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Em 1937, a Espanha esteve dividida em uma delicada guerra civil que colocou nacionalistas e republicanos no front. Os nacionalistas, de inspiração totalitária e comandados pelo militar conservador Francisco Franco, tiveram grandes dificuldades para derrubar o governo por meio das armas. Setores de esquerda e outros defensores da legalidade impediram que uma tentativa de golpe tomasse o país por meio da conquista da capital Madri.
Acuados, mas não vencidos, os nacionalistas decidiram reconfigurar sua estratégia de ataque por meio da conquista de locais menos protegidos do território hispânico. Dessa forma, acharam melhor iniciar suas novas campanhas militares com a organização de ataques à região norte do país. Com isso, a cidade de Guernica, núcleo urbano basco que concentrava seis mil habitantes e nenhuma proteção oficial, acabou escolhida para um dos mais temíveis ataques aéreos do século XX.
Historicamente, essa pequena cidade foi grande referência dos acontecimentos históricos e políticos que salientavam a diferenciação entre os bascos e os espanhóis. Em 1936, quando os conflitos da Guerra Civil Espanhola tomavam seus primeiros passos, o próprio governo espanhol decidiu oficializar a completa autonomia política dos bascos. Com isso, os nacionalistas passaram a considerar a região basca como um foco de traidores da causa capitaneada pelo general Franco.
Para concretizar a retaliação aos bascos, os nacionalistas contaram com o expresso apoio político e bélico dos nazi-fascistas. A aproximação desses líderes se deve aos ideais partilhados, e, especialmente, pelo interesse ítalo-alemão em testar a tecnologia bélica que seria utilizada nos vindouros conflitos da Segunda Guerra Mundial. De acordo com os registros, o ataque aéreo a Guernica teria sido planejado por Wolfram von Richthofen, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas alemãs.
A primeira ação aconteceu durante o sobrevoo do bombardeiro Dornier Do-17, popularmente conhecido como “lápis voador” em razão de suas dimensões estreitas. Em sua investida, essa aeronave lançou uma dúzia de bombas que atingiram a região central da cidade. Logo em seguida, um trio de Savoias-79 cruzou os céus de Guernica lançando mais trinta e seis bombas. Entre as 16 e 18 horas daquele mesmo dia, três aviões Heinkel-111 despejaram mais uma saraivada de explosivos.
Esse seria apenas o começo de uma terrível tragédia. Três esquadrões de Junkers-52 carregados com explosivos de até 250 quilos e bombas incendiárias realizaram uma ofensiva ainda pior. Outros caças menores realizavam voos de baixa altitude disparando suas metralhadoras contra a população civil. Nas três horas subsequentes, quarenta aeronaves participaram dessa terrível ação militar.
Inicialmente, estarrecidos pela brutalidade do evento, alguns jornais chegaram a divulgar um contingente de 1600 vítimas fatais. Contudo, pesquisas recentes revisionaram as estatísticas do conflito, e hoje trabalham com um número aproximado de 200 mortos. Evidentemente, a divulgação do episódio e a tela homônima do afamado pintor Pablo Picasso foram responsáveis pela popularização do incidente em Guernica, que durante a ditadura espanhola não podia ser relembrado por nenhum cidadão.
Por Rainer Sousa
Graduado em História