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Você conhece a Mafalda? Certamente, em algum momento de sua vida, você deve ter se encontrado com essa menina argentina muito esperta e cheia de opiniões. A tirinha do cartunista Quino circula em livros e jornais há quase cinquenta anos, e é sucesso entre antigos e novos fãs, marcando presença em diversos processos seletivos por todo o mundo. Quem nunca precisou interpretar em uma prova o pensamento vanguardista da menina? Sua presença cativa é sempre uma ótima oportunidade para refletirmos sobre a sociedade e seus costumes.
Mafalda nasceu das mãos de seu criador, Joaquín Salvador Lavado – o Quino –, com um objetivo específico: ilustrar a publicidade de uma marca de eletrodomésticos que acabou não sendo veiculada. O ano era 1962 e, por esse motivo, muitos confundem a verdadeira idade da menina, mas a primeira tirinha da personagem só foi publicada oficialmente no ano de 1964, mais precisamente no dia 29 de setembro. O cenário para as histórias de Quino são os bairros Montserrat – lugar que ganhou uma praça para homenagear Mafalda – e San Telmo, na capital argentina, Buenos Aires. Portanto, os cinquenta anos da pequena notável serão comemorados agora, em 2014, mas sempre é tempo para revisitar as tirinhas e celebrar sua existência.
Mafalda tornou-se um ícone dos anos 70, provocando discussões pertinentes, como as desigualdades sociais e o machismo
Quino fez sua estreia no ano de 1963 com a publicação do primeiro álbum chamado Mundo Quino. Mas o sucesso mesmo veio com Mafalda, que em 1965 passou a ser publicada diariamente no jornal Mundo, de Buenos Aires. Graças à menina com um laço de fita vermelho no cabelo, Quino foi alçado ao posto de um dos maiores humoristas gráficos do país. Mas o que faz de Mafalda uma personagem tão carismática e diferente no mundo dos quadrinhos? A menina, apesar de ter apenas seis anos, é absolutamente precoce e serviu como porta-voz de seu criador em tempos de uma implacável Ditadura Militar na Argentina. Ela tinha preocupações pouco comuns para as crianças de sua idade, enxergando a vida sob uma perspectiva peculiar ao abordar questões pertinentes através de uma linguagem ácida e extremamente irônica.
Em 1967, o sucesso das tirinhas da Mafalda já estava consolidado, o que permitiu sua sobrevida a despeito da falência do jornal Mundo, sendo posteriormente publicadas no semanário Siete Dias Ilustrados. Nove anos após a publicação inaugural, Quino decidiu não mais desenhar as histórias da personagem, visto que os quadrinhos precisavam ser entregues com certa antecedência para a publicação e, sendo assim, não poderia mais comentar assuntos do dia a dia, outra característica marcante do discurso de Mafalda. Quino preferiu aposentar a personagem, mas o público não fez o mesmo, elevando Mafalda ao posto de ícone de uma geração, um verdadeiro símbolo dos anos 70, tempos marcados por uma grande inquietação cultural e política. Apesar de já contar com cinquenta anos, algumas tirinhas são absolutamente atuais, denotando que, infelizmente, ainda precisamos avançar em muito para que Mafalda fique datada, perdendo assim um pouco do sentido que ainda faz. Temos certeza de que ela ficaria muito feliz em saber que seus argumentos tornaram-se ultrapassados. Por hora, continuam pertinentes e atemporais. Abaixo, selecionamos para você duas tirinhas que ilustram bem o pensamento da menina mais politizada da América Latina. Boa leitura e boa reflexão!
Porta-voz de seu criador, o cartunista Quino, Mafalda tratou de temas pertinentes em uma época obscura da história recente da Argentina
Apesar de seus cinquenta anos, Mafalda continua atual, refletindo com coerência problemas antigos de nossa sociedade
Por Luana Castro
Graduada em Letras