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Na Alta Idade Média, as atividades artesanais estiveram restritas às necessidades de um mesmo feudo. Geralmente, um artesão se fixava em uma propriedade oferecendo os seus serviços em troca da proteção e dos recursos disponíveis na propriedade feudal. Não raro, o artesão não dedicava todo o seu tempo disponível para as atividades artesanais estando também envolvido no trabalho com a terra. De fato, os portadores desse tipo de habilidade possuíam um raio de ação limitado.
Contudo, entre os séculos XI e XII, este panorama se modificou na medida em que as cidades e os contingentes populacionais da Europa cresceram significativamente. Podendo agora atender uma ampla gama de consumidores, esses artesãos passaram a se deslocar para o ambiente urbano onde tinham maior autonomia para organizar suas atividades. Progressivamente, o trabalho artesanal foi incorporando um significativo número de pessoas e se organizou de forma mais complexa.
Foi nesse contexto que surgiram as chamadas oficinas. Nela observamos artesãos desempenhando funções variadas e a presença de relações de trabalho diferentes daquelas observadas no interior das propriedades feudais. Sob a perspectiva de uma economia monetarizada, os funcionários de uma oficina costumavam receber um salário em troca de uma jornada de trabalho. Além disso, vemos que a oficina congregava a matéria-prima e as ferramentas necessárias à produção.
O dono de uma oficina era conhecido como o mestre-artesão. Ele possuía os contatos comerciais necessários para vender a produção, era proprietário das ferramentas e obtinha a matéria-prima a preços mais baixos. Na condição de dono da oficina, ele desfrutava da grande parte dos lucros obtidos com a venda de suas mercadorias finalizadas. Apesar de dono, muitos mestres também ocupavam o seu tempo participando do processo de fabricação.
Logo abaixo do mestre-artesão estavam os oficiais jornaleiros, também conhecidos como companheiros. Na qualidade de artesãos – e muitas vezes tendo um grau de parentesco próximo ao mestre, os oficiais executavam grande parte das tarefas ligadas ao processo produtivo. Em troca de seu serviço ganhavam um salário estipulado pelo mestre e que variava muito em função do desempenho comercial apresentado pela oficina.
Na última escala da hierarquia de uma oficina temos os aprendizes. Em geral, o aprendiz era um jovem que disponibilizava a sua ajuda aos artesãos enquanto tomava conhecimento das técnicas empregadas na produção de uma mercadoria. Em troca dos seus serviços, o aprendiz recebia moradia, alimentação e vestuário. Para ele, tal condição poderia ser vantajosa, pois, ao longo do tempo, poderia ascender socialmente, se transformando em artesão ou mestre.
Apesar de demonstrarem tal configuração, as oficinas medievais não podem ser simplesmente equiparadas ao ambiente fabril que se instala com a Revolução Industrial, no século XVIII. Dentro de uma gama de limites, podemos ver que as oficinas medievais foram uma primeira etapa do processo de complexificação da economia europeia que, séculos mais tarde, se configuraram sob a hegemonia das indústrias.
Por Rainer Sousa
Graduado em História