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Os problemas que enfrentamos em nosso cotidiano podem gerar em nós um grande sentimento de impotência. Afinal de contas, como poderia uma única pessoa agir para melhorar a infraestrutura de uma escola, melhorar o acesso de uma população carente ao saneamento básico ou então, sozinho, exigir que as grandes empresas tratem seus funcionários de forma justa? É exatamente por esse motivo que se formam as organizações populares. Elas são uma tentativa de um grupo, ou vários, de resolver esses e vários outros problemas por via da ação direta. O dia 3 de setembro foi a data escolhida para celebrar as ações de mudança que partem dessa forma de ação popular.
Entre as formas de organização popular, estão os diversos movimentos sociais que se formaram em busca de mudanças na sociedade. Essas organizações existem a partir de ações que nascem da “sociedade civil”, isto é, dos cidadãos, ou da esfera privada das sociedades, sendo formadas informal e espontaneamente ou constituídas legalmente e com representação institucional. Diante disso, a expressão “sociedade civil organizada” tornou-se a maneira usual de se referir a essas entidades e ao fenômeno que presenciamos hoje do aumento da participação dos cidadãos em assuntos que são corriqueiramente tratados como pertencentes à esfera pública.
A história do Brasil, assim como a de todos os países da América Latina, está recheada de acontecimentos importantíssimos que resultaram do embate, ora político, ora violento, travado por movimentos sociais que partiram justamente da ação de cidadãos. O regime militar que perdurou por 21 anos, entre os anos de 1964 e 1985, teve seu término graças à grande pressão que partia de organizações populares, que surgiam em resposta à barbaridade de crimes praticados por militares, como a tortura e o assassinato por motivação política ou arbitrária, e aos atos de cerceamento das liberdades individuais, como a censura e os toques de recolher que eram implantados.
Organizações como o movimento estudantil e aquelas de cunho trabalhista, como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), que surgiu nesse momento de repressão, foram responsáveis por grandes atos de protesto que atingiram fortemente a integridade do governo militar. A famosa greve do ABC paulista de 1980, em que cerca de 300 mil metalúrgicos paralisaram suas atividades por 41 dias, é prova da efetividade que as organizações populares podem ter. Seus efeitos culminaram no enfraquecimento do governo ditatorial militar, que caiu finalmente em 1985.
Os movimentos sociais oriundos das organizações populares são característicos de uma sociedade plural, que se constrói em torno do embate político por interesses coletivos ou individuais. Assim sendo, a organização de indivíduos por uma causa é uma característica de uma sociedade politicamente saudável. Aqueles que agem em busca de representação política atuam de modo a produzir pressão direta ou indireta no corpo político de um Estado.
Falando desse assunto pela vertente teórica, existem autores que identificam nos movimentos sociais e nas organizações populares duas formas distintas de manifestação popular. Para autores como Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber, os movimentos sociais são fenômenos racionais, nos quais os sujeitos aglomeram-se voluntariamente em torno de uma causa ou ideia comum para que haja mudança de paradigma ou defesa de um direto. Outros, como Le Bon, Tarde e Ortega y Gasset, enxergam na manifestação popular a irrupção da irracionalidade, uma espécie de rompimento da ordem estabelecida. Para todos esses autores, no entanto, os movimentos sociais possuem alguns pontos em comum: eles manifestam desejo de mudança de algum aspecto social e simbolizam a existência de uma tensão social a respeito de algum ponto do meio de convivência ou da condição vivida na sociedade.
Por Lucas Oliveira
Graduado em Sociologia