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Leste Europeu: Países que formaram a URSS – Parte II

Os acontecimentos que abriram espaço para movimentos contrários ao socialismo e à centralidade de Moscou, culminando no fim da URSS.

Em 25 de dezembro de 1991, a renúncia de Mikhail Gorbachev oficializou o fim da URSS.*
Em 25 de dezembro de 1991, a renúncia de Mikhail Gorbachev oficializou o fim da URSS.*
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Ao final de 1990, o presidente soviético Mikhail Gorbatchev foi laureado com o Prêmio Nobel da Paz, em razão de seus esforços para democratizar a URSS, pela aproximação diplomática com o Ocidente e por ter encerrado a Doutrina Brejnev, ainda em 1988, que determinava a repressão contra os países do Leste da Europa que não desejavam o socialismo como direcionamento político. O fim da Doutrina Brejnev acelerou o processo de abertura política na Europa Oriental, que teve como marco a queda do Muro de Berlim e a reunificação da Alemanha.

Após a queda do Muro de Berlim e as modificações políticas nos países do Leste Europeu, os movimentos contrários ao socialismo e à centralidade de Moscou começaram a aglomerar cada vez mais pessoas nas repúblicas que constituíram a URSS. Além de conquistar adeptos na sociedade civil, as ideias contrárias ao domínio soviético alcançaram a esfera política e militar, que passaram a exigir autonomia nas tomadas de decisão.

Desde 1988, Estônia, Letônia e Lituânia, conhecidas como “as repúblicas do Báltico”, devido a sua proximidade com o Mar Báltico, mostravam uma insatisfação muito maior do que as demais repúblicas. No ano seguinte, um protesto reuniu metade da população desses países, que formou um imenso cordão humano nas fronteiras entre os países, no dia 24 de agosto, enquanto o regime soviético comemorava o seu 50° aniversário. Após o evento, ficou nítido que a estratégia mais inacreditável frente a um império militar poderia funcionar muito mais do que qualquer outra: o papel da população para redemocratizar uma nação.

No dia 11 de março de 1990, o parlamento da Lituânia aprovou por unanimidade o Ato do Conselho Supremo para a Restauração da Independência da Lituânia, que foi aplicada no dia 22 daquele mesmo mês. A Estônia decretou sua independência no dia 30 de março e a Letônia no dia 4 de maio. Em resposta, foram aplicadas sanções econômicas aos países, que surtiram pouco efeito devido à vantagem geográfica que detinham (localizados próximos ao Mar Báltico), o que incrementou suas relações econômicas com o restante da Europa, em especial, os países do norte, Polônia e Alemanha. O domínio do Báltico também diminuía as rotas comerciais da Rússia. Tropas soviéticas se instalaram na região para intimidar a população e governos, mas naquele momento era inevitável que movimentos semelhantes se espalhassem pelas outras repúblicas.

Para a maior parte da população da URSS, as transformações políticas e econômicas em curso implementadas pelo presidente Mikhail Gorbatchev eram lentas. Os empregos não eram gerados, as rendas não estavam aumentando e alguns benefícios estatais estavam sendo retirados. No outro extremo, as lideranças do Partido Comunista e boa parte dos militares se opunham a mudanças drásticas no sistema vigente. Mesmo com a iminente crise interna, Gorbatchev alcançou uma importante vitória em sua política externa, com a assinatura no dia 31 de julho de 1991 do tratado START- I (Acordo de Redução de Armas Estratégicas) junto aos Estados Unidos, que acumulou esforços para por fim à corrida armamentista e reduzir o arsenal nuclear de ambos os países.

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Em agosto de 1991, o presidente soviético tentou oferecer um aumento de autonomia para as repúblicas, no intuito de ratificar o Tratado da União dos Estados Soberanos, aprovado em referendo pela maioria das repúblicas, mas considerado ilegal pelos comunistas radicais. Os altos integrantes da Nomenklatura, a elite do Partido Comunista, assim como parte do exército e da KGB (antiga agência de inteligência soviética) não aceitaram a medida de flexibilização política. Em resposta, esse grupo conservador organizou um golpe contra Mikhail Gorbatchev, que permaneceu por três dias sob prisão domiciliar na cidade litorânea de Foros, na Criméia, onde o presidente estava descansando.

Sem telefone e apenas com um antigo aparelho de rádio japonês para obter algum tipo de informação sobre o que estava acontecendo, Gorbatchev foi perdendo ainda mais o seu prestígio político e popularidade. Em poucos dias, o então presidente da República da Rússia, Boris Yeltsin, tornou-se o maior líder de um contragolpe, reunindo a população e uma parcela considerável do exército que não queriam o retorno de ideias retrógradas propostas pelos conservadores. Os golpistas recuaram, até porque nenhum membro da Nomenklatura estava disposto a enfrentar uma população enfurecida e contrária a um regime político aos moldes da Revolução Russa.

Com a derrota dos golpistas, Boris Yeltsin emergiu como o idealizador do processo de fragmentação da URSS e, pouco a pouco, as repúblicas que formavam o território soviético foram decretando seus processos de independência durante o segundo semestre de 1991, sem nenhum esboço de reação por parte de conservadores ou de Mikhail Gorbatchev, que acabou não conseguindo concluir seu planejamento para a transição econômica e política, além de ter entrado num processo de descrédito junto à população.

Pela iniciativa da Rússia, em 8 de dezembro de 1991, foi anunciada a criação da CEI (Comunidade dos Estados Independentes), ratificada em 21 de dezembro por 11 das  antigas repúblicas. A CEI pode ser considerada como uma proposta de acordo político-econômico, estabelecendo a organização das relações entre as ex-repúblicas (exceção feita aos países bálticos) e representando o fim da estrutura soviética de manutenção de poder. No dia 25 de dezembro de 1991, Mikhail Gorbachev finalmente renunciou ao cargo de presidente, oficializando o fim da URSS.

*Créditos da imagem: kojoku e Shutterstock


Júlio César Lázaro da Silva
Colaborador Brasil Escola
Graduado em Geografia pela Universidade Estadual Paulista - UNESP
Mestre em Geografia Humana pela Universidade Estadual Paulista - UNESP

Escritor do artigo
Escrito por: Júlio César Lázaro da Silva Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SILVA, Júlio César Lázaro da. "Leste Europeu: Países que formaram a URSS – Parte II"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/geografia/leste-europeu-paises-que-formaram-urss-parte-ii.htm. Acesso em 28 de março de 2024.

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