil naquele momento foi produtivo, isto é, aquele que atravessa de alguma maneira uma cadeia econômica de produção, seja na indústria, na agricultura ou outro segmento qualquer. Muitos capitais que ingressaram no território brasileiro foram meramente especulativos: nada produziram senão rendimentos para banqueiros e investidores internacionais.
Ao final de seu segundo mandato no ano de 2002, Fernando Henrique não conseguiu expressar as suas políticas consolidadas em propostas concretas para o seu sucessor. Em resposta, a população brasileira elegeu Luís Inácio Lula da Silva, cuja eleição configurou um momento histórico para o país em razão do seu passado pobre e origem humilde. O ex-sindicalista Lula apostou no seu carisma e populismo para introduzir grandes projetos sociais (Fome Zero, Bolsa Família) e estruturais PAC (Programa de Aceleração do Crescimento Econômico). No plano político e em busca de uma maior governabilidade, Lula, do Partido dos Trabalhadores, buscou uma aliança com o PMDB, partido evidentemente voltado à elite agrária do Brasil.
Apesar de uma ideologia distinta do governo anterior e da retórica pautada em questões sociais, o governo de Lula ficou bastante marcado pela manutenção da estabilidade econômica e pelo aproveitamento de uma conjuntura internacional favorável ao crescimento dos países emergentes e à valorização de nossas commodities,produtos primários negociáveis em bolsas de valores. O país perpetuou a vocação agroexportadora com destaque para a soja e o minério de ferro, assim como o fortalecimento das companhias e corporações que atuam no setor primário. Durante o decorrer do seu segundo mandato, Lula conseguiu projetar o Brasil como uma potência regional e um dos mais importantes países emergentes. Em 2010, esse clima de euforia repercutiu na vitória dos governistas nas eleições presidenciais, levando a economista Dilma Rousseff à presidência da república.
Se considerarmos o período correspondente aos mandatos de Fernando Henrique e de Lula, o Brasil realmente definiu uma posição privilegiada no cenário político mundial. A estabilidade econômica iniciada pelo governo de Fernando Henrique, juntamente com as melhorias sociais e a maior credibilidade internacional conquistada pelo governo Lula, não encerraram as desigualdades existentes no país ou mesmo modernizaram plenamente a nossa estrutura produtiva, mas apontaram novos rumos para uma nação que esteve muito tempo atrelada apenas ao atraso econômico, corrupção crônica e ao endividamento externo.
Júlio César Lázaro da Silva
Colaborador Brasil Escola
Graduado em Geografia pela Universidade Estadual Paulista - UNESP
Mestre em Geografia Humana pela Universidade Estadual Paulista - UNESP