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Em sua origem, a República brasileira teve uma forte relação com o desenvolvimento das instituições militares do país. A vitória na Guerra do Paraguai foi evento decisivo para que os militares fossem reconhecidos e se reconhecessem como integrantes de um grupo vital para a ordem nacional. Não por acaso, foram os próprios que executaram o plano que derrubou a monarquia brasileira e criou o nosso regime vigente.
A partir de 1894, os civis encerraram a presença dos militares no cargo presidencial, dando fim à chamada “República da Espada”. Isso talvez marcasse uma visível desvalorização do grupo na época. Contudo, por volta de 1909, uma decisão do governo paulista acalorou o debate sobre o lugar dos militares na política. Nessa época, os representantes políticos de São Paulo decidiram criar um programa de aperfeiçoamento de suas forças policiais.
Mais do que uma simples ação de segurança, a medida serviria para que as oligarquias que controlavam o cenário político paulista não sofressem a retaliação de coronéis de outras localidades. Alguns dirigentes do Exército Brasileiro, em sua maioria alocada na cidade do Rio de Janeiro, acreditavam que a medida era descabida. Afinal, não seria muito coerente estabelecer um programa de treinamento para uma força local que fosse superior ao das próprias Forças Armadas.
Para comandar esse programa, as autoridades de São Paulo convocaram um célebre coronel francês chamado Paul Balagny. Com vasta experiência em campos de batalha na Tunísia, na Indochina e na Argélia, o militar estabeleceu uma formação voltada para o combate. Em certa medida, a escolha por esse tipo de filosofia agressiva e intimidadora refletia bem aqueles tempos. Nossa república estava longe de ser representativa e, por isso, as elites se cercavam de todos os instrumentos de poder.
Os soldados que compunham essa força tinham treinamentos físicos diários que incluíam exercícios de corrida, equitação, luta corporal, tiro e esgrima. Por conta do aprimoramento, uma Escola de Educação Física fora criada e várias técnicas desenvolvidas na Primeira Guerra Mundial foram repassadas aos integrantes daquela corporação. Em 1920, os paulistas também contavam com o serviço de pombo-correio e uma força aérea própria.
Apesar das melhorias, a presença dos oficiais franceses também foi alvo de algumas críticas. Alguns realizavam piadas jocosas dizendo que os militares de São Paulo acabariam contaminados pelo fino trato de seus instrutores europeus. Além disso, a relação entre os comandantes franceses e os soldados em treinamento era marcada por algumas situações de conflito e insubordinação. Apesar das melhoras, o chamado “exército paulista” foi remodelado após a Revolução de 1930.
Por Rainer Sousa
Graduado em História