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Não é muito difícil se deparar com aquela roupaiada estendida pelos cantos do quarto.... com aquela sapataida embaixo da cama... com aquela papelaiada em cima da mesa. Sim, são situações cotidianas as quais não necessariamente demonstram que você é um (a) desordeiro (a), mas que, às vezes, escapa, não é? Deixemos de lado certas noções conceituais e passemos para nosso objetivo principal: analisar as características linguísticas presentes nos coletivos ora mencionados.
Sim, coletivos, pois remetem, respectivamente, a uma porção de roupas, sapatos, papéis, enfim... Contudo, em se tratando dos conhecimentos linguísticos, tudo leva a crer que coletivo representa uma pluralidade de seres, mesmo fazendo referência a um somente, retratado no singular, como é o caso de cardume, penca, multidão, molho, entre outros. Os acima citados (papelaiada, roupaiada e sapataiada) parecem, ao menos por enquanto, não fazer parte de nenhum grupo. Mas é aí que reside o ponto central da discussão: fazendo parte da oralidade, eles são expressos aleatoriamente, fato que faz com que o emissor nem se dê conta da sua verdadeira significação. Por isso são ditos coletivos da informalidade, haja vista que não se encontram registrados formalmente, como tantas outras escolhas lexicais que temos ao nosso inteiro dispor.
Em se tratando deles, Maria Helena Moura Neves, em um artigo referente à gramática (Gramática de Usos do Português), ressalta que tais empregos, como é o caso dos acima citados, bem como “coisarada”, “livraiada” e “louçaiada”, definem-se como coletivos típicos da língua falada, proferidos sem a conscientização dos próprios falantes que, a despeito de revelarem uma espécie de “fúria” linguística, haja vista que expressam uma nítida indignação por parte deles (dos emissores), nem se dão conta de que a intenção, vista sob o prisma linguístico, é a de revelar uma porção de elementos – daí a noção de coletividade.
Mas, afinal, por que uma fúria linguística? Ainda que se mostre como apenas uma dedução, o fato é que mesmo gostando de livros, sapatos, entre outras “coisas”, o fato é que, ao proferi-los, sobretudo no feminino (“-aiada”), eles podem representar uma porção de elementos, sem dúvida alguma, mas dispostos de forma desordenada, concorda?
Logo, podemos considerá-los como sendo coletivos invisíveis, haja vista que mesmo fazendo parte do cotidiano linguístico de muitos interlocutores, como dito, são expressos de forma aleatória, abnegados da significação que lhes é própria.
Por Vânia Duarte
Graduada em Letras