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No século XIX, a China foi alvo de um processo de dominação sofrida como um desdobramento das ações imperialistas das potências capitalistas da época. Além de ferir a integridade política e econômica da China, a ação imperialista no país teve outras importantes consequências. Principalmente a partir da segunda metade do XIX, o governo chinês buscou formas de remodelar suas instituições por meio do domínio de saberes oriundos do mundo ocidental.
Nesse contexto, diversos militares chineses foram enviados para o Ocidente com o objetivo de dominar conhecimento capaz de fortalecer a autoridade imperial chinesa. No entanto, os militares influenciados por essa troca de saberes, acabaram incentivando um movimento reformista ávido por transformações mais profundas. Nesse mesmo período, a derrota na Guerra Sino-Japonesa (1895) e as penas impostas pelo Tratado de Shimonoseki intensificaram o sentimento por reformas no interior do império chinês.
A questão reformista era tão urgente que dentro do próprio império havia um diálogo aberto a mudanças. No entanto, as diretrizes dessa mudança propiciaram uma divisão política no interior do Estado chinês. De um lado, um grupo de reformistas do norte apoiava a ascensão da imperatriz Cixi. Outro grupo, liderado por K'ang Yu-wei, privilegiava reformas mais radicais a serem instituídas pelo imperador Guangxu, sobrinho de Cixi.
Tentado levar vantagem sobre essa disputa, Guangxu resolveu empreender um conjunto de reformas na China. Em junho de 1898, o imperador liberou o acesso da população chinesa às obras estrangeiras. Sob a liderança de K’ang, reformista que apoiava Guangxu, um conjunto de reformas que modernizariam a educação, a economia e os quadros militares do país foi implementado. Em um curto espaço de tempo, exatos 103 dias, todas essas mudanças foram empreendidas.
A organização política do país foi simplificada com o objetivo de acabar com os privilégios e combater as práticas corruptas no interior do império. Os currículos educacionais foram adaptados sob a inspiração dos padrões de ensino ocidentais. A economia ganhava contornos liberais com a implementação de um plano focado no desenvolvimento de diferentes áreas econômicas. Até mesmo as leis foram modificadas sob o molde dos princípios jurídicos liberais.
O conjunto de reformas não surtiu o efeito esperado. As tradições, os problemas e a forte oposição ao movimento impediram a consolidação de suas propostas. Além disso, os aliados da imperatriz Cixi organizaram uma violenta reação militar contra os reformadores. Mesmo refreando as transformações, o poder imperial chinês não poderia vetar a disseminação de movimentos nacionalistas e liberais. No ano de 1901, a Revolta dos Boxers reavivou a busca por transformações.
Somente dez anos depois, a situação da China mudou radicalmente. A Revolução de 1911 deu fim ao poder imperial chinês. A partir de então, ações de natureza liberal transformaram a China em uma república.
Por Rainer Sousa
Graduado em História